O comando do futebol argentino está em crise e não tem data para acabar. Há uma guerra política com intervenção direta do presidente do país, Maurício Macri, na Associação de Futebol Argentino (AFA), impedindo a realização das eleições da entidade programadas para 30 de junho.
Alegando irregularidades administrativas na AFA, Macri acionou a Inspeção Geral de Justiça (IGJ) e conseguiu suspender as eleições na entidade por 90 dias. Mais que isso, encarregou uma missão, com um advogado e uma contadora, para controlar e organizar a AFA nos próximos três meses.
Luis Segura, atual presidente da entidade, não aceitou a intervenção e, por meio de comunicado oficial, garantiu que as eleições seriam realizadas no dia 30 de junho com a participação de cinco candidatos. Entre eles está o favorito Hugo Moyano, atual presidente do tradicional Independiente.
Moyano fez carreira no sindicalismo e é nome forte na política argentina. Assumiu o poderoso sindicato dos caminhoneiros, participou da criação de partidos políticos e tem sido oposição a Macri, eleito presidente da Argentina em novembro de 2015.
Para quem não sabe, Macri (foto) é forte também no futebol. Entre 1995 e 2007 foi presidente do Boca Juniors, o clube mais popular da Argentina. Consta que tem estreita ligação com La Doce, a maior e mais violenta torcida organizada do Boca e poderoso braço de políticos.
Nos bastidores da crise, Macri não aceitaria Moyano na presidência da AFA. E também não parece disposto a concordar com a criação da Superliga de Clubes, capitaneada pelo presidente do Racing e já com adesão de cinco grandes clubes argentinos.
O impasse e a crise não têm prazo para acabar. Macri teria consultado Gianni Infantino, novo presidente da Fifa, sobre se seria legal a intervenção do governo argentino na AFA. A Fifa, como se sabe, costuma excluir confederações nacionais que se sujeitam à intervenção política fora do futebol. Infantino teria dado aval ao ato de Macri, daí a intervenção.
Seja qual for a solução para o imbróglio, a Argentina, do craque Lionel Messi, não corre risco, por enquanto, de ser impedida pela Fifa e Conmebol de disputar a Copa América Centenário nos Estados Unidos. E muito menos o Boca Juniors ser retirado das semifinais desta Copa Libertadores.
O futebol na Argentina sempre teve implicações políticas, ainda mais quando dirigentes ligados a clubes e torcidas organizadas ascenderam ao poder a partir das décadas de 1980 e 1990.
Por aqui, as intervenções do governo no comando da CBF não acontecem. A entidade que dirige o futebol brasileiro não tinha muitos políticos dentro de sua organização interna até a chegada ao poder de Marco Polo Del Nero em 2015, embora tenha sido contaminada por parlamentares e governantes ao longo das últimas décadas.
A CBF tem salvo-conduto para tocar a bola ao seu jeito e com a promíscua cumplicidade e parceria dos políticos de plantão. O futebol na sua essência é apenas um detalhe nos intestinos da CBF.