Pottker, o terror dos adversários da Ponte

William Pottker tem 23 anos, é casado, tem sete irmãos e sustenta a família inteira com o que ganha no futebol. Está nessa vida de boleiro desde os 11 anos quando procurou um clube para virar jogador profissional.

Quem acompanha esse atacante robusto, de 74 quilos, 1,80 de altura, sabe que ele foi um dos artilheiros do Brasileirão 2016 com 14 gols anotados – dividiu a honraria com Diego Souza e Fred, gente famosa e de mais quilometragem nos gramados. Poucos sabem que Potkker já defendeu um clube da Armênia, outro do Japão e mais um de Portugal. Nada tão intenso como nesse momento que vive na Ponte Preta, semifinalista do Paulistão 2017, e um terror aos grandes como Santos e Palmeiras.

Seus primeiros passos foram nas categorias de base do Figueirense. Em Santa Catarina ganhou força como goleador e chamou atenção dos agentes, sempre de olho em meninos que podem transformar pó em ouro, mesmo sem espaço no clube que o revelou. Era um momento em que passava por sua cabeça buscar outro caminho fora da bola. Empresários insistiram prometendo que milhares de dólares estavam à sua espera do outro lado do Atlântico. Pottker acreditou. Sabia que era abraçar a causa ou desistir de uma vez por todas. O sustento da prole de sete irmãos, da mãe, da família e mais o sonho de se consagrar cobraram sua consciência. Foi embora e fez o caminho de volta sem remorso.

“Subi para o profissional do Figueirense em 2011, com o técnico Jorginho. Em 2013, tive uma chance e estava meio desanimado, mas recebi a proposta curiosa do Gandzasar (clube armênio). Na Armênia, peguei menos 10.ºC, menos 15.ºC, que foi um momento que quase me fez voltar, mas a vontade de me transferir para outro clube da Europa me fez ficar”, disse em uma entrevista no ano passado. A vida na Armênia cobrou a fatura.

Mais tarde apareceu a chance de jogar em Portugal. De novo, foi e voltou. “Acredito que em Portugal foi mais questão de oportunidade. Quando cheguei para assinar o contrato, havia uma comissão técnica e, ao me apresentar, já era outra. Vi que não estava sendo muito aproveitado e resolvi voltar para o Linense”.

Do Linense pulou para a Ponte Preta e, ao final do Campeonato Paulista, vai defender as cores vermelha e branca do Internacional de Porto Alegre. Conheça um pouco do pensamento de William Potkker, o artilheiro que virou referência no time de Campinas:

Espelho

“O melhor jogador com quem já joguei foi o Loco Abreu (no Figueirense). Ele não era muito louco não, mas era um cara extrovertido, que viveu muita coisa dentro do futebol e contava várias histórias. É um cara muito bacana. Mas me espelho muito no Hulk. Não vou dizer que sou um cara completo, ainda sou muito novo, mas acredito que tenho muita força e minha principal característica é de ir para cima do adversário.”

Sobrevivência da família

“Eu dependo muito disso, não vou dizer que mais que os outros, mas sei do que eu preciso. É… (choro) Eu sou a salvação da minha família. Então não tem porque eu deixar de correr, trabalhar. Minha família depende de mim… Eu vejo vocês falando da minha determinação… Não era para eu estar chorando, os caras vão me zoar depois (risos). Mas eu vejo vocês falando da minha determinação… Me emociona. Minha família depende muito de mim. Eu jamais vou deixar de correr. Pode faltar parte técnica, como já faltou, pode faltar qualquer outra coisa, mas espírito de luta, vontade de querer fazer o melhor, isso nunca (vai faltar)”, disse em uma coletiva de imprensa para explicar o motivo de não ter acertado com o Corinthians.

“Nada vai me atrapalhar. Como vai atrapalhar um cara que precisa ajudar sete irmãos? Já passei por coisas piores, mas jamais tirei o foco do futebol. É a única coisa que eu sei fazer. Se me passar uma conta, não sei fazer. Saí de casa com 11 anos, querendo ajudar minha família. Tenho sete irmãos, uma mãe e uma esposa que dependem de mim. Hoje estou representando um grande clube, que é a Ponte, e minha mãe fica de barriga para cima, assistindo televisão. Então sei que tenho de continuar fazendo meu trabalho da melhor maneira possível”.

Paixão

“Eu mexo com paixão e tenho de saber lidar com isso da melhor maneira possível. Tenho o carinho deles (torcedores da Ponte). Então, quando falaram que eu ia embora, eles sentiram também, assim como muita gente sentiu. É respeitar o que eles sentem e procurar honrar dentro de campo. É o mínimo que eu posso fazer”.

“Hoje dei um ponto final nesse assunto (ir para o Corinthians). Claro que vão aparecer outras coisas. Quero deixar bem claro que, se um dia eu vier a sair, vai ser para o bem de ambas as partes. Que o torcedor não fique chateado. Se o Pottker mostrar bom resultado, vão vir coisas boas também para o escudo da Ponte, que é o mais importante. Vou dar sempre o meu melhor, pois dependo disso.

Sou o Pottker

“Não tenho porque o Pottker tirar o pé. Dependo disso, muitas pessoas precisam disso. Seria uma sacanagem muito grande comigo, com a minha família, com a Ponte, com o torcedor. Então o Pottker é isso aí. Não querendo aparecer, mas Pottker é vontade de fazer o melhor”.

(texto publicado no CHUTEIRA FC)