
Todo cidadão do mundo amante do futebol não tem o direito de se esquecer desse épico Liverpool 4 x 3 Borussia Dortmund, valendo vaga às semifinais da Uefa League nesta quinta-feira.
Nunca ou poucas vezes se viu uma lição de amor ao jogo da bola que esses dois times proporcionaram no estádio Anfield. E o resultado final, com a classificação do Liverpool, se celebrou com um banho de lágrimas, corações apertados e um canto único de uma torcida inebriada.
No meio dessa ciranda de emoções até o último minuto do jogo, surge a figura emblemática de Jurgen Klopp, técnico do time inglês e mentor da nova vida do Borussia nos últimos sete anos. Klopp, sem dúvida, subiu do andar dos comuns para para habitar o pavimento dos imortais do futebol.

Antes de entrar na epopéia desse jogo, bom lembrar que na primeira partida na Alemanha deu empate por 1 a 1. Em casa, o Liverpool jogava por uma vitória simples ou um empate sem gols. Boa vantagem e cenário perfeito para encaminhar a classificação sem sobressaltos.
Com este enredo, o Anfield entoou à capela a magnífica canção “You’ll Never Walk Alone” ( Você jamais caminhará sozinho) na entrada das duas equipes, como sempre faz. Por mais de cinco minutos, os torcedores contagiaram o estádio, a cidade e todo mundo que acompanhava o jogo pela televisão. Um apelo ao último grau da emoção.
Ao som desse hino de amor ao clube, se esperava um começo arrasador dos comandados de Klopp. Nada disso. O Borussia, assim como agia nos tempos de Klopp, começou demolidor. Fez dois gols em menos de 10 minutos, com Mkhitaryan e Aubameyang, e fez a multidão de vermelho apertar as mãos como se estivesse estrangulando a dor.

Em nenhum momento a torcida deixou de acreditar. Repetia e repetia o “Você jamais caminhará sozinho”. Os jogadores entenderam o recado que vinha das arquibancadas. Lutaram até o fim do primeiro tempo, mas não conseguiram diminuir a diferença.
A vida do Liverpool dependia apenas de 45 minutos. Teria de virar o jogo e vencer por no mínimo 3 a 2. Com 3 minutos, Origi fez o primeiro do time inglês. Nove minutos depois, quando o Anfield era um caldeirão de esperança, Reus fez o terceiro dos alemães. Mas a torcida vermelha insistia com “você jamais caminhará sozinho”.
Eletrizante, ritmo alucinante e uma repetição absurda de troca de passes, os dois times não desperdiçavam um palmo de grama. Klopp foi mexendo no time povoando seu ataque e buscando as jogadas pelas pontas e se rendendo ao amor dos torcedores.
Quando parecia quase impossível uma retomada do Liverpool, Philipe Coutinho fez o segundo gol, aos 21. Faltavam ainda mais dois gols para escrever uma das histórias mais marcantes do futebol.
Então Sakho fez o terceiro, aos 33 minutos. O gol da misericórdia seria questão de tempo, mas faltava pouco para o jogo acabar. Do outro lado, os alemães se defendiam como uma armada, que não entrega de jeito nenhum sua fortaleza.
Os vermelhos não desistiam. A torcida cantava, mesmo aflita. Tinha confiança, como sempre teve na história do clube, de que a vitória cairia como um nascer do sol no Anfield. E, aos 90 minutos, Loren, de cabeça, fez o quarto gol. O gol dos que não se entregam nunca, dos que nunca são abandonados no meio da estrada.
Klopp, quando a bola de cabeça de Lovren ganhou as redes alemãs, se virou para sua torcida. Queria sentir deles a imensidão da alegria. Viu que ninguém fica impune ao amor ao futebol. Seu nome, antes registrado nas páginas do Borussia Dortmund, agora estava impresso na história do Liverpool.
Ao apito final do jogo, jogadores e Klopp aplaudiram os torcedores. Um justo agradecimento aos que, desde há muito tempo, não deixam esse time caminhar sozinho.