
Não há menor graça no futebol praticado pelo Leicester, quase consagrado neste domingo campeão inglês ao empatar por 1 a 1 contra o poderoso Manchester United em plena catedral do Old Trafford. Pequeno por identidade e novo rico no mercado com a chegada de um milionário tailandês, esse time do Condado de Leicester, região central da Inglaterra, está prestes a arrebatar a Premier League com um jogo de muita entrega, marcação de suar sangue e contra-ataque letal. Não se pode se esquecer também da vocação nos lances de bola parada.
Dito na Inglaterra um “Canto de Fadas”, o Leicester pode ser campeão nesta segunda-feira se o Tottenham Spurs, segundo colocado, for derrotado pelo Chelsea. Com o empate diante do United, abriu 8 pontos (77 a 69) de frente a duas rodadas do encerramento do Campeonato Inglês.
Com essa receita simples, de futebol solidário, o Leicester derrubou a maioria dos grandes que encontrou pela frente como Chelsea, Arsenal, Liverpool, City e até o Tottenham, seu mais direto perseguidor ao longo da temporada. Contra o United, sofreu à beça diante do estádio lotado de vermelhos e sua gente vestida de azul espremida num canto da arena.
Saiu atrás ao levar o gol do francês Martial (foto ao lado), após uma pressão sem trégua por mais de 15 minutos. Mesmo com um gol nas costas, foi lá e beliscou o empate com seu zagueiro grandalhão Morgan, convertendo de cabeça uma falta cruzada na área. Depois desse gol, equilibrou o jogo e sob a batuta do argelino canhoto Mahrez, eleito melhor jogador do campeonato, se impôs como se espera de um campeão. Mas não conseguiu o gol consagrador.
O Leicester, premiado pela regularidade tem 11 vitórias fora de casa. Time que quase foi rebaixado na temporada passada, encarou a Premier League 2015/2015 para não cair. Seu patrono, Vichay, dono de uma fabulosa rede de Duty Free na Tailândia, tem as rédeas do clube há 3 anos e promete injetar grana alta na próxima temporada quando vai ver seu time na Champions League. Já desembolsou R$ 1 bi para deixar as contas e estrutura do Leicester em dia.
Por enquanto, o Leicester vive de abnegados e alguns rejeitados. Uma salada de frutas com o francês Kanté, o argentino Uchoa, japonês Okazaki, o inglês Wardy, que não jogou ontem e há seis anos era um operário e jogava em ligas amadoras, e o maestro Mahrez. No comando do time, está o italiano Claudio Ranieri, de 64 anos, que tem no currículo dois títulos sem muita expressão com o Valencia e Fiorentina.
Se o Leicester for aclamado campeão nesta segunda-feira, vai levar uma bolada acumulada de cerca de R$ 500 milhões reais de prêmios da Premier League. Dinheiro como uma joia a um time muito dedicado, sem brilho das esquadras que marcaram época, mas uma lição aos poderosos de que futebol também se joga com suor e entrega.
Não é muito agradável ver o Leicester jogar. Nem deve ser na próxima temporada. Nem todos campeões mudam a história do futebol.