Tite cai em mais uma decisão importante no Itaquerão

Aclamado melhor treinador do Brasil, técnico do Corinthians sai eliminado em casa mais uma vez e se rende ao esquema do inovador Fernando Diniz, do Audax

audax-comemora-o-gol-de-tche-tche-contra-o-corinthians-1461453645953_956x500
Festa do Osasco Audax para desespero de Tite

Tite não consegue superar os jogos importantes de mata-mata no Itaquerão. Diante do Osasco Audax, valendo vaga na final do Campeonato Paulista 2016, o seu Corinthians caiu de novo. Na temporada passada, também na semifinal, saiu eliminado na decisão contra o Palmeiras. Neste sábado, 23/4, suou muito para fechar os 90 minutos com um empate por 2 a 2 e, na disputa por pênalti, foi derrotado por 4 a 1.

Numa conta rápida, Tite perdeu nas oitavas de final da Copa Libertadores de 2015 no Itaquerão para o modestíssimo Guaraní, do Paraguai. Pouco depois sofreu mais uma eliminação, agora para o Santos nas oitavas de final da Copa do Brasil, no ano passado.

Apontado como o melhor treinador do País e, para muitos, deveria ser o técnico da Seleção, Tite continua com esse déficit na carreira. Vai ter a chance de se redimir nas próximas semanas se avançar na Libertadores-2016 quando enfrentará o Nacional, do Uruguai, pelas oitavas de final.

Se Tite continua devendo, o mesmo não se pode dizer de Fernando Diniz, treinador do Osasco Audax. Metódico e com uma visão diferente do futebol que se pratica no Brasil, ele inventou um jeito gosto de jogar. Seus jogadores invertem de posição, sem perder a responsabilidade, não rifam a bola, chegam com troca consciente de passes e com muita precisão nos arremates a gol. E a maioria tem boa técnica.

rib_2971Veja um pouco dos conceitos de Fernando Diniz, ex-jogador e psicólogo com formação acadêmica, sobre futebol e jogador, em recente entrevista à Gazeta Esportiva:

“No Brasil, de maneira mais incisiva que em outros países, a gente tem uma cultura que analisa muito resultado e pouco conteúdo. Não digo que seja o principal problema (nosso), mas um dos principais é o fato de o jogador no Brasil não ser tratado como pessoa. Desta forma, acaba se perdendo muito”.

“Aqui, temos um contexto social extremamente complicado no que diz respeito às origens do jogador de futebol, muitos jogadores saem de casa com pouca idade e acabam não tendo os afetos básicos e essenciais para uma boa formação em termos emocionais”.

“Infelizmente, em termos cognitivos e de educação formal, o atleta não tem estudo e, quando estuda, vai para uma escola do Estado, onde vai somente para passar (de ano) e não para aprender. Se essa fosse uma política pública, ou se o futebol se aproveitasse disso, a gente poderia reverter o quadro que está o futebol de uma maneira mais rápida.”

“O primeiro fator que eu descartaria, ao avaliar a Seleção Brasileira, seria os jogadores. A melhor matéria-prima futebolística do mundo é do Brasil. Nós temos bons jogadores. O principal problema, na minha opinião, está na maneira que o jogador é tratado, deve se tratar o jogador como gente, para que ele chegue na Seleção mais bem preparado emocionalmente”.

Com esses conceitos, há quatro anos no comando do time de Osasco e com retaguarda de uma gestão empresarial, Diniz montou esse Audax, que despachou o Corinthians no Itaquerão – havia eliminado o São Paulo nas quartas de final.

O seu time, no primeiro tempo, fez o  Corinthians entrar em parafuso por volta dos 20 minutos. Não encontrava um meio de pressionar a saída de bola do Audax. Na verdade, não entendia a proposta de jogo do adversário. Na dúvida entre abafar e abrir espaço na defesa, permitiu ao inimigo transitar com muita tranquilidade até sofrer o gol de Bruno Paulo, aos 25 minutos.

dsc_0469
Rodriguinho sem saída diante da marcação do Audax

Com a desvantagem no placar, o time de Tite resolveu arriscar. Mas se viu sem muitas alternativas. Fágner quase não aparecia no apoio. O mesmo se pode dizer de Uendel. Guilherme se revelou inútil, sem se movimentar e perdido com a marcação. Elias também não se soltou.

Sem a engrenagem a fazer a roda girar, o Corinthians ficou à espreita de um erro na saída de bola do Audax, que, mesmo acossado, não abria mão da troca de passes em cadeia até chegar ao campo do inimigo. Por duas vezes o goleiro Sidão vacilou, mas os corintianos não aproveitaram.

No segundo tempo, Tite voltou com duas alterações – Rodriguinho no lugar de Guilherme e Romero na vaga de Alan Mineiro. Mudanças que sugeriam mais velocidade na saída ao ataque e na pressão na saída de bola do Audax.

Deu resultado. Numa saída de bola errada de Juninho, Bruno Henrique roubou e cruzou para André empatar. André teve duas chances, antes desse gol, e não conferiu.

Apesar do empate, o time de Osasco continuou com sua toada. Uma troca de funções de jogadores constante a embaralhar o Corinthians. E chegou ao segundo gol, aos 26, com um belo chute de Tchê Tchê, de pé esquerdo. Um golaço. Antes mesmo de ajeitar, o Audax cedeu o empate, de novo, com André, agora aproveitando uma arrancada de Romero pela direita, aos 33.

Mesmo assim, a equipe de Fernando Diniz não entrou em pânico. Fiel ao seu estilo de jogo, teve a chance de fazer o terceiro e só não conferiu por preciosismo de Camacho. A decisão seria mesmo nos pênaltis. Nas cobranças, o Audax garantiu a classificação à final ao acertar quatro e o Corinthians apenas uma.

Mais que derrotar o poderoso Tite no Itaquerão, Diniz mostrou que há espaço para alguma ousadia no futebol brasileiro. Não custa nada. É só acreditar no seu conceito e escolher os jogadores adequados à sua proposta. Gênios começam assim.