Na véspera de enfrentar o Paraguai na Arena Corinthians, jogo para emendar mais alguns recordes no seu cartel na Seleção Brasileira, Neymar ganhou novas manchetes mundo afora. Seu nome apareceu em terceiro lugar na lista dos jogadores mais bem pagos do mundo. Um faturamento estimado em R$ 189 milhões por ano. Atrás de Messi, segundo colocado, com R$ 260 milhões, e de Cristiano Ronaldo, primeiro do ranking, R$ 298 milhões. Seria mais um motivo para se manter calado. Há 244 dias o craque não dava entrevistas, em especial nos dias a serviço da Seleção. E desde março de 2016 não usava a tarja de capitão do Brasil. Nesta segunda-feira (27/3), Neymar resolveu falar. E foi sincero.
“Essa é uma coisa (ser melhor do mundo) que não me sinto confortável para falar, nem gosto. São dois grandes jogadores (Cristiano Ronaldo e Messi), craques que estão há dez anos mantendo um nível gigantesco. Caras que eu admiro, e um (Messi) que tenho ao meu lado todos os dias, é o melhor com quem já joguei. Só quero ser melhor todos os dias, me superar a cada dia, não ser melhor que ninguém”, disse o craque, durante a entrevista coletiva nos subterrâneos da Arena Corinthians. Queriam saber como encarava a concorrência de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi e mais ainda como reagiu ao voltar a ser o capitão da Seleção depois de um ano.
“Há um tempo atrás, Tite já tinha conversado comigo, e me fez pensar. Meu modo de agir, de trabalhar e de viver na seleção. O rodízio (de capitão) que o professor faz não me deixa ser o melhor nisso ou naquilo. O capitão usa a braçadeira, representa a Seleção, mas dá para ser sem ela também, dar uma dura na marcação. É o modo de agir, de pensar, melhorar as coisas. Venho melhorando em tudo. Voltei a ser capitão por ele (Tite), fiz um sacrifício por tudo que ele tem feito por nós.”
Tite confirmou a conversa e disse que Neymar merecia ser o capitão, não só pela liderança técnica, mas também por tudo que o jogador representa. Bem diferente dos tempos de Dunga, quando o craque era o centro do universo do selecionado, o jogador agora se sente menos pressionado.

“Sempre falei que nunca existiu Neymardependência, é Seleção Brasileira. Nossa equipe, na minha opinião, se estiver focada é a melhor. Sabemos disso, temos humildade de reconhecer os adversários, temos de jogar. Às vezes não encaixava uma peça ou outra, o professor chegou e nos ajustou, passamos a jogar futebol. Não mudou tantos jogadores, só o jeito de jogar. Todos aparecem.”
Em regime de concentração imposto por Tite, Neymar não apareceu em confraternizações noturnas – pelo menos as telas do Instagram não registraram nenhum flagrante do ídolo – nesses dias da Seleção em São Paulo.
Nos poucos treinos abertos às imagens da mídia, uma concessão com ressalvas da comissão técnica, o craque não fez valer seu estrelato. Nem brincou com a bola em firulas costumeiras. Trabalhou com a seriedade de um coadjuvante. Um jeito bem diferente de outros momentos da Seleção quando era o sol. Desde a chegada de Tite, o craque tem sido mais recatado.
Mesmo muito perto de emplacar números fabulosos com a Seleção, Neymar já havia optado pelo silêncio diante da imprensa nacional e internacional. O peso de vestir a camisa 10 amarela, porém, não o incomoda. Contra o Paraguai tem a chance de cravar outra marca: fazer gols em todos os adversários do Brasil nas Eliminatórias Sul-Americanas. Falta apenas carimbar os paraguaios. Com 51 gols, está a cinco de igualar o feito de Romário e ficar na quarta colocação entre goleadores do escrete. Pelé lidera com 95 gols. Ronaldo é o segundo, 67. Zico, terceiro, com 66.
Números que Neymar deve derrubar em breve. Ele tem apenas 25 anos e com pelo menos duas Copas do Mundo a jogar. Até por isso, seu silêncio era constrangedor. Veja o depoimento dele na coletiva:
“Eu preferi não falar porque tudo o que eu falava muitas pessoas levavam para o lado negativo, acabava machucando a mim, minha família e meus companheiros. Decidi baixar a poeira e só jogar futebol. Quando a gente sai para falar alguma coisa, podem levar para o lado errado, não da maneira como a gente quer ou pensa. Isso acaba me deixando triste. Além de ídolos, somos seres humanos. Tem o lado humano, ficamos chateados, tristes, mas isso já passou, estou aqui falando”, disse.
A gente recebe muitos conselhos durante a carreira, mas aprende de verdade quando se machuca ou faz a coisa errada. Eu já passei por muita coisa, tentei discutir em momentos em que não era necessário, levei amarelo, vermelho, prejudiquei companheiros. Mas com o tempo você fica mais maduro. Hoje só penso em ajudar meus companheiros, fico mais centrado em campo, me preocupo com o que o professor passa, deixo de lado as provocações, as pancadas… Quando o jogador brasileiro está focado, é difícil parar.
Estou ficando cada vez mais velho. Ele nos ajudou em todos os aspectos, de todas as formas dentro da Seleção, em campo principalmente. A gente fica feliz quando as coisas vêm dando certo, o time joga bem, faz apresentações que agrada a todo o povo brasileiros, aos nossos familiares e a nós, que treinamos sempre para fazer a melhor apresentação possível. Ficamos felizes de as coisas estarem dando certo. O professor Tite encaixou muito bem com a Seleção. Temos que seguir assim, com os pés no chão, jogando futebol e sendo felizes.
A mudança foi grande, passamos a ter confiança para buscar nosso jogo, nossa identidade. A Seleção Brasileira não importa como ela esteja, sempre será uma das principais seleções. Sabemos como é carregar essa camisa e que temos que trabalhar para isso, não adianta ficar só na fala, a camisa não joga sozinha, é preciso demonstrar em campo. A gente vem treinando forte, jogando bem e espera fazer uma grande partida contra o Paraguai também”.