Santos e TV Globo não falam o mesmo idioma desde março de 2016 quando o clube vendeu seus direitos de transmissão dos jogos do Brasileirão ao canal Esporte Interativo (EI), do grupo norte-americano Turner. Contrato terá validade de 2019 a 2024. Entre os grandes clubes do grupo da elite do futebol brasileiro, o Santos foi o primeiro a romper com a Globo – depois o Palmeiras também cedeu os direitos ao EI.
E o caldo esquentou com acusação do lado santista de que o repórter Eric Faria, da Globo, teve participação direta na anulação do pênalti no jogo contra o Flamengo pela Copa do Brasil na quarta-feira (26/7).
Na época da assinatura do acordo com o EI, presidente Modesto Roma Jr disse que a Globo não respeitava a grandeza do Santos, colocando o clube no grupo intermediário no número de transmissões de jogos ao vivo do Brasileirão. Se em 2016 as queixas santistas já eram públicas, na temporada 2017 o cenário não mudou.
Ao lado de Sport, Chapecoense, Bahia e Fluminense, o Santos terá apenas quatro jogos ao vivo na Globo nas primeiras 20 rodadas do atual Brasileirão. São Paulo e Atlético-MG terão dez partidas exibidas, Palmeiras, Corinthians e Vasco, 9; e Flamengo, 8, entre os clubes mais cotados.
Como a Globo detém direitos do Brasileirão até 2018, a tendência é de uma relação nada amistosa entre Santos e emissora.
No caso da partida contra o Flamengo, o clube pediu anulação do jogo à CBF alegando interferência externa na decisão do árbitro Leandro Vuaden, que havia dado pênalti de Réver em Bruno Henrique e voltou atrás após ouvir o quarto árbitro. Santos acusa repórter Eric Faria de ter passado ao quarto árbitro que o pênalti não havia acontecido e pede o descredenciamento do jornalista à CBF.
A CBF ainda não se pronunciou de forma oficial a respeito do pedido do Santos. Chuteira FC reuniu depoimentos de personagens envolvidos diretamente no caso e profissionais importantes do futebol brasileiro. Acompanhe:
Abel Braga, técnico do Fluminense:
«Treinador é questionado pelo time que escala. Se perde o jogo, o campo está pesado. Mas é para os dois. Tem o vento. Mas é para os dois. Em 90% das derrotas, a culpa é do árbitro. Não pode comemorar gol. Poxa, os estádios não têm mais alambrados. Tem de comemorar, ora. A torcida está quase dentro do campo. Agora é jornalista. Todo mundo conhece o Eric faria, que é uma pessoa íntegra. No futebol, uma paixão enorme, se cria justificativa para as derrotas. Está muito chato. É pesado para treinador, para juiz e agora está para jornalistas. E vocês (jornalistas) são culpados. Dão ênfase demais a isso. Tem de parar com esse negócio. Está chato. Tem de ir para o cinema. É muita polêmica, sempre tem subterfúgio para explicar tudo. Eu meto a mão no fogo por ele. É correto, como vocês são».
Eric Faria, repórter da Globo:
«Isso tudo é muito chato. A gente gosta de vir aqui falar de futebol, e o futebol está virando uma coisa muito maluca, que não é o que a gente gosta de ver. Eu estar aqui hoje falando de uma acusação leviana, falsa, que está me dando um pouco de dor de cabeça em rede social, já recebi um monte de ameaças de morte, que se eu for na Vila Belmiro vou sair no camburão do IML, vou tomar paulada, pedrada, enfim. Mais do que um jornalista, tem um cidadão aqui, pai de família, pai de dois filhos. Ontem, no meio da confusão, tenho um menino de 10 anos que me mandou um WhatsApp: “Está tudo bem, pai, nesse rolo todo? Está vindo para casa bem?»
«A troco de quê isso? A gente fala tanto em não violência no futebol, e um clube da grandeza do Santos não precisa disso, não precisa realmente. A história do Santos é linda, é belíssima. Ele está em outras competições. Sinceramente, desviar o foco de uma derrota e atribuir a uma acusação sem pé nem cabeça? Eu sequer me mexo no campo. A gente tem uma posição que é determinada».
«Eu não troquei nem boa noite com o Flávio. Duvido, desafio, que mostrem qualquer imagem que comprovem que falei com o quarto árbitro. Por isso acho que é uma atitude feia do Santos, não precisava disso, e me expôs a uma situação. Mas eu não vou deixar de ir a jogo de futebol, trabalhar em jogo de futebol. Domingo estou escalado. Não tem por que eu me esconder, não tem por que ter medo de nada, não fiz nada e vou de cabeça erguida».
Leandro Vuaden, árbitro do jogo:
«Para deixar bem claro o que aconteceu (…) eu venho em um deslocamento, há um contato. Não tenho 100% da decisão, mas mesmo assim utilizo o apito de forma tardia e acabo assinalando o pênalti. Não estou 100% convicto, mas naquele “tomo a decisão, não tomo?”, optei por tomar. Houve um protesto todo; claro, também estou com essa dúvida, e qual é o recurso que eu tenho a disposição, o que eu posso fazer para tentar adicionar alguma coisa (referindo-se a consultar o quarto árbitro)?»
«A distância do quarto árbitro sim, é maior que a minha; porém, o ângulo de visão dele é melhor do que o meu. E o que eu fiz, o que eu precisava fazer, o que o futebol espera que seja feito, é buscar uma informação do quarto árbitro. Fui até ele e disse: ‘Me diz o que você viu’. Ele me disse: ‘Estou longe, mas para mim, a impressão que ficou é que pegou só a bola’. Ponto. Foi só isso que aconteceu, não fiz absolutamente mais nada. Simplesmente fui lá, anulei a marcação e reiniciei o jogo com um tiro de canto, que era como deveria ser reiniciado caso a marcação do pênalti não fosse confirmada. (…) Houve sim, e aí eu faço uma mea-culpa, uma precipitação minha em marcar, mas era o que, mesmo de forma tardia, eu acabei optando».
Santos FC, documentos:
(POST PUBLICADO NO CHUTEIRA FC – LEIA MAIS NOTÍCIAS E ANÁLISES DE FUTEBOL)