Paris, 8 dezembro de 2020

Paris, 8 dezembro de 2020. Esta data entra para história do futebol com o protesto de jogadores do PSG e Istanbul Basaksehir diante de ato racista do quarto árbitro da partida, aos 14 minutos do primeiro tempo.

Jogadores dos dois times se recusaram a dar sequência ao jogo após Pierre Webó, ex-jogador camaronês de 38 anos e integrante da comissão técnica do Istanbul Basaksehir, sofrer insulto racista do quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, nesta terça-feira.

Os atletas deixaram o campo do Parque dos Príncipes, em Paris, em protesto neste jogo importante e decisivo da fase de grupos da Champions League, torneio mais badalado e milionário do futebol internacional.

Um gesto duro, direto no queixo, nos dirigentes do futebol, no caso a Uefa, acostumados a “punir atos racistas” com multas pecuniárias e alguns dias de gancho aos envolvidos. Sem nunca levar a sério a gravidade do problema.

Neymar, atacante do PSG, muitas vezes acusado de omisso diante de questões raciais, não se escondeu. Olhou nos olhos do árbitro e disse: “Se esse cara (quarto árbitro) não sair daqui, não vamos jogar”. Mbappé teve o mesmo discurso.

Veja o comunicado oficial do Istanbul BasaKsehir:

“No jogo contra o Paris Saint-Germain, os nossos jogadores decidiram não entrar em campo devido ao racismo do quarto árbitro Sebastian Coltescu contra nosso assistente técnico Pierre Webo. Apresentamos ao público as informações. #NãoaoRacismo”.

Demba Ba (foto), atacante reserva do Istanbul, disse ao quarto árbitro:

“Por que na hora de falar de um cara branco você diz ‘esse cara’, e na hora de falar de um cara negro você diz ‘esse cara preto’?”

A Uefa (associação que comanda o futebol na Europa) se deu ao vexame de reiniciar a partida. Chegou a estipular um horário para retomada do jogo. E caiu na lona nocauteada pelos jogadores que se recusaram a jogar.

Sem convencer os jogadores, restou à Uefa adiar a sequência do jogo para esta quarta-feira (09/12) no mesmo Parque dos Príncipes.

A questão: Qual será a atitude da Uefa com o quarto árbitro romeno Sebastian Coltescu? E mais uma: Como a Uefa vai se penitenciar, se punir, neste caso grave de racismo?

Este é o racista: Sebastian Coltescu

Acompanhe como tudo começou, segundo relato do jornal El País, um dos mais importantes da Europa:

Foi um incidente sem precedentes em competições da UEFA e provocou um problema regulamentar inédito. Foi a primeira vez na história que duas equipes se uniram para protestar contra um árbitro por racismo.

Pierre Webó, ex-jogador camaronês de 38 anos que na Espanha defendeu o Mallorca e o Osasuna, atualmente faz parte da comissão técnica do Istanbul Basaksehir. Nesta terça-feira estava no banco da equipe turca quando o árbitro romeno Ovidiu Hategan o expulsou por protestar depois de uma indicação do seu quarto árbitro que, aparentemente, o identificou pelo fone de ouvido como “o negro”. Indignado, Webó se lançou sobre o denunciante e, antes de se retirar, punido, o recriminou por ter se dirigido a ele chamando-o de “negro”. “Por que me chama de negro?” gritou Webó. “Por que você me chama de negro?”.

Corria o 14º minuto de jogo. O placar marcava 0 x 0. Vozes de mal-estar ecoavam na arquibancadas vazias do Parque dos Príncipes. O incidente provocou uma discussão à beira do gramado. Demba Ba, jogador francês de origem senegalesa do Istambul, que estava no banco, agitou seus companheiros e exigiu a atenção do árbitro para denunciar Coltescu como racista. “Isto não é o campeonato romeno!”, dizia Demba Ba; “isto é a Champions League!”.

“O senhor é racista”, disse o técnico do Istambul, Okam Buruk, ao quarto árbitro, que permaneceu em silêncio. Mbappé e Neymar também se juntaram aos protestos enquanto explicavam ao juiz que o que seu assistente havia feito era inadmissível.

Escandalizados depois de dez minutos de debate, os jogadores do PSG, liderados por Mbappé e Neymar, se solidarizaram com seus colegas adversários. O delegado da UEFA desceu para mediar e Leonardo de Araújo, diretor desportivo do PSG, desceu para a área técnica, enquanto os jogadores resolviam por unanimidade abandonar o gramado em sinal de protesto. “Não ao racismo”, protestou o Istanbul BB em sua conta oficial no Twitter. A conta oficial do PSG retuitou a mensagem.

A UEFA divulgou um comunicado oficial: “Na sequência de um incidente envolvendo o quarto árbitro, o jogo PSG x Istanbul BB foi suspenso. Após consulta às duas equipes, chegou-se a um acordo para retomar a partida com outro quarto árbitro. A UEFA investigará o assunto em profundidade”.