Estaduais mais atrapalham do que ajudam o futebol

Clubes brasileiros se matam nos campeonatos regionais em busca da grana da televisão
PRO4
Santos emenda mais uma final do Campeonato Paulista

Marca registrada do futebol brasileiro, os Estaduais ocupam pelo menos três meses do calendário nacional sem levar a lugar nenhum.Valem mais pelo dinheiro das cotas de transmissão dos jogos do que o aspecto técnico na formação dos times. Isso, quando não causam enormes prejuízos com troca de treinadores e inchaço no grupo de jogadores.

Antes da criação do verdadeiro Campeonato Brasileiro, a partir de 1971, os Estaduais tinham força. Imprescindíveis. Campeões eram reverenciados País afora. Com o crescimento do Brasileirão e o aparelhamento financeiro desta competição, os torneios regionais perderam importância e dimensão. Nem mesmo são tratados como uma pré-temporada de luxo, em que os clubes usariam para montar seus times na corrida por títulos de expressão.

O caso do Campeonato Paulista é exemplar. Paga alto os clubes, com premiações e cotas superiores, por exemplo, ao dinheiro que a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) distribui aos participantes da Copa Libertadores. Em nome dessa grana, e só isso, os clubes de São Paulo não abrem mão do seu Estadual, apesar do prejuízo técnico a que são submetidos.

Veja o exemplo do Santos. Vai disputar sua oitava final consecutiva, dessa vez contra o Osasco Audax, sem efeito nenhum nas competições maiores. Desde 2006, o time só não foi campeão em 2008 (Palmeiras), 2009 e 2011 (Corinthians) e 2014 (Ituano). Já faturou títulos em cima do Santo André, Guarani, Palmeiras …

Mesmo com essa fila de títulos do Paulistão, não conquista um Brasileirão desde 2004. Levantou uma Copa do Brasil (2010) e uma Libertadores (2011). E foi escorraçado no Mundial de Clubes em 2011 contra o Barcelona. O poderio do Santos no Estadual não aparece nas grandes competições.

Mas vale tudo em nome da premiação e cotas da TV, em especial da TV Globo. Não fosse por elas, e Santos estaria com o caixa em situação difícil.

Pode se argumentar sobre a importância do Paulistão aos clubes do Interior. Tudo fumaça. Nos idos de 1990, o Bragantino, com Vanderlei Luxemburgo, foi campeão paulista e, com Parreira no comando, disputou a final do Brasileiro de 1991 contra o São Paulo de Telê Santana. Depois morreu.

FUTEBOL - NABI ABI CHEDID
Nei (esq.), Nabi Abi Chedid, e Luxemburgo no Bragantino

O Santo André, vice em 2010, o Guarani, vice em 2011, e o Ituano, campeão de 2014, não vingaram. E, muito provavelmente, o Audax vai seguir o mesmo caminho se levantar a taça diante do Santos. Robustos nos Estaduais, os chamados pequenos são estrangulados depois com o pouco espaço que têm nas competições estaduais.

Palmeiras, Corinthians e São Paulo, que não chegaram à final deste Estadual de 2016, sofreram com as disputas da Libertadores e o Paulistão. O Palmeiras nadou contra a corrente nos dois torneios.

Corinthians e São Paulo vão sentir agora os efeitos do estrago provocado pela queda no Estadual. Se não avançarem na Libertadores, serão cobrados e obrigados a rever o planejamento. Mas poucos vão dar importância ao desgaste que tiveram por acumular as duas competições.

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Tite, do Corinthians, e Bauza, do São Paulo, pressionados na Libertadores 2016

Nos outros estados, a mesma ladainha. Em Minas, o Cruzeiro dispensou o técnico aprendiz Deivid por causa de o time ter ficado fora da final do Mineiro.

No Rio, torcedores do Flamengo sitiaram os jogadores e comissão técnica no desembarque no aeroporto, após o time perder a semifinal para o rival Vasco no jogo disputado em Manaus. O Fla vai entrar pressionado no Brasileirão. O mesmo se pode dizer do Fluminense, que, por ter ido mal no Carioca, já teve um atrito irremediável entre Fred, a estrela da companhia, e o técnico Levir Culpi.

No Sul, a queda do Grêmio na semifinal diante do Juventude, que vai fazer a final contra o Inter, também joga pressão sobre o time contra o Rosário Central nas oitavas de final na Libertadores.

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Antônio Carlos Zago leva o Juventude à final do Campeonato Gaúcho

Isso tudo somado, é preciso ainda contabilizar quantos treinadores foram demitidos nos Estaduais, entre fevereiro e fim de abril, para se calcular o enorme prejuízo provocado pelos campeonatos regionais.

Sem falar na violência das torcidas, estimuladas que são pelas imbecis rivalidades regionais. Em São Paulo, com morte e belicismo escancarado, se estabeleceu torcida única não só nos clássicos do Campeonato Paulista como também no Brasileirão que vem aí e em possíveis cruzamentos de São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos na Copa do Brasil. É dose.

Não se pede aqui o fim dos Estaduais. Eles têm lá seu charme. Mas, como muitos já disseram, deveriam ser mais curtos e competitivos, como se espera de uma pré-temporada de clubes neste país continental.

 

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