Três ‘tragédias’ do futebol brasileiro seriam evitadas com atos de vigarice de nossos goleiros?
Barbosa, Valdir Peres e Julio Cesar, vilões ou heróis?
Luiz Antônio Prósperi – 29 julho 2025 (13h12) –
Leo Jardim, goleiro do Vasco, vive hoje um momento de vilão do futebol. Condenado ao ser expulso pelo árbitro Flavio Rodrigues por “retardar o reinício do jogo”, aos 40 minutos do segundo tempo. Naquela altura da partida, o Vasco vencia o Internacional por 1 a 0. Juiz aplica cartão vermelho a Jardim alegando “cera” do goleiro que estava sentado na grama ao pé da trave. Jardim disse que sentia dores lombares e por isso não se levantaria ao receber a ordem do árbitro. Para quem não conhece a linguagem do futebol, “cera” é retardar o reinício de um jogo por simulação de uma contusão, dor que seja. Jardim queria ganhar tempo e encaminhar a vitória do Vasco no Beira-Rio. Árbitro Flavio Rodrigues acaba com a “cera” de Jardim com o cartão vermelho. Na maioria dos casos, diria 99%, como esse de Léo Jardim, goleiros não são expulsos.
Quase unânime também, Leo Jardim é condenado por analistas esportivos, árbitros, mídia em geral e tais redes sociais. Cera não combina com jogo limpo. Malandragem não, apontam os dedos da inquisição.
Agora vamos revisar três casos marcantes da história do futebol brasileiro imaginando se os goleiros Barbosa (Copa do Mundo 1950), Valdir Peres (Copa do Mundo de 1982) e Julio Cesar (Copa do Mundo de 2014) tivessem usado o expediente da “cera”.
Provavelmente não teríamos o Maracanazo de 50, a Tragédia do Sarriá em 82 nem o 7 a 1 da Alemanha em 2014. E os três goleiros não seriam condenados.
Maracanazo – Brasil 1 a 2 Uruguai
Goleiro Barbosa, da Seleção Brasileira, se tivesse caído pouco antes do gol de Giggia, o Brasil poderia ter sido campeão do mundo pela primeira vez.
Acompanhe a cronologia dos gols Brasil 1 a 2 Uruguai na final da Copa de 1950:
Brasil sai na frente, gol de Friaça, a 1 minuto e 8 segundos do segundo tempo. Schiaffino empata para o Uruguai, aos 20 minutos.
Brasil seria campeão com o empate.
Por volta dos 30 minutos, Brasil tem falta a seu favor no campo de ataque. Na sequência da falta, Uruguai recupera a bola e começa a atacar.
Se nesse momento do jogo o goleiro Barbosa se atira ao chão, alegando dor no corpo ou um fato extracampo que poderia atrapalhar sua visão do lance, quem sabe o árbitro não teria paralisado o jogo por volta dos 34 minutos.
Jogo paralisado, Ghiggia não carregaria a bola até a linha de fundo, não passaria fácil por Bigode e não teria chutado ao gol e Barbosa não teria falhado na tentativa de fazer a defesa.
Barbosa não se atira ao chão. Jogo não é paralisado e na sequência Ghiggia faz o segundo gol do Uruguai, aos 34 minutos – quatro minutos depois de uma falta a favor do Brasil. Gol de Ghiggia, gol do título no Maracanã com 200 mil torcedores. O Maracanazo com a derrota do Brasil no dia 16 de julho de 1950.

Tragédia do Sarriá – Brasil 2 a 3 Itália
Goleiro Valdir Peres, da Seleção Brasileira, se tivesse caído antes do lance do terceiro gol de Paolo Rossi, o Brasil poderia ter sido campeão do mundo pela quarta vez.
Acompanhe cronologia dos gols Brasil 2 a 3 Itália quartas de final da Copa 1982:
Itália sai na frente, gol de Paolo Rossi, aos 5 minutos do primeiro tempo. Sócrates empata para o Brasil, aos 12. Paolo Rossi faz o segundo da Itália, aos 25 minutos ainda no primeiro tempo.
No segundo tempo, depois de muita luta, Falcão empata o jogo para o Brasil, aos 22 minutos.
Brasil avançaria às semifinais da Copa do Mundo com um empate contra a Itália.
Sete minutos depois do gol de Falcão, Itália tem um escanteio a seu favor.
Se antes da cobrança do escanteio, o goleiro Valdir Peres tivesse se atirado ao campo, alegando dor ou um problema qualquer retardando a cobrança, quem sabe Paolo Rossi não teria feito o terceiro gol da Itália.
Valdir Peres não se atira ao chão, Itália cobra escanteio e, no rebote do Brasil, Paolo Rossi faz o terceiro gol dele. Gol que classifica a Itália e elimina o Brasil, aos 29 minutos do segundo tempo. Veja bem, sete minutos depois do gol de empate de Falcão, no místico estádio de Sarriá, Espanha, dia 5 de julho de 1982.

Vergonha no Mineirão – Alemanha 7 a 1 Brasil
Goleiro Julio Cesar, da Seleção Brasileira, se tivesse caído no chão logo após o gol de Toni Kross, o terceiro da Alemanha, talvez o Brasil não teria levado de 7 a 1 e continuaria com chance viva de chegar à final da Copa do Mundo de 2014.
Acompanhe a cronologia dos gols de Brasil 1 a 7 Alemanha semifinal da Copa 2014:
Alemanha sai na frente, gol de Thomas Muller, aos 11 minutos do primeiro tempo: Alemanha 1 a 0. Klose faz o segundo, aos 23: Alemanha 2 a 0. Toni Kross faz o terceiro, aos 24 minutos: Alemanha 3 a 0.
Se logo após o gol de Kross, o terceiro da Alemanha, o goleiro Julio Cesar tivesse se atirado ao chão, alegando dores ou qualquer outra coisa, o jogo seria paralisado e Kross não teria feito o quarto gol da Alemanha, dois minutos depois, aos 26.
Veja bem. O Brasil sofre quatro gols em seis minutos. Se o jogo fosse interrompido antes do quarto gol da Alemanha, a história poderia ter sido outra.
Julio Cesar não se atira ao chão. Alemanha faz o quarto (Kross), aos 26, e Khedira marca o quinto gol, aos 29 minutos.
E no segundo tempo, Schurrle faz o sexto e o sétimo gols. Oscar faz o gol de honra do Brasil.
Mas Julio Cesar não “cai” quando estava 3 a 0 para Alemanha e vivemos o 7 a 1, uma das maiores humilhações da história do futebol brasileiro no Mineirão dia 8 de julho de 2014.

De Volta ao Futuro
Evidente que não estamos aqui cobrando atos de um autêntico vilão aos goleiros Barbosa, Valdir Peres e Julio Cesar. Nem teria cabimento.
A remissão aos três goleiros em momentos históricos do futebol brasileiro serve apenas como uma advertência.
Barbosa, Valdir Peres e Julio Cesar não seriam condenados por fazer “cera” como Leo Jardim vem sofrendo nesta última semana de julho de 2025.





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