CBF se omite e Palmeiras é castigado pela Conmebol na Copa Libertadores

CBF não defendeu o Palmeiras no Comitê Disciplinar da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e o clube paulista sofreu uma punição mais pesada que o Peñarol nos incidentes da batalha campal em Montevidéu. A sentença determina que o Palmeiras não poderá contar com seus torcedores em três jogos como visitante (oitavas de final, quartas e semifinal) na Copa Libertadores e ainda deve pagar uma multa de US$ 80 mil. Dono do estádio e acusado de promover uma emboscada contra o time brasileiro, o Peñarol foi punido apenas com uma partida com portões fechados e multa de US$ 150 mil.

De acordo com essa decisão do Comitê Disciplinar, o Palmeiras saiu perdendo em relação ao clube uruguaio. Outra derrota: Felipe Melo, um dos envolvidos na confusão, pegou um gancho de seis jogos de suspensão e multa de US$ 10 mil. Lucas Hernández, Nahitan Nández e Matías Mier, jogadores do Peñarol flagrados nas agressões, foram suspensos por cinco jogos.

A reação do Palmeiras, diante da omissão da CBF, foi emitir uma nota oficial de repúdio à punição determinada pelo Comitê Disciplinar da Conmebol. “Beira o escárnio”, diz a nota (leia íntegra do comunicado abaixo no post).

Evidente a derrota do Palmeiras no julgamento e a falta de força da CBF nos bastidores da Conmebol.

Desde o início do processo, o clube paulista recorreu ao presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, no encaminhamento de sua defesa na Conmebol, que, por sua vez, levou a defesa à CBF.

Palmeiras nada mais fez do que seguir o caminho protocolar. O problema é que a CBF está enfraquecida na Conmebol, a ponto de seu representante na confederação ser nada mais nada menos que Reinaldo Carneiro Bastos, o presidente da FPF, a pedido de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF.

Del Nero, como medo de ser preso, não arreda pé do Brasil. Não participa de nenhum congresso ou reunião da Conmebol. E sempre é representado por Reinaldo Bastos.

Teme que possa ser detido como foram os últimos três presidentes da confederação, os senhores Nicolás Leoz, Juan Ángel Napout, e Eugenio Figueredo, extraditado em maio de 2015 para os EU, todos detidos por escândalos de corrupção.

A única influência visível de Del Nero na Conmebol foi emplacar o ex-árbitro paulista Wilson Seneme no comando da Comissão de Arbitragem. Seneme era do quadro de árbitros da FPF e subordinado de Del Nero há mais dez anos.

“Eu sei que meus árbitros são honestos”, disse Del Nero, ao comentar a nomeação de Seneme na Conmebol.

O presidente da CBF, mesmo à distância, apoia a gestão de Alejandro Domínguez, eleito presidente da Conmebol, que assumiu o cargo após a prisão de Juan Ángel Napout no ano passado.

“Hoje estamos vendo uma Conmebol diferente. A cada dia que passa está melhor”, disse o presidente da CBF, bem antes de o Palmeiras sofrer a dura derrota nos tribunais depois da batalha no estádio do Peñarol.

Sem ação efetiva da CBF, o Palmeiras ficou órfão na sua defesa na Conmebol, o que provocou forte indignação no clube paulista. O presidente Mauricio Galiotte disse que vai recorrer contra a punição e considerou um absurdo o tratamento dado aos dois clubes no julgamento.

Para não ficar mal com o Palmeiras, Marco Polo Del Nero convidou Galiotte para chefiar a delegação da Seleção Brasileira nos amistosos com Austrália e Argentina, em Melbourne, em junho. E Galiotte aceitou.

Veja a nota oficial do Palmeiras contra a punição da Conmebol:

Tendo em vista a definição e divulgação dos julgamentos da Conmebol sobre os incidentes relacionados à partida contra o Peñarol, a Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público esclarecer que:

1 – O sentimento é de total indignação e revolta com a falta de critério adotada pela Conmebol em relação às punições aplicadas para os dois clubes e seus atletas.

2 – Beira o escárnio o entendimento que o Peñarol, clube responsável pela segurança da partida e que não cumpriu com sua função, receba uma pena menor do que a do Palmeiras, cujo time e torcida foram vítimas de uma clara e evidente emboscada, além de outros crimes. Vale lembrar que, a despeito do clima tenso, a segurança feita no Allianz Parque por quase 600 profissionais foi capaz de zerar qualquer tipo de incidente no jogo de ida contra o Peñarol, ao contrário dos ínfimos e despreparados 60 seguranças particulares contratados pelo clube uruguaio para o jogo de volta.

3 – O Comitê Disciplinar da Conmebol, de maneira míope, preferiu apontar sua avaliação baseada nas consequências e não nas causas dos acontecimentos.

4 – O Palmeiras reitera o que tem afirmado desde o primeiro momento ainda no estádio em Montevidéu: o clube e seus jogadores são vítimas e não causadores dos incidentes após a partida. Provamos para a Conmebol, através de um vasto conjunto de vídeos, fotos e depoimentos, o que realmente aconteceu naquele jogo. Pelo resultado do julgamento, parece que critérios técnicos não foram levados em consideração, o que é completamente inadmissível e incoerente. É inaceitável que um atleta do Palmeiras seja punido por ter se defendido de uma tentativa clara de agressão e que sua torcida, que foi claramente acuada, agredida e alvo de manifestações racistas, seja impedida de acompanhar o time na competição.

5 – O Departamento Jurídico do Palmeiras está preparando recursos contestando as punições aplicadas ao jogador Felipe Melo e ao clube e os apresentará à Conmebol no início da própria semana.

6 – A Sociedade Esportiva Palmeiras vai buscar fazer justiça. O clube não admite outro posicionamento do Comitê Disciplinar da Conmebol que não seja a revisão de sua decisão e o julgamento do assunto levando em consideração apenas critérios técnicos.

Poder na Conmebol

Alejandro Domínguez Wilson-Smith, natural de Assunção, Paraguai, é economista formado na Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, em 1995. Começou no futebol como membro da diretoria do Olimpia em 1995. Em 2007, virou vice-presidente da Confederação Paraguaia de Futebol até assumir a presidência em agosto de 2014. E se elegeu presidente da Conmebol em 2016, com a prisão de Juan Napout.

No Paraguai, Domínguez não é unanimidade. Um dos maiores ídolos do futebol paraguaio, o ex-goleiro José Luis Chilavert, faz duras críticas ao presidente da Conmebol.

“Domínguez não pode ser presidente, ele devastou o futebol paraguaio. É incompetente para exercer suas funções. Há pessoas capazes, honestas. Os que o apoiam são os que têm lucrado sempre. Não se pode mudar o futebol com estes dirigentes nefastos. Domínguez é um paraquedista que não sabe nada, é cúmplice de Napout e é preciso investigá-lo. Trata-se da nova cara da corrupção. Seguem matando o futebol”, disse Chilavert.

Influência de Brasil e Argentina

Entre os presidentes da Conmebol, o paraguaio Nicolás Leoz foi o mais longevo dirigente. Comandou a entidade por 27 anos, entre 1986 e 2013, período em que cumpria as ordens de Julio Grondona, presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA) e Ricardo Teixeira, presidente da CBF (de 1989 a 2012).

Veja os dirigentes da história da Conmebol:

Héctor Rivadavia Gómez (Uruguai) — 1916 a 1926

Luis Salesi (Argentina) — 1926 a 1939

Luis Valenzuela (Chile) — 1939 a 1955

Carlos Dittborn (Chile) — 1955 a 1957

José Ramos de Freitas (Brasil) — 1957 a 1959

Fermín Sorhueta (Uruguai) — 1959 a 1961

Raúl Colombo (Argentina) — 1961 a 1966

Teófilo Salinas (Peru) — 1966 a 1986

Nicolás Leoz (Paraguai) — 1986 a 2013

Eugenio Figueredo (Uruguai) — 2013 a 2014

Juan Ángel Napout (Paraguai) — 2014 a 2015

Wilmar Valdez (Uruguai) — 2015 a 2016

(texto publicado no CHUTEIRA FC – leia mais notícias e opinião de futebol)