Queda na fase de grupos da Copa Libertadores tira do Flamengo a possibilidade de faturar R$ 24,5 milhões ao final da competição. Essa seria a premiação paga pela Conmebol que o time carioca teria direito se fosse o campeão, acumulando cotas das oitavas de final até a decisão do título. Como caiu eliminado com a derrota (2 a 1) para o San Lorenzo, da Argentina, na quarta-feira (17/5), vai levar apenas R$ 5,7 milhões pelos três jogos que atuou como mandante nessa fase de grupo. Prejuízo financeiro e um desastre assustador do ponto de vista técnico.
Por azar do Flamengo, os outros clubes brasileiros continuam bem vivos na Libertadores. Atlético-MG, Santos e Atlético-PR carimbaram a vaga às oitavas de final nesta rodada de terça e quarta-feiras. Palmeiras, Grêmio, Botafogo e até a Chapecoense, a mais ameaçada de todos, têm ótimas perspectivas de avançarem na competição.
Fora da Libertadores, o clube carioca terá o Brasileirão, Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana para repor as perdas do cofre e recuperar a autoestima abalada com a saída precoce da competição internacional.
Evidente que o dinheiro pesa nesse momento de lamúrias, mesmo com o orçamento do clube batendo alto na casa dos R$ 450 milhões – com cerca de R$ 215 milhões destinados aos futebol – na temporada 2017. Diante desse aporte financeiro, ficar sem os R$ 24,5 milhões de premiação da Conmebol não chega a ser uma tragédia absurda. Duro mesmo é explicar ao torcedor os motivos que levaram o time a deixar a cobiçada Libertadores tão cedo.
Havia um forte entusiasmo entre os flamenguistas desde meados de 2016 quando o clube brigou na ponta com Palmeiras, Atlético-MG e Santos pelo título do Brasileirão. Tudo indicava que em 2017 seria o ano da redenção.
Somando os investimentos em contratações da temporada passada, cerca de R$ 67,7 milhões, mais os R$ 15 milhões gastos até agora, o clube despejou pouco mais mais de R$ 80 milhões em atletas do porte de Diego Ribas, Berrío, Rômulo, Trauco, Conca, entre outros.
Fortaleceu o time e insistiu com o aprendiz de treinador, Zé Ricardo, até então um técnico de currículo inexpressivo formado na própria categoria de base do clube. Talvez esse tenha sido o erro mais grave da direção.
Zé Ricardo ganhou status no Flamengo ao substituir Muricy Ramalho, afastado por problemas de saúde, em julho do ano passado. Na condição de interino comandou o time em 11 jogos e chamou atenção dos dirigentes a ponto de ser efetivado no cargo. Como conseguiu bons resultados e inebriou a torcida com a possibilidade de ser campeão do Brasileirão, o treinador conquistou definitivamente a alta cúpula do clube. Ao final, acabou no terceiro lugar do campeonato nacional.
Todo o projeto de 2017, com alto investimento e projeção de ser campeão da Copa Libertadores e embicar a disputa do Mundial de Clubes em Abu Dhabi no fim deste ano, foi montado em cima de Zé Ricardo.
Não passava pela cabeça dos cartolas de que Zé Ricardo não teria estofo para levar o time em águas calmas, pelo menos na primeira fase da Libertadores. Quando foram prestar atenção, o time carioca não havia vencido nenhuma das duas partidas fora de casa e culminou com a terceira derrota longe do Rio nesta quarta-feira diante do San Lorenzo.
Uma campanha sem brilho, sem convencer e, agora, irremediável. Ainda no clima da eliminação e do pânico geral, o presidente Eduardo Bandeira de Melo, muito irritado, disse na saída do Estádio do Gasômetro, em Buenos Aires, que Zé Ricardo tem a sua confiança e não será demitido.
“Se alguém está pensando que cabeças rolarão, se alguém está pensando em caça às bruxas, pode tirar o cavalo da chuva que não vai acontecer. Se alguém está comemorando nossa derrota, parabéns, mas vamos continuar nosso trabalho para melhorar. A avaliação e a cobrança são feitas permanentemente. E vão continuar. Agora temos uma ferida para cicatrizar e só vai melhorar com muito trabalho. Sei que tem falsos rubro-negros, que sempre torceram contra, que já estão comemorando”, disse Bandeira de Melo.
Sem caça às bruxas, o presidente tem de prestar atenção no trabalho de Zé Ricardo, um treinador blasé, de currículo que cabe no verso de uma folha A4, sem aquela chama que incendeia os flamenguistas, e de pouco conhecimento. Prejuízos financeiros são fáceis de se recuperar, ganhar jogos é outra história.
(texto publicado no CHUTEIRA FC – leia mais notícias e opinião de futebol)