CBF manobra e tira poder dos clubes

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Clubes brasileiros perderam o pouco poder que tinham nas decisões da CBF. Perderam por omissão. Sem a participação dos 20 clubes da Série A e com a presença apenas dos presidentes das 27 federações estaduais, a entidade presidida por Marco Polo Del Nero mudou seus estatutos e alterou a composição dos votos do colégio eleitoral na escolha do presidente da CBF. As 27 federações têm agora total poder para eleger quem será o sucessor de Del Nero.

A manobra, quase um golpe, aconteceu nesta quinta-feira (23/3), dia do jogo entre Uruguai e Brasil pelas Eliminatórias da Copa de 2018. Em uma assembléia sem a participação dos clubes e apenas com a presença das 27 federações, foi feita a mudança dos estatutos.

Antes da mudança, o presidente da CBF era eleito com os votos das 27 federações, 20 dos clubes da Série A e mais 20 dos clubes da Série B, todos com mesmo peso. Portanto, se houvesse união dos clubes, eles teriam 40 votos contra 27 das federações estaduais e elegeriam o presidente da entidade.

Com a alteração dos estatutos, os votos das 27 federações estaduais passam a ter peso 3, assim elas têm direito a 81 votos.

Os 20 clubes da Série A ganham peso 2 – 40 votos. E os 20 clubes da Série B, peso 1 – 20 votos. Somando os votos dos 40 clubes (Série A+B), eles teriam apenas 60. Ou seja, 21 a menos que as federações.

Portanto os clubes não têm mais como eleger o presidente da CBF sem abocanhar votos de algumas federações. Em compensação as federações têm poder total para escolher o sucessor de Del Nero.

Como as federações são parte do sistema que sustenta a hierarquia da CBF e ainda recebem mensalidades de R$ 50 mil cada uma da entidade maior, não há como um candidato fora da órbita delas e do atual comando da CBF vencer as eleições.

Outro obstáculo para uma candidatura alternativa é a cláusula de barreira imposta pela CBF que não sofreu alterações na mudança dos estatutos: o candidato deve ser indicado por pelo menos cinco federações estaduais e oito clubes. O que, convenhamos, inviabiliza qualquer candidato de oposição a se candidatar.

POR TRÁS DO GOLPE

Marco Polo Del Nero foi eleito presidente da CBF em abril de 2014, com 44 dos 47 votos possíveis, na sucessão a José Maria Marin. Ganhou um mandato de 2015 a 2019 e direito a uma reeleição para mais quatro anos de governo depois de 2023 – pode ficar até 2027 na presidência da CBF. Assumiu em abril de 2015. Naquele ano, Marin foi preso no escândalo da Fifa e ainda cumpre cárcere domiciliar até hoje nos Estados Unidos.

Del Nero também foi envolvido nas investigações da Justiça Americana acusado de corrupção e outras denúncias. Estava em Zurique quando levaram Marin algemado. Voltou às pressas ao Brasil e não mais arredou pé do País com medo de ser preso.

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Mas pode ser banido do futebol pela Fifa, que ainda não encerrou seu processo de expurgo de dirigentes envolvidos em escândalos de corrupção. Conselho de Ética da entidade não deu por finalizado o processo que analisa Del Nero.

Se Del Nero for banido pela Fifa ou denunciado e preso pela Justiça Americana, uma nova eleição terá de ser feita para se escolher novo presidente da CBF. No caso de seu afastamento temporário, assume o vice-presidente mais velho da entidade, o Coronel Nunes, da Federação do Pará.

Com a mudança do estatuto nesta quinta-feira, Del Nero e seus pares não correm mais risco de ser varridos do poder na CBF. Desunidos e sempre a beijar mão do cartola, clubes perdem prestígio nas decisões mais importantes da gestão do futebol brasileiro. Segue o jogo.

(texto publicado no CHUTEIRA FC)