“Preparar a Seleção Brasileira é uma grande oportunidade”
“A paixão que existe no país era algo que eu já conhecia, mas é uma paixão verdadeira, sobretudo pela equipe nacional”
Em entrevista exclusiva à FIFA, treinador italiano fala sobre adaptação ao Brasil, primeiras memórias da Copa do Mundo e expectativa para edição de 2026 nos Estados Unidos, Canadá e México.
A execução do hino nacional brasileiro já se tornou um momento tradicional nas Copas do Mundo. A canção toca até certo momento e, quando termina a versão pré-jogo, os torcedores e jogadores continuam cantando o restante do hino “à capella”.
A cena é arrepiante para qualquer brasileiro, mas também tomou de emoção o técnico Carlo Ancelotti em seus primeiros jogos à frente da Seleção. O italiano, que se prepara para ser o primeiro estrangeiro a comandar o Brasil em uma Copa do Mundo masculina, quer fazer parte deste momento em 2026.
“Para qualquer jogador ou técnico que veste a camisa da Seleção, ouvir o hino é algo muito especial”, afirmou Ancelotti à FIFA. “O que quero aprender é… Tenho um ano pela frente para conseguir cantá-lo juntamente aos jogadores. Eu gostaria muito”.
O hino é apenas parte de um trabalho de adaptação que Carletto tem tido desde que assumiu o comando da Seleção Brasileira no último mês de maio.
Essa não é só a primeira experiência dele como treinador de seleção, mas também é seu primeiro trabalho na América do Sul e, especialmente, no Brasil, um país com dimensões continentais e com uma das mais fortes culturas futebolísticas do mundo.
“A paixão que existe no país era algo que eu já conhecia, mas é uma paixão verdadeira, sobretudo pela equipe nacional”, contou.
“A camisa da Seleção é muito, muito amada pelas pessoas. Quando o Brasil joga, o país para. Todos estão concentrados na partida que o Brasil tem que disputar.”

Confira agora a entrevista completa com Carlo Ancelotti:
FIFA: Como tem sido a vida desde que você se mudou para o Rio de Janeiro para treinar o Brasil? Do que você mais tem gostado?
Muitas coisas, porque é um trabalho diferente de um clube. Além disso, há a beleza de uma cidade como o Rio e a paixão das pessoas pelo futebol aqui. A verdade é que tenho passado muito bem os últimos dias e estou muito bem, graças à CBF e aos jogadores. Tudo tem ido bem até agora. Já estamos classificados, então temos o tempo necessário para nos prepararmos bem para a Copa do Mundo da FIFA. Estou gostando muito deste período. Viver no Rio é, como se diz em português: “muito bonito”.
Por que tomou a decisão agora de trabalhar como técnico de seleção?
Porque achei que poder dirigir a Seleção Brasileira — a equipe mais importante da história e a que ganhou mais Copas — seria uma grande oportunidade. Preparar a equipe do Brasil era uma bela ideia. A oportunidade surgiu e eu a abracei. Claro que também tenho que agradecer ao Real Madrid, que me deu a chance de aproveitar essa nova experiência.
Lembrando da Copa de 1994, na qual o senhor era o assistente da Itália, o que aprendeu com a experiência para levar para o futuro?
Foi incrível fazer parte da equipe italiana naquela Copa do Mundo. Chegamos à final, mas perdemos nos pênaltis. Foi uma grande experiência, especialmente para mim, sendo a minha primeira como auxiliar técnico. Foi fantástico, aprendi muito com [Arrigo] Sacchi — a emoção de se preparar para uma Copa do Mundo e o sacrifício para chegar a uma final.
Qual foi o primeiro jogador brasileiro que se lembra de ter visto e admirado?
Minha primeira memória profissional do Brasil é de 1970, quando jogaram a final contra a Itália. Eu tinha 11 anos e me lembro daquela partida que a Seleção venceu de 4 a 1 com Pelé, Jairzinho, Tostão e Rivellino. O Brasil tem uma grande história e, neste sentido, esses jogadores fantásticos, vamos dizer, fizeram a história do futebol mundial.
Sim. Falcão e Cerezo foram ao Roma. Falcão chegou em 81, Cerezo chegou em 83, dois profissionais fantásticos, dois amigos. Nos divertimos muito juntos, porque a personalidade dos jogadores brasileiros era um pouco diferente. Eles eram mais alegres, simpáticos. Então, você pode se divertir muito com eles.
Você jogou com muitos brasileiros, além de treinar muitos outros, mas agora que passou mais tempo no Brasil e foi aos estádios, o que mais chamou a sua atenção em relação aos jogadores brasileiros? O que mais descobriu sobre o futebol brasileiro estando no Brasil?
A paixão que existe no país era algo que já conhecia, mas é uma paixão verdadeira, sobretudo pela equipe nacional. A camisa da Seleção é muito, muito amada pelas pessoas.
Quando o Brasil joga, o país para. Todos estão concentrados na partida que o Brasil tem que disputar. O jogador brasileiro — não é surpresa nenhuma — é muito talentoso. É um jogador com uma genética que o faz ser muito talentoso, em geral.
No último mês de junho, você teve a chance de entrar no Maracanã pela primeira vez como técnico da Seleção Brasileira. O que sentiu nesse momento, ao pisar nesse campo sagrado?
Senti uma forte emoção, porque o Maracanã é um estádio que faz parte da história do futebol. Eu já joguei e treinei em muitos estádios, mas faltava o Maracanã. A verdade é que é um estádio único, principalmente pela história. Jogar com a Seleção… o fato de o Brasil jogar no Maracanã é algo muito especial.
Como se sentiu quando classificou o Brasil para a Copa do Mundo?
Fiquei muito feliz, mas acho que o trabalho dos treinadores anteriores foi positivo. Com dificuldade, claro, não foi fácil, mas chegamos ao final, pois era suficiente vencer o Paraguai, o que conseguimos fazer e estamos todos muito satisfeitos.
Essa Copa tem uma particularidade, porque contará com 48 equipes. O que o senhor acha dessa oportunidade para as outras equipes participantes?
Acho que é algo ótimo, porque quanto mais países na Copa, melhor é para o futebol. Não acredito que isso mude muito o calendário, porque não haverá muitas partidas adicionais, então acho que é uma boa ideia. Dar maior abertura na Copa para tornar o futebol ainda mais global.
Uma das sedes da Copa será o Canadá, que tem um lugar especial no seu coração…
Casei com uma canadense. Minha esposa é de Vancouver. Os pais dela são espanhóis, mas ela nasceu em Montreal. Agora moramos em Vancouver, é uma linda cidade. Obviamente apaixonada pelo hóquei, mas, Vancouver é uma das cidades-sede da Copa, que vai receber sete partidas. O Canadá vai jogar lá e as pessoas estão aguardando esses jogos. Há também uma chance de o Brasil jogar na cidade. Pessoalmente, gostaria de disputar uma partida lá. E o Canadá tem uma boa equipe, a seleção canadense tem um ótimo técnico. Eles estão indo muito bem e o país, é claro, está muito empolgado para sediar a Copa do Mundo.
O México vai sediar a Copa do Mundo três pela terceira vez. Você esteve no país recentemente. O que pensa sobre o México e de sua relação com o futebol?
Em 1986, eu estive no México com a seleção italiana no jogo de abertura da Copa contra a Bulgária no Azteca. Acho que os mexicanos são parecidos com os brasileiros. Eles são apaixonados pelo futebol e, em especial, pelas suas seleções. Meu querido amigo [Javier] Aguirre é técnico da equipe mexicana e, evidentemente, eu lhe desejo o melhor. O México é um lugar onde o futebol é extremamente importante.
Com a quantidade de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, além dos que planejam viajar, o que você espera dos torcedores brasileiros durante a Copa do Mundo?
Aquilo que sempre se espera! Eles vão mostrar muito carinho. Acho que uma grande motivação é nossa responsabilidade, da Seleção, de dar aos brasileiros o que desejam: vencer a Copa do Mundo após 24 anos.
O hino brasileiro tem uma particularidade. É um hino um pouco mais longo do que o trecho geralmente reproduzido, o que incentiva os torcedores a continuarem a cantá-lo a capella.
Sim!
O que você sente quando isso acontece?
Bom, cada hino é especial. Para qualquer jogador ou técnico que veste a camisa da Seleção, ouvir o hino é algo muito especial. O que quero aprender é… Tenho um ano pela frente para conseguir cantá-lo juntamente aos jogadores. Eu gostaria muito.





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