Palmeiras e Adidas lançaram uma camisa quase retrô, gola V, escudo enorme, e cor esmeralda, há pouco mais de três meses. Atrás da gola está a inscrição “obsessão”, uma homenagem aos cânticos dos torcedores que entoam “Libertadores obsessão”, a cada jornada do time. Esse lema ultrapassou a paixão da torcida e contagiou dirigentes, comissão técnica, jogadores, roupeiros, cuidadores da grama, a imensa comunidade e, em especial, a patrocinadora do clube que fez um investimento de R$ 115 milhões. Todos caíram na arapuca. E se o Palmeiras não conquistar a Libertadores?
A vida continua, poderia responder Cuca. O problema é que o treinador não tem esse poder de dizer a vida continua.
O que está em jogo não é o alto investimento feito por uma patrocinadora quase sem precedentes no futebol brasileiro. Gasta quem tem, gasta quem pode.
Se a estratégia da patrocinadora passa por conquistas no campo em busca de mais cacife político no Palmeiras, a encrenca não é do clube. Ela que se vire se não alcançar sua meta traduzida na conquista de títulos e poder entre conselheiros rotos e novos ricos.
A conversa não tem de ser por esse caminho. Investiu alto, criou expectativas em nome da “obsessão” , portanto, se não levantar a taça, tudo vai escorrer pelo ralo e provocar uma revolta absurda.
A discussão é que não se faz um investimento fora do padrão do futebol brasileiro, como fez a Crefisa no Palmeiras, por apenas uma temporada. Ganhou, tudo bem. Perdeu, fora daqui. Dirigentes deveriam ter essa consciência na hora de pedir dinheiro à parceira.
Não é assim que se faz futebol, ainda mais em um mercado instável, sem segurança, e de muitos jogadores de nível técnico médio – à disposição na prateleira do Brasil e de países vizinhos.
Investimento para valer tem de ser avaliado a longo prazo, rege a cartilha dos grandes clubes europeus. Não faz de um título uma obrigação a todo custo em uma única temporada.
Palmeiras caiu nessa armadilha. Fora da Copa do Brasil, ao ser eliminado pelo Cruzeiro nessa quarta-feira, em situação difícil no Brasileirão na corrida pela taça, resta a Libertadores como a joia da coroa ou o único presente ao torcedor no fim do ano. A “obsessão”.
Desde o início da temporada esse monstro apavorante tem estendido seu manto sobre o clube, Allianz Parque, rua Palestra Itália e milhões de torcedores. Alguém vai ter de excomungar esse demônio. Felipe Melo?