França se credencia a disputar contra Argentina a final da Copa do Mundo Qatar 2022 com a vitória por 2 a 0 diante do surpreendente Marrocos. Chega à segunda decisão consecutiva. Em 2018 levou a taça para casa campeã em Moscou. Espera repetir a dose domingo em Doha no desafio com Messi. Marrocos para nesta semifinal. Por alguns dias sustentou a ilusão de que poderiam elevar a África Árabe aos céus.
Não foi possível no jogo. Mas no hino, marroquinos venceram os franceses. Convocaram o mundo a seguir seu chamado.
“Vamos fazer com que o mundo perceba que viveremos eternamente aqui. Seguindo nosso lema. Alá, a pátria e o rei.”
Encobrem a força da La Marseillaise. “Às armas, cidadãos! Formai vossos batalhões! Marchem, marchem! Que um sangue impuro. Ague o nosso arado!”
A vitória no hino não foi pela força de suas mensagens e música e sim pelo número de vozes a entoar o canto no estádio Al Bayt, a enorme tenda árabe armada no deserto em nome do futebol.
Maioria esmagadora na tenda, marroquinos empurram seus jogadores a engolir os franceses antes do apito inicial. Começa o jogo e a fervura abaixa. Um gol de Theo Hernandez, logo aos 4 minutos, em falha coletiva da defesa de Marrocos, soa como um golpe na linha de cintura dos africanos.
Torcedores, tingindo estádio de vermelho – a cor marroquina –, se aquietam por poucos minutos e depois levantam como guerreiros. “Viveremos eternamente aqui”, cantam e cantam.
A França não muda tom. Não consegue ouvir nenhum dos seus nas arquibancadas. Então trata de esfriar o jogo, marcando saída de bola marroquina e sem medo de ser contra-atacada. Inventa um faz de conta a iludir o adversário.
Jogo só pende para o lado de Marrocos quando o técnico troca sistema 5-4-1 por 4-4-2. Seu time ganha mais gente no meio campo e agilidade a levar a bola ao território francês. Investe nas arrancadas de Ziyech em sintonia de Hakimi e na criação de Ounahi, pernas longas e talento raro.
Falta dizer que os marroquinos queriam vencer os franceses também no cansaço de tanta correria.
E o empate esteve perto na sobra de um escanteio quando El Yamiq inventa uma chamada meia bicicleta obrigando Lloris e a trave salvarem a França. Era o último ato do primeiro tempo.
Começa a segunda parte do jogo e Marrocos vai na jugular da França. Ataca com quatro a seis na zona de gol embalado por quase 70 mil vozes. Criam três ocasiões de gol e param nas rebatidas dos zagueiros de azul.
Encurralada, atual campeã do mundo perde controle do jogo e, além de só se defender, vive de buscar Mbappé e sua velocidade de bólido.

A pergunta quando o jogo chega perto dos 30 minutos: até quando Marrocos ia correr sem freios no embalo de sua torcida?
Deschamps resolve mudar jeito da França jogar. Troca Giroux por Thuran e manda Mbappé fazer a função de centroavante se enfiado entre os dois zagueiros de base da defesa marroquina.
Africanos perdem um pouco o fôlego. Criam uma jogada solo com Hamdallah que pensou na placa antes de fazer o gol. Dribla franceses na grande área e se perde no último ato.
A resposta a esse gol perdido vem rápida. Mbappé aparece driblando na área marroquina, chuta, a bola resvala em um zagueiro sem sorte e sobra limpa para Solo Muani apenas empurrar à rede e apagar o fogo vermelho do estádio. Um silêncio desceu das arquibancadas. França 2 a 0.
Sonho marroquino se diluía antes mesmo de se concretizar. A França estava mais perto da final da Copa. Era tempo de fazer o tempo escorrer.
Era possível ver choro em meninos, mãos encobrindo rostos nos adultos e a ilusão perdida, mesmo que os africanos tivessem a ilusão por obrigação. Nunca foram tão longe numa Copa do Mundo.
No fim eles tombaram aplaudidos de pé pela imensidão vermelha. “Vamos fazer com que o mundo perceba que viveremos eternamente aqui”.
A França está na final da Copa do Qatar 2022. Domingo, dia 18/12, decide com Argentina quem será o dono do mundo. Mbappé x Messi.

Doha, 14 dezembro, 2022. Por Luiz Antônio Prósperi
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