Tite já pode arrumar sua mala para embarcar com destino a Moscou em 2018. A goleada por 4 a 1 em cima do Uruguai no estádio Centenário mostra o tamanho da autoridade da Seleção Brasileira reconstruída por Tite. Todos alicerces se edificaram nesse jogo em Montevidéu. Paulinho, resgatado pelo treinador quando estava abandonado desde 2014, deu o acabamento final com três gols. Neymar completou a conta no sétimo triunfo consecutivo do Brasil nas Eliminatórias desde que a CBF teve a feliz ideia de trocar o comando com a saída de Dunga.
Como vencer sempre eleva o nome dos artífices, Tite faz história ao emendar sete jogos com sete vitórias, superando números de João Saldanha, um dos ícones do futebol brasileiro, em campanhas de Eliminatórias. Mais que bater recordes, o treinador não tem mais que falar em construção da Seleção nem na dele como técnico do time do Brasil. A casa está erguida.
O técnico sonhava com tudo isso, mas não imaginava que fosse possível chegar a esse estágio em Montevidéu. O início de jogo não poderia ser mais eletrizante do que se mostrou. Menos de cinco minutos e Firmino perde gol feito. O lance começou com arrancada exemplar de Neymar, passou pelo cruzamento de Coutinho até Firmino, desatento, não devorar a migalha da furada de Coates. O gol seria um antídoto contra a pressão uruguaia e a imensidão do velho Centenário.
Firmino vacilou e o troco veio a cavalo. Marcelo colabora. Ao atrasar a bola com o peito, ofereceu a Cavani a oportunidade de sofrer pênalti do goleiro Alisson. Dito e feito. O goleiro brasileiro derrubou o artilheiro das Eliminatórias. Ele mesmo bateu e converteu – era o seu nono gols nas seletivas Sul-Americanas para 2018.
Gol para sustentar a hierarquia logo aos 9 minutos de jogo. Era o sexto gol dos uruguaios no primeiro tempo em sete partidas em casa. Cavani imperdoável, implacável.
Diante da desvantagem e com 50 mil torcedores contra, o Brasil teria de voltar à pulsação normal. Mesmo fiel à posse de bola, troca de passes e triangulações da cartilha de Tite, a Seleção precisava de algo diferente para não deixar o Uruguai estender o manto de sua superioridade e engolir o Brasil. Então surgiu Neymar. Sempre ele.
Saiu em diagonal da esquerda para o meio, chamou Paulinho e o serviu. O ex-jogador do Corinthians, sem ser assediado,deu dois toques, arrumou a bola e bateu duro para empatar o jogo, aos 18. Diminuía a fervura dos uruguaios e transferia pressão aos donos da casa.
O empate devolveu à Seleção o jogo confortável. Não havia mais necessidade de correria, nem mesmo se deixar sufocar pela onda celeste e, de preferência, evitar as faltas nas laterais, ponto alto do jogo do Uruguai. Era tempo de Casemiro se ajeitar mais na proteção da zaga e no entendimento com Paulinho e Renato Augusto. Esses três pilares de sustentação do time de Tite estavam desajustados e se reencontraram.
Coutinho, bem mais que Firmino, continuou aceso. Neymar, nem precisa falar, tinha a sabedoria para fazer o jogo girar em sua órbita. Dessa vez, sem se irritar, sem rodeios e lances de puro exibicionismo. O Brasil caminhou com ele e fechou bem o primeiro tempo.
No início da segunda metade do jogo, o Uruguai não teve tempo para reagir. Com sete minutos, o Brasil virou com Paulinho. Aproveitando o espaço não ocupado por Daniel Alves, corretamente mais preso na defesa, Paulinho estava ali perto da grande área quando Firmino girou, bateu e o fraco goleiro Martin Silva espalmou. O ex-volante do Corinthians aproveitou o vacilo do goleiro e emendou para o gol: 2 a 1.
O gol sofrido despertou os uruguaios. Havia necessidade de ser duro, impor sofrimento ao adversário, trazer a multidão de 50 mil celestes a empurrar o time. Tirar o Brasil do conforto. Por 20 minutos eles encostaram a Seleção na parede com um bombardeio na área de Alisson. Marcelo levou cartão amarelo, depois foi a vez de Daniel Alves. Um castigo atrás do outro.
Esquecido num canto do campo, os uruguaios não prestaram atenção em Neymar. Secos de sede foram com tudo para cima em busca do empate. De uma investida pesada dos donos da casa, Miranda rebateu com um chutão lá da defesa. A bola atravessou o campo e caiu mansa nos pés de Neymar. O craque se livrou no corpo de Godin e Coates e, com toque de classe, encobriu o goleiro Martin Silva: 3 a 1, aos 31.
Acabava a supremacia do Uruguai em sua fortaleza impregnada de história. A Seleção se juntou mais dentro da área de Alisson com ordem expressa de praticar o jogo anti-aéreo e fulminar nos contra-ataques. Funcionou. Apagou o fogo, esfriou a torcida e impôs um silêncio profundo e incomum ao Centenário. E ainda beliscou o quarto gol. Paulinho, de novo, com um lance de peito em cruzamento de Daniel Alves.
O Brasil, mesmo sem a conta fechada dos pontos necessários à classificação, já está na Rússia. Tite também não tem mais de falar em construção da Seleção. A casa está erguida. Falta apenas o acabamento. Tite tem tempo de sobra para pensar na decoração.