Campeonatos estaduais se encerraram neste domingo com pelo menos três campeões emblemáticos. Começa com o Corinthians no Paulista, passa pela façanha do pequeno Novo Hamburgo no Gaúcho e chega na Chapecoense no Catarinense. Cada um com uma história diferente, mas conquistas de muito simbolismo. Fora desse cenário, Flamengo e Atlético-MG sustentaram a hierarquia no Rio e Minas. No fim de semana (13 e 14/5), começa o Brasileirão e a expectativa é que os estaduais não terão muita influência na maioria dos 20 times ao longo da competição até a primeira semana de dezembro.
No Paulistão, o Corinthians chegou à final depois de muita desconfiança. Vinha com um treinador novato, Fabio Carille, 43 anos, com carreira formada no trabalho de auxiliar de Tite e Mano Menezes. Entalado com questões políticas internas, sem dinheiro e com dívidas, foi o clube dos quatro grandes do estado o que investiu menos. Apostou no renascimento de Jô, revelado em casa e no ocaso de sua carreira ao se deixar levar pelos prazeres da noite. Gastou um pouco mais em Jadson, um expoente da conquista do Brasileirão de 2015, e nos abnegados de sempre. Jogou um futebol de segurança, sem correr riscos e levantou a taça paulista pela 28.ª vez – é o maior campeão paulista.
O impacto dessa conquista vem da coincidência de datas. Há 40 anos o Corinthians quebrava um longo tabu sem ser campeão de nada ao derrotar a mesma Ponte Preta na final de 1977. Por isso, ser campeão em cima do adversário daquele momento épico, no 100.º jogo na sua nova arena e com um time desacreditado, seria uma dádiva. Deu certo.
Esse título fortalece o grupo de jogadores, da mais lastro a Carille, acalma o clube, infla um pouco mais sua torcida, mas não serve de paradigma para o que o Corinthians pode apresentar no Brasileirão, um torneio de grandes exigências e sacrifícios. O Corinthians tem um time sólido e de poucas opções no banco, em especial no ataque. A conta pode vir alta.
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Em Santa Catarina, mais simbolismo com a conquista da Chapecoense, dizimada em dezembro com a queda do avião nas montanhas de Meddelín. Reconstruída em pouco mais de um mês, mesmo envolvida por um onda de dor sem fim, a equipe consegue seu primeiro título após a tragédia. O que vai fazer daqui para frente, é uma incógnita. No campeonato nacional vai ser aplaudida por onde passar. Não vai brigar pela taça. Deve ser campeã da dignidade.
Outra história impactante nos estaduais vem do Sul com o Novo Hamburgo, que desbancou duas forças. Eliminou o Grêmio nas semifinais e despachou o Internacional na final do Gaúchão. Com uma folha salarial de R$ 150 mil, sem jogadores consagrados, liderou o campeonato de ponta a ponta e bateu campeão pela primeira vez na sua história de mais de 100 anos de fundação. Conhecido por Noia, o clube quebra hegemonia da dupla GreNal. Desde 2000, quando o Caxias dirigido por Tite derrotou o Grêmio na decisão, um time do interior do Rio Grande Sul não era campeão. Novo Hamburgo é o 17.º vencedor diferente em 97 edições do Campeonato Gaúcho. Sua próxima missão é disputar a Série D (quarta divisão) do Campeonato Brasileiro e subir para a Série C.
Nos outros estaduais de mais peso, o Atlético-MG passou por cima do rival Cruzeiro ao ser campeão do Mineiro. Se fortalece para enfrentar a longa travessia na Copa Libertadores e Brasileirão, mas carrega algumas dúvidas. A base do time titular tem média de idade de 32 anos, um peso a mais nas duas competições que exigem um enorme esforço físico e de resistência. Quanto ao derrotado Cruzeiro, muitas dúvidas. Aclamado como um dos favoritos ao título nacional, já pediu água diante do seu maior adversário.
No Rio, Flamengo fez valer seu favoritismo. Foi o clube que mais investiu, mesmo com a boa campanha no Brasileiro de 2016. De longe é dono do maior orçamento entre seus adversários cariocas, dinheiro que já faz diferença. Ao se firmar como campeão estadual, deve entrar com a auto-estima lá em cima no campeonato nacional. O Fluminense não tem muito do que se queixar. Modesto, jogou suas fichas na juventude e vai com esse modelo em busca de um lugar entre os dez primeiros do Brasileirão.
Outra nota digna dos estaduais foi o comportamento de Atlético-PR e Coritiba no Paranaense, não apenas em campo, mas pelo mérito de desafiar a TV Globo na transmissão do torneio. Exibiram dois clássicos nas redes sociais YouTube e Facebook e atraíram milhares de admiradores fora do Paraná por essa iniciativa. O Coritiba levantou a taça e deixa ao seu torcedor a expectativa de disputar o Brasileirão sem o sofrimento das últimas edições quando brigou para não ser rebaixado à Série B.
A maior polêmica nos estaduais aconteceu no primeiro jogo da final do Pernambucano – a segunda partida será disputada daqui a 40 dias. No último minuto do jogo entre Sport e Salgueiro, o árbitro José Woshington consultou Péricles Bassols (árbitro Fifa), que estava numa unidade móvel com sete câmeras, para confirmar um pênalti a favor do Salgueiro. A consulta durou mais de cinco minutos, o pênalti foi confirmado. Jean Carlo bateu e fez o gol de empate (1 a 1). Foi a primeira vez que se usou o árbitro de vídeo em jogo oficial no futebol brasileiro. E já deu confusão. Ney Franco, técnico do Sport, criticou a decisão. Disse que não foi pênalti.