Craque Alex detona gestão da CBF, clubes e cobra engajamento dos jogadores

Alex parou de jogar há pouco mais de um ano ao encerrar a carreira no Coritiba, clube onde cresceu. Sempre teve posições claras a respeito do universo do futebol, dentro e fora de campo. É um inquieto por natureza. Uma cabeça pensante rara de se encontrar no seu meio. Aos 40 anos, continua crítico feroz do comportamento e métodos dos que comandam as instituições do futebol brasileiro, da falta de envolvimento dos jogadores em busca de mudanças na condução do esporte.

Apaixonado pelo mundo da bola, prefere ver Cascavel x Coritiba a um Manchester United x Chelsea. Colunista do Chuteira FC, Alex diz que “enquanto o Brasil não discutir ideias e apenas pensar em nomes, não vai sair do lugar”.  Confira a entrevista exclusiva do craque:

Qual análise que você faz do futebol brasileiro?

Não vejo um caminho bom para o nosso futebol a curto prazo. Quando você observa aquela manobra que a CBF fez, agora em março, tirando poder dos clubes, para quem está no poder se perpetue por mais dez anos ou mais, acaba concluindo que diminuem muito as perspectivas de mudança. Mostra em que estágio estamos. Isso se reflete de um jeito ou de outro no torcedor, na paixão pelo futebol. Não podemos aceitar, por exemplo, que o Flamengo jogue para apenas 5 mil pessoas no estádio. Eu, como um cara que vive o futebol, não posso admitir. Não podemos dissociar o futebol do momento difícil que vive a nossa sociedade e você sabe como é falha a educação Brasil. O efeito no futebol é devastador.

A manobra a que você se refere foi a mudança dos estatutos da CBF que tirou o poder de voto dos clubes e deu mais peso aos votos das federações estaduais na eleição do presidente da entidade?

Sim. É isso. Escolheram o dia de Brasil x Uruguai (pelas Eliminatórias da Copa de 2018), quando todo o foco estava voltado no jogo, com o bom momento da Seleção que o Tite devolveu ao torcedores, para fazer aquela manobra. Um oportunismo absurdo. Escolheram o dia quando o foco era todo centrado na Seleção, clima de otimismo, até de euforia com o futebol. E a manobra foi feita com o conhecimento de alguns clubes. Por aí você vê como está a gestão do nosso futebol. Não vamos a lugar nenhum. Deveria ser bem diferente.

O que seria diferente neste cenário cheio de vícios e interesses escusos?

Quando sofremos aquele revés assustador na Copa (7 a 1 da Alemanha), esperávamos uma mudança de fora para dentro da CBF, um processo de discussão profundo do que fazer. Mas não aconteceu. Aí você pega a Seleção Brasileira, que é a locomotiva que puxa o nosso futebol, com o Tite devolvendo o prazer de ver o time jogar, sempre imaginando que algo de bom poderia sair desse movimento, e eles (CBF) pegam essa fase extraordinária da Seleção e colocam sua assinatura embaixo. Aproveitam o momento para se perpetuar. Me revolta. Com a Seleção jogando bem, parece que tudo vai bem no futebol brasileiro. E não é assim. Parece que vivemos as mil maravilhas, quando na verdade vivemos igual ou pior do que antes. Entendo que muito pior. A Seleção é a locomotiva e poderia provocar as mudanças, mas o trem que vem atrás dela passa por muitas dificuldades. Isso é notório.

«Quando sofremos aquele revés assustador na Copa (7a 1), esperávamos uma mudança profunda, a começar dentro da CBF. Não aconteceu nada»

Cada vez mais a CBF, o poder do futebol, tira proveito da Seleção e acaba encobrindo suas mazelas. É isso?

A CBF sabe cuidar da Seleção. Isso ela faz muito bem, temos de admitir. Pelo tempo que as pessoas estão lá dentro e com o número de escândalos em que se envolveram, ainda conseguem manter patrocinadores fortes. É uma demonstração do quanto sabem tirar proveito desse carimbo da CBF. E o restante do futebol não tem importância para eles. Os clubes, que poderiam ter maior participação nesse processo também, não se interessam. Pensam apenas no bem próprio e não no coletivo.

Nesse sentido, os clubes não deveriam ser os principais agentes da gestão do nosso futebol?

Presidentes de clubes deveriam sentar numa mesa e discutir qual é o melhor caminho a seguir. Pensar na igualdade, tratar todos com a mesma dimensão, dar peso igual a todos, e não insistir com essa ideia que prevalece hoje de que um é mais que o outro. Não dá para aceitar que clubes da mesma divisão tenham pesos diferentes, que um ganhe mais que outro na divisão de receitas comuns, como as da televisão. Insisto, enquanto pensarem apenas em si e não no coletivo, não vamos a lugar nenhum.

(Leia entrevista completa com ALEX, camisa 10 do Palmeiras, Coritiba e Cruzeiro)

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