Luiz Antônio Prósperi – 12 abril (11h33) –
Três mortos ainda insepultos traduzem a noite de horrores na segunda rodada da Libertadores, quinta-feira (10/4). No Chile e Brasil. Violência em estado puro no futebol. Dois adolescentes chilenos morreram atropelados por uma viatura da polícia nos arredores do estádio Monumental David Arellano, em Santiago, minutos antes do jogo Colo-Colo x Fortaleza. Na madrugada, um colombiano foi morto a facadas em Porto Alegre após o Internacional vencer (3 a 0) o Atlético Nacional de Medellín, Colômbia. Mortes trágicas, previsíveis. Amanhã serão apenas lápides de sepulturas frias enquanto o futebol discute o que fazer diante de tanta violência.
Não está em discussão nem mesmo a busca por culpados. Inútil sair por aí a caçar os responsáveis e os crucificar na semana da Paixão de Cristo.
Tragédias com a marca registrada dos vândalos dos estádios se repetirão enquanto não se resolver o embate entre facções de torcedores, forças policiais e organização de um mísero jogo de futebol. Claro, com a enorme cumplicidade dos dirigentes máximos do futebol e governos.
Facção organizada do Colo-Colo se manifesta após a morte de dois torcedores do clube: “Odeia os assassinos do Estado, que matam sem lei e sem arrependimento.”
O estado de violência no Chile é o foco do momento. Jogos entre Colo-Colo e Universidad Chile, o Superclássico de Santiago, adiados por falta de segurança e gente capaz de organizar uma grande partida de futebol. Autoridades se demitem de seus cargos criados para gerir a paz nos campos de futebol. Polícia local se diz impotente para garantir um estádio seguro. Dirigentes de clubes e Federação Chilena de Futebol estão rendidas e sem ação.
Não por acaso, o Chile ocupa o último lugar na tabela de classificação das Eliminatórias da Copa do Mundo 2026.
E não é só lá que as mazelas do futebol atormentam América do Sul. No Brasil a situação não é muito diferente. Mancha Verde, facção organizada do Palmeiras, está proibida de frequentar estádios no Estado de São Paulo ao ser condenada pela emboscada, com um morto, a torcedores do Cruzeiro na rodovia que liga São Paulo a Minas Gerais.
Facções organizadas do Corinthians também vetadas nos estádios paulistas por vandalismo na Neo Química Arena em Itaquera.
Todas medidas preventivas como essas não se mostraram ainda capazes de conter violência e destruição de jogos de futebol.
O contágio por sangue derramado é latente. Como um vírus a destruir vidas.
Veja o caso do colombiano morto nas cercanias do Estádio Beira-Rio do Inter, em Porto Alegre. Alejandro Lopera Zuluaga, 27 anos, foi a vítima de uma briga entre os próprios torcedores do Atlético Nacional Medellín. Um dos envolvidos na briga foi levado ao hospital em estado grave. Medellín já foi a cidade campeã da violência na América do Sul.
E o que dizem dirigentes de futebol?
Fifa “condena veemente os atos de violência ocorrido…”. A Conmebol, responsável pela organização da Libertadores, saca regulamentos da competição para punir clubes responsáveis pelas mortes e invasão ao campo.
Fortaleza, que teve seus jogadores ameaçados por torcedores chilenos na invasão do gramado aos 25 minutos do segundo tempo no jogo contra o Colo-Colo, espera ser declarado vencedor da partida. Conta com apoio irrestrito da CBF. Clube e confederação alegam motivos de sobra munidos com os devidos papeis dos regulamentos da Libertadores.
Fortaleza já sofreu atos de vandalismo, com pedras atiradas no ónibus do clube e jogadores feridos em noite de terror no Recife após jogo contra o Sport em 2024.
Os cadáveres dos adolescentes no Chile ainda nem estavam frios quando Fortaleza e CBF reivindicavam a vitória no jogo contra o Colo-Colo. Que vitória?





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