Luiz Antônio Prósperi – 2 novembro (00h45) 

Bill Buford é um jornalista americano. Da última vez que li algo a seu respeito dava conta de que vivia em Lyon, França. Tecia reportagens contando sabores e artimanhas da cozinha francesa e um livro publicado em 2021 depois de cinco anos atuando como um chef de restaurante na cidade fracensa mais gourmet da atualidade. Muito diferente do primeiro contato que tive com sua obra lá pelos idos de 1990. Bill daqueles tempos era um hooligan. Foram quatro anos vivendo e atuando como um hooligan até produzir sua obra-prima Entre os Vândalos, livro publicado em 1992 em que retrata o que é ser um hooligan inglês disseminando a mais sórdida das violências no futebol.

Hooligans de hoje na Inglaterra não chegam perto do que foram seus iguais nos anos de 1980 e 1990 quando Bill Buford se enveredou por essa vida até escrever o livro épico. Entre paus, tacos, pedras, mijo, decalitros de álcool consumido, tatuagens diabólicas nos braços, peitos e costas, poucos dentes na boca, roupas rotas, vandalismo de toda sorte e muito sangue arrancado dos rivais, esse torcedor ditou regras na Inglaterra até se render à transformação dos estádios em ambientes refinados onde os miseráveis não têm vez sob legislação severa.

Bill Buford não tem como voltar atrás se ainda quisesse ser um novo hooligan inglês. A não ser que resolvesse viver no Brasil a se imiscuir em torcidas organizadas de clubes brasileiros. Certamente conheceria o inferno.

O que diria Bill se estivesse presente na emboscada da Mancha Verde contra Máfia Azul em uma rodovia das mais importantes do país em outubro de 2024? Estaria disposto a atacar os cruzeirenses por ato de vingança de uma batalha perdida em setembro de 2022 na mesma rodovia?

Empunharia barras de ferro, tacos de madeira, fogos de artifício com alto poder destrutivo, a encarar inimigos e agir para deixá-los tingidos de sangue estrebuchando nas encostas da rodovia? Incendiaria ônibus dos antagonistas na tentativa de matar carbonizados os rivais?

Bill Buford não teria estômago para viver essa selvageria no Brasil, mesmo sabendo que os atores dessa violência, seja de que time for, não apodrecerão no cárcere.

Entre os Vândalos de hoje seria um libelo da decadência das torcidas organizadas do futebol brasileiro. Facções que vivem em 2024 atuando como encarniçados desvalidos medievais.

Tem muito sangue a se arrancar de bocas malditas ou inocentes enquanto o futebol se cala.


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