Luiz Antônio Prósperi – 23 julho 2025 (13h41) –
Estou sentado na cadeira 26, fila V, setor leste 123, do Allianz Parque. Domingo (20/7), 17h. Dali a 30 minutos, teríamos Palmeiras x Atlético-MG, 15.ª rodada do Brasileirão 2025. Nas cadeiras ao meu lado, muitos senhores de cabelos brancos, poucos pais acompanhados de filhos menores, mulheres de meia-idade. Um dos raros adolescentes nas cadeiras vizinhas olha para mim e diz: “Vamos ganhar. 2 a 0. Um gol do Vitor Roque. Pode me cobrar”. Os de cabelos brancos manuseiam seus celulares com aparelhos quase colados no rosto. Sentimento que se tem é de que naquele setor do estádio se perceberia mais emoção à vibração. Vibrar, gritar Palmeiras, se exigia energia. Se emocionar, derrubar algumas lágrimas, se exigia mais tempo de vida. E o Vitor Roque do gol anunciado pelo garotão?
Era a primeira vez que eu acompanharia um jogo de Vitor Roque no estádio, longe da telona da TV e da telinha do celular. Ao longo da minha carreira de 40 anos de jornalista esportivo, passei, acho, de mil jogos in loco nos estádios. Por exemplo, tive o privilégio de ver dentro dos estádios os 15 gols de Ronaldo Fenômeno com a camisa da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo.
No domingo, dia 20 de julho, eu queria ver Vitor Roque de perto. Entender também o tamanho das críticas ao time de Abel Ferreira. Se eram cabíveis ou não.
Times perfilados. “Meu Palmeiras” cantado em cima do Hino Nacional, tradição no Allianz.
Na fila de jogadores vestidos de verde e branco, lá está o atacante Vitor Hugo Roque Ferreira – 20 anos, 1m72, 76 kg –, nascido na cidade Timóteo (MG), na região do Vale do Aço, a 200 km da capital Belo Horizonte.
Na fila de jogadores com uniformes preto e branco está o zagueiro Lyanco Evangelista Silveira Neves Vojnović – 28 anos, 1m87, 84 kg –, nascido em Vitória, capital do Espírito Santo.
Vitor Roque custou 25 milhões de euros ao Palmeiras, contratado do Barcelona em março de 2025.
Lyanco custou 4,5 milhões de euros ao Atlético-MG, contratado do Southampton da Inglaterra.
Jogo começa. Lyanco é escalado por Cuca para marcar Vitor Roque. E Vitor Roque é escalado por Abel para atacar no setor de Lyanco.
Lyanco é 15 cm mais alto que Vitor Roque. É sérvio-brasileiro por descendência de seus pais. Aparência de Viking.
Na primeira bola que Vitor Roque recebe, Lyanco está bufando ao seu encalço. Vitor vence o duelo. A cena se repetiria ao longo do jogo.
Aos poucos, Vitor vai demolindo aquela montanha de músculos e força do zagueiro atleticano. Se percebe a rocha esfarelando.
Rápido, forte como um touro, driblador. Ainda um tanto afoito. Ansioso na hora de chutar a gol, Vitor Roque supera Lyanco na maioria dos lances.
Faz um gol, meio torto e com a colaboração do zagueiro Junior Alonso. Ajoelha-se e agradece a Deus. De longe, não percebi se fez o gesto imitando o Tigrinho de suas comemorações.
Ao final do embate no Allianz, avaliação que faço é bem simples: Vitor Roque joga muita bola. Tem vocação a atropelar todos marcadores com vigor físico e inteligência, de humilhar mesmo os zagueiros.
Quando controlar a ansiedade, podem esperar por um goleador completo, de entrar para a história. Tem tempo. É novo, 20 anos apenas.
Abel Ferreira: “Vitor é muito novo. Daqui uns três a quatro anos será uma máquina (de fazer gols)”.
Assino embaixo o que Abel sentencia a respeito de Vitor Roque.
Antes de acabar o jogo, Vitor é substituído. Senhores de cabelos brancos, no setor do estádio em que eu estava, aplaudem de pé o garoto. Uníssono no Allianz os gritos de “Vitor Roque, Vitor Roque”.
Na saída do campo, Vitor Roque poderia ter dito: “Ninguém se importou até eu colocar a máscara”… em agradecimento aos aplausos.
A frase é de Bane vilão das histórias de Batman, e usada por Viktor Gyokeres, atacante sueco goleador, contratado nesta quarta-feira (23/7) pelo Arsenal por R$ 475,5 milhões do Sporting de Braga, clube onde Abel Ferreira fez carreira de jogador.
O Tigrinho não é Barne nem é mascarado. Nesse momento de sua carreira alimenta sonhos de milhares de garotos palmeirenses.
Ao fim do jogo no Allianz, olhei ao redor e não vi o adolescente que havia me pedido antes de a partida começar para que eu cobrasse a sua profecia: “Vitor Roque vai fazer um gol. Pode me cobrar”. O garoto estava certo.





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