A improvável revolução de Tite na Seleção Brasileira

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Tite não vai revolucionar o futebol da Seleção Brasileira. Tendo como parâmetro seus conceitos aplicados com sucesso no Corinthians, o escrete vai ter mais a cara dos europeus à essência do autêntico estilo do Brasil.

Não há ilusão. Nem Tite e muito menos a CBF têm como prioridade resgatar o futebol que imortalizou a Seleção e assombrou o mundo. Seremos mais uma vez reféns da musculatura e órfãos cada vez mais do talento e improviso.

Antes de se projetar como a Seleção vai se comportar com Tite, não custa alertar sobre o que disseram a respeito do treinador do Corinthians tão logo aceitou o convite da CBF.

“Tem caráter. É honesto. Trata o futebol com muito respeito. É trabalhador, estudioso. Merece a Seleção, mas a Seleção e a CBF não merecem Tite. É um profissional correto. Um vitorioso. Enfim, o Brasil tem um técnico decente. Era a vez de Tite. O melhor treinador do Brasil, disparado.”

Até aí, nada demais. Tite pode até ser tudo isso que disseram sobre ele nos últimos dias. Chama atenção, porém, é a falta total de uma reflexão sobre como seus times jogam.

Para muitos, pode não ter importância, mas é fundamental não só reorganizar a Seleção, mesmo no covil da CBF, e sim resgatar o prazer de ver o escrete jogar.

Não vai ser fácil. Tite bebe na fonte do treinador italiano Calo Ancelotti, um mestre da organização e um traidor do improviso. Difícil ouvir de Tite um elogio a Telê Santana, por exemplo.

Dentro de campo, seus times seguem os conceitos de intensidade, treinabilidade, meritocracia, mobilidade, ocupação de espaços, velocidade. Dribles, raro. Jogador que desequilibra um jogo, mais raro ainda. Tudo é muito mecânico.

A Seleção Brasileira não precisa de um treinador honrado, precisa de voltar a jogar com prazer e não com os músculos.

Nas fotos acima, Feola (campeão na Copa de 1958), João Saldanha (mentor da Seleção de 70), Zagallo (campeão do tri no México) e Telê Santana (na Copa de 82). Todos revolucionários no comando da Seleção.

Veja algumas teses a respeito do momento do futebol brasileiro:

“É o pior momento do futebol brasileiro. E um declínio de alguns anos são as consequências. A Copa do Mundo (2014) foi trágica, uma grande decepção, porque o Brasil tem sido uma escola de futebol bom e é agora um exemplo de futebol ruim. Mas não é só o que dizemos do lado de fora, mesmos brasileiros, grandes jogadores como Tostão, Rivellino, Gerson e Falcão, também criticam a organização e os treinadores por não apostar no talento, um bom futebol no campeonato local. Assim bons jogadores não vão aparecer. E os últimos treinadores têm outra idéia do futebol, não a idéia brasileira, não a identidade. O Brasil tem perdido o que é pior de ser perdido, a identidade. Uma vez um motorista de táxi me disse durante a Copa do Mundo de 2014 no Rio: ‘Nós somos temos camisa e história, nada mais’. ” ANGEL CAPPA – ex-treinador de futebol e escritor

“O importante no Brasil é o resultado, porque se um treinador perde três jogos vai para a rua e isso os deixa inseguros. Não existe um plano a médio ou longo prazo. Tudo se resume ao resultado. Começamos a jogar com “operários” e os jogadores mais técnicos foram ficando de lado. Acabaram os camisas 10, acabaram os pontas, e já não produzimos tantos grandes laterais. Hoje jogamos em função do Neymar.” MAZINHO – campeão na Copa de 94

“Em pequenos detalhes, em uma conversa em um bar, na escolha de uma gestão ou decisão de um treinador, você percebe como o futebol é interpretado de uma sociedade. Embora o Brasil tenha começado a descapitalizar algo trágico para a sua cultura. Há algum tempo que a sociedade brasileira parou de falar sobre futebol e começou a virar as costas à sua história, a sua essência; em última instância, a maneira como eles se sentem. A praia, a música e a bola são (ou eram) parte de uma herança cultural. Brasil queria ir para procurar a verdade para a Europa e começou a importar uma série de conceitos, ligado a um futebol científico e musculares parâmetros, e definir um caminho para o valor físico do jogador, feita a capacidade tática, e esqueceu-se sobre a técnica e noções de jogo.” DIEGO LA TORRE – jornalista do El País