Luiz Antônio Prósperi – 4 agosto 2025 (15h16) –
Corinthians anuncia: “É quarta-feira”. Pouco se importa com o empate (1 a 1) contra o Fortaleza em Itaquera. Leia-se quarta-feira, dia 6 de agosto, contra o Palmeiras no Allianz Parque valendo vaga às quartas final da Copa do Brasil. Mais que isso. Significa pulverizar seu principal rival, o bandidão de sua história. Mais ainda: salvar uma temporada à deriva pronta ao naufrágio no campo e na gestão do clube. Então, a Fiel brada: “É quarta-feira!” – dia de se elevar ao céu ou cair às profundezas do inferno. Abel Ferreira também entende que tudo acaba ou recomeça na quarta-feira. Seria a última dança depois de cinco anos consumidos pela alma verde. Extenuante. Cenário a contragosto do treinador no momento em que se sente sugado, irritado, à beira da exaustação de suas ideias.
Abel, por exemplo, não suporta mais dar explicações a respeito de seu comportamento. Maioria esmagadora na mídia, responsável ou não, também não aguenta mais cobrar do treinador português modos de um bem educado ou, exagero, de um monge, ao fim de um jogo de futebol. Por mais irônico que seja.
Mudar de comportamento não parece a preocupação imediata de Abel. Aliás, ele não tem o menor interesse nessa questão. A prioridade é fazer do Palmeiras um vencedor após grande reestruturação do time nos últimos seis meses.
Saíram oito jogadores importantes – Richard Rios, Estevão, Mayke, Vitor Reis, Rony, Dudu, Gabriel Menino, Zé Rafael – e chegaram sete: Vitor Roque, Facundo Torres, Ramón Sosa, Emiliano Martinez, Bruno Fuchs, Micael, Lucas Evangelista e mais os que vieram um pouco antes como Felipe Anderson, Giay e Maurício.
Muita gente nova na sua mão em ano especial com o Mundial de Clubes e desafios importantes no calendário doméstico com Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil.
Até aqui, tudo bem. Lidera fase de grupos e avança ao mata-mata na Libertadores. Está nas cabeças no Brasileirão. E tem de reverter em casa a desvantagem (derrota por 1 a 0) contra o Corinthians na Copa do Brasil.
O que aflige Abel?
Nada, absolutamente nada. Por mais que teses, comentários, análises e esgoto das redes sociais teimem em dizer o contrário.
“E ele está certo; talvez não haja nenhum outro emprego em que alguém enfrente um escrutínio tão incessante, uma crítica tão veemente de pessoas que, francamente, sabem muito menos sobre o assunto do que eles (e, sim, isso inclui jornalistas, e não, isso não significa que toda crítica seja necessariamente equivocada)”, explica o colunista Jonathan Wilson, do jornal The Guardian, da Inglaterra.
Jonathan não falava de Abel Ferreira nessa análise publicada no jornal inglês. Se referia a Pep Guardiola, mas poderia ser a respeito de Abel Ferreira.
“Guardiola falou com certo entusiasmo sobre o desafio de reconstruir o City. Dado seu tom naturalmente sarcástico, nunca é fácil perceber, mas isso provavelmente pode ser levado ao pé da letra. Um dos problemas para um técnico que está no cargo há muito tempo, principalmente quando teve tanto sucesso quanto Guardiola, é encontrar novos desafios. Construir um time para vencer o campeonato é revigorante, estimulante, empolgante, mas colocá-lo em ação novamente para vencer novamente, nem tanto”, prossegue o colunista inglês e fecha com esse conceito:
“Há outro fator: pouquíssimos técnicos permanecem no mais alto nível por mais de uma década”.
Trocando Guardiola por Abel, a análise se encaixa muito bem. Abel não completou uma década no Palmeiras, mas ganhou quase tudo o que se possa imaginar no comando do clube. Está fechando metade de uma década nessa temporada de 2025 – com possibilidade de se estender por mais dois anos se renovar o contrato até 2027. Seriam sete anos à frente do exigente e imponente Palmeiras.
Abel Ferreira sabe que “construir um time para vencer o campeonato é revigorante, estimulante, empolgante, mas colocá-lo em ação novamente para vencer novamente, nem tanto”.
Quarta-feira, dia 6 de agosto, pode ser a última dança, se assim ele desejar e o Palmeiras consentir.





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