Corte inglesa aponta polícia e serviços médicos de emergência e inocentam torcedores no incidente que matou 96 torcedores e feriu mais 800

A Justiça inglesa prestou mais um serviço ao futebol com a revisão do inquérito da tragédia de Hillsborough quando foram registradas 96 mortes e 800 feridos na partida entre Nottingham Forest e Liverpool, na semifinal da Copa da Inglaterra, em 15 de abril de 1989. De acordo com novo julgamento, os responsáveis pelo incidente foram as autoridades e não os torcedores do Liverpool, acusados de alcoolismo e vandalismo.
Sobrou até mesmo para o chefe da polícia de South Yorkshire, David Duckenfield, na época o responsável pela segurança no estádio. Mister Duckenfield e seus pares devem ser responsabilizados pela tragédia.
Para quem não conhece o que aconteceu em Hillsborough não custa lembrar que o estádio estava com superlotação bem acima da sua capacidade. Naquele tempo, a divisão entre o campo de jogo e as arquibancadas era feita de alambrados de arame resistente. Como não havia mais espaço, os torcedores que estavam na parte de baixo das arquibancadas foram prensados nos alambrados e outros pisoteados por quem estavam acima e sem espaço para ficar.
Nesse movimento da massa humana, 96 pessoas morreram e 800 ficaram feridas. Um inquérito foi aberto após a tragédia e, depois de um julgamento, se culpou torcedores do Liverpool acusados de arruaceiros e vandalismo e que as mortes foram acidentais. A tragédia levou as autoridades inglesas e reestruturar a organização do futebol local e também acabar com os alambrados nos estádios. Clubes ingleses foram alijados das competições internacionais por cinco anos.

Em 2012, uma investigação independente, com mais de 450 mil páginas, sobre a tragédia de Hillsborough colocou em xeque o inquérito original. Essa nova peça jurídica garantia que policiais e os serviços de segurança e emergência no estádio forjaram provas apontando o dedo para torcedores do Liverpool, que estariam embriagados, pelos graves incidentes.
Neste novo julgamento, concluído nesta terça-feira, se chegou à conclusão que a polícia e serviços de emergência não se prepararam de acordo com a lei para o tamanho do evento. O júri disse ainda que não houve um comportamento violento por parte dos torcedores para que o incidente fosse provocado.

Aqui no Brasil temos em muitos estádios, inclusive de clubes de Série A, com alambrados dividindo o campo de jogo e arquibancadas. Nenhum clube foi responsabilizado até hoje pela violência de suas torcidas. Nenhuma autoridade policial ou de segurança sofreu qualquer punição por incidentes nos estádios.
A CBF, que se diz tão zelosa pelo futebol brasileiro, padronizou o tamanho dos campos de futebol, mas em nenhum momento levou em conta a existência de alambrados. Enquanto isso na Inglaterra as cercas de arame grosso não separam mais torcedores e o campo há 27 anos.