Leitor tão raro, como diz o jornalista Juca Kfouri, vou contar uma novidade: todos sábados você terá aqui no web jornal “Prósperi News” uma crônica de futebol, um tema fora do dia a dia do noticiário quase sempre entediante do mundo da bola. Pode ser pretensão desse repórter. Há quase 40 anos militando na imprensa esportiva, entendo que tenho o direito a um livre pensar, escrever o que os olhos enxergam e a alma sente. Sem amarras. Apenas por prazer da escrita. A #crônicasabática”, evidente, a ser publicada todos os sábados, merece uma explicação a respeito da opção por “sabática”. Então, fiz duas consultas: uma no Chat de Inteligência Artificial e outra no velho e bom Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Confira: No Chat de Inteligência Artificial: Sabático – Um período de pausa temporária da rotina profissional e pessoal, que pode durar de alguns meses a um ano ou mais. O termo vem do hebraico e significa “libertação”. Durante esse período, a pessoa se distancia do ritmo e das obrigações do dia a dia para viver outras experiências, buscar autoexploração e descanso. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: sabático (sa-bá-ti-co) adj. 1. relativo à sábado <descanso s.> 2. relativo a sabá (‘reunião’) 3. em que se interrompe alguma atividade regular (diz-se de período, ano) <férias s.> Estamos entendidos? Então vamos à primeira #crônicasabática de outubro. QUANDOS OS DEUSES DESCALÇAM AS CHUTEIRAS Andres Iniesta, 40 anos, aposentou-se do futebol. Como se diz, pendurou as chuteiras na terça-feira (08/10). “Por favor, permitam-me ficar um pouco emocionado hoje… Eu nunca pensei que esse dia chegaria. Eu nunca imaginei isso”. “Sim, todas essas lágrimas são lágrimas de emoção, de orgulho. Elas não são lágrimas de tristeza. São lágrimas daquele menino de uma cidadezinha como Fuentealbilla (Espanha), que tinha o sonho de ser jogador de futebol e o alcançamos depois de muito trabalho e sacrifício”. “Queria ter jogado até os 90 anos, mas estou feliz por ter realizado o sonho de ser jogador.” E nós, admiradores do artista, como ficamos? Não temos muito a fazer. O jeito é recorrer aos nacos da memória e proclamar: como éramos felizes vendo Iniesta jogar. Agora acabou. Restam fragmentos de melhores momentos, gols memoráveis, jogadas geniais à disposição nos YouTubes da vida. O mesmo não se pode dizer de Joan Neesken. Dois dias antes de Iniesta anunciar aposentadoria, o fabuloso jogador holandês partiu. Um dos alicerces da Holanda Laranja Mecânica da Copa do Mundo 1974 nos deixa aos 73 anos. E dele se tem poucas imagens de vídeo ou película do cinema de outrora. Suas chuteiras estavam penduradas há muito tempo. Quem viu Neesken jogar tem consciência de seus enormes feitos em quase todas as posições de um time de futebol. Exercia quase todas em todos os jogos, com muita destreza. Um multijogador. Neesken era o braço direito de Joan Cruyff na Holanda revolucionária dos anos de 1970. Gênios parceiros. Neesken se foi. Iniesta parou. Daqui a pouco a despedida de Lionel Messi vivendo os estertores de sua carreira na Inter de Miami… Quem mais? Quantos Deuses ainda temos por aí? Talvez nenhum. Futebol hoje não exige mais sabedoria. Nem dotes artísticos. Muito menos a excelência de se conduzir a bola e dar a ela o destino mais justo. Doutrinas desses dias de agora obrigam a ser intenso os 90 minutos. Correr para frente e para trás como máquinas programadas nos computadores. Suar sangue se preciso. Não pensar, apenas executar. Não driblar, ou melhor, apenas um drible é permitido e, veja bem, perto da zona de gol que os catedráticos de agora chamam de “o último terço do campo”. Em nome da entrega total, estourar joelhos (casos de rompimento dos ligamentos se multiplicam em todos os cantos do mundo), esgarçar músculos das coxas e avariar os tornozelos soam como troféus de reconhecimento do esforço ao fim das batalhas. Vivemos o fim do prazer do futebol. A paixão se reserva aos românticos do bom jogo. Aos torcedores não cabe mais torcer, sim executar jogadores, técnicos e dirigentes com disparos letais nas redes sociais. Aos fanáticos, matar e morrer entre eles como gladiadores. A bola continua lá, gramado (orgânico ou sintético) também. Apenas as chuteiras estão descalças à espera de novos Deuses. Eles Virão? por Luiz Antônio Prósperi – 12 outubro (13h05)

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