Tite, o conservador, vai ao paredão

Tite tem chance de resgatar alegria da Seleção – foto: Lucas Figueiredo/CBF

Tite não esconde sua insatisfação com os desmandos da CBF. A crise instalada com a Copa América no Brasil só faz aumentar a indisposição do treinador. Não será nenhuma surpresa se na terça-feira-feira (09/6) se manifestar contra a desordem da CBF e pedir o boné.

Tite se sente traído pelo presidente Rogerio Caboclo desde que a imprensa espanhola revelou em maio o desejo de a CBF contratar Xavi, ex-jogador do Barcelona e agora treinador no Catar, para atuar na comissão técnica da Seleção Brasileira.

Ao receber resposta negativa de Xavi, a CBF mirou em Muricy Ramalho, hoje coordenador de futebol do São Paulo. Muricy teria poder na comissão técnica de Tite. Evidente que seria a contra-gosto do técnico da Seleção. Por sorte, Muricy disse não à CBF com respaldo do São Paulo, que de pronto se negou a liberar seu dirigente.

A intenção do presidente Rogerio Caboclo de “reforçar” a brigada de Tite na Seleção obedece a uma estratégia política.

Caboclo se agarra a um fiapo de corda no comando da CBF, cria fatos novos em busca de respaldo entre os dirigentes que, por enquanto, o sustentam no poder. Por isso inventou Xavi e depois Muricy na Seleção.

O conservador

Neste cenário de incertezas, Tite continua com medo de arriscar na Seleção Brasileira. Namora a ousadia e a recusa na hora de dizer sim. Sem apoio popular, prefere montar um time bem estruturado, correto, seguro em todos sentidos. Dificilmente sai derrotado.

Conservador, não segue, digamos, alguns parâmetros de Telê Santana, idealizador da Seleção de 82. Aquele time tinha Cerezzo, Falcão, Sócrates, Zico, Careca (Serginho) e Éder Aleixo, entre o meio e ataque, mais os laterais Leandro e Junior sempre avante.

Tite não se cansa de dizer que seu ideal inspirador de Seleção seria a de Telê em 82, se possível fosse. E que gostaria de ver a Seleção de agora com aquelas patentes da Copa da Espanha calada em nossos corações por obra de Paolo Rossi.

Pois bem, nesta sexta-feira (04/6) na partida diante do Equador, válida pelas Eliminatórias da Copa 2022, Tite tem à mão um quarteto devastador na linha de frente. Veja: Gabigol, Firmino, Neymar e Gabriel Jesus. Velozes, virtuosos, com apelo e muito apetite por gols, muitos gols.

Seria interessante ver os quatro na linha de frente da Seleção. Gabigol atacando pela direita em diagonal ao gol. Jesus na mesma função, só que do outro lado, na esquerda. Firmino e Neymar, articuladores e aríetes ao mesmo tempo.

Quem carregaria o piano, na marcação? Casemiro e Fabinho, apoiados pelos laterais Danilo e Alex Sandro.

Suporte defensivo suficiente até demais para ação do quarteto lá na frente. Sem falar na enorme disposição de Gabigol e Gabriel Jesus na recomposição do time quando atacado.

Tite não pensa assim. Prefere armar a Seleção com Casemiro, Fred e Paquetá servindo Richarlison, Neymar e Gabigol (ou Gabriel Jesus).

Diz a tradição da Seleção que ousadias transformam times normais em históricos e eternos.

Na Copa de 58, Brasil assombrou o mundo quando Pelé e Garrincha entraram em pleno Mundial da Suécia e foram decisivos na conquista da taça Jules Rimet.

Em 70, outro ato de coragem com a escalação de Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino na epopeia do Tri.

A história do penta em 2002 conta que o Brasil venceu escorado no talento de Rivaldo, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho, com suporte dos laterais Cafu e Roberto Carlos.

Críticos de “quartetos mágicos” na Seleção podem se apoiar no fiasco de 2006 na Alemanha com o quadrado Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo Fenômeno. Sim, pode ser, se não levarmos em conta o pouco apreço mental e físico de Ronaldinho e Ronaldo naquela Copa.

De volta a 2021, seria prazeroso ver Gabigol, Firmino, Neymar e Jesus juntos a ouvir Tite com seus “extremos desequilibrantes”.

Um ataque arrasador areja a Seleção. Resgata a torcida e salva Tite. Treinador precisa de apoio popular.

É questão de sobrevivência nos intestinos da CBF, entidade sempre pronta a servir na bandeja a cabeça de quem a salva da própria implosão.

Governo de Rogerio Caboclo está podre na CBF. Tite pode cair se o infeliz presidente chacoalhar galho.

“É um desafio nosso, depois de sete meses, reunir peças, dar a elas o devido treinamento, a quantificação de carga. Manter um padrão de desempenho individual e coletivo para que a gente possa ter um resultado de vitória como reflexo, como consequência de jogar bem. Esse vai ser o desfaio de uma equipe equilibrada, como tem sido nesse tempo todo. É uma equipe criativa, mas que também tem que ser sólida. Criação, gol. Solidez defensiva, resultado. É o que a gente busca” – Tite.