Flamengo desbrava janeiro de 2019 com novas ideias. Orçamento a perder de vista com cacife a formar um esquadrão. De cara, torra pouco mais de R$ 100 milhões em reforços, pregando um susto na concorrência. Era preciso ganhar campeonatos importantes a patentear a reestruturação do clube iniciada há mais de seis anos.
Quando a euforia tomava conta da sede na Gávea e entre milhões de rubros-negros Brasil afora, um incêndio devora contêineres-abrigo dos garotos da base no Ninho do Urubu. Dez meninos morrem queimados. Outros tantos escapam do fogo, não do pavor e do trauma.
Tragédia ou não, a tamanha irresponsabilidade abala os alicerces do Flamengo. Mundo para a chorar os garotos mortos e a consolar famílias sem consolo.
Perguntas ficam sem respostas. Estão assim até hoje diante do impacto da perda de pequenas vidas cheias de sonhos.
A bola rola. Cresce a certeza de que estaríamos diante de um timaço. A expectativa de um futebol devastador aos adversários não se confirma. Vitórias e mais vitórias contestadas. Título, como o de campeão carioca 2019, cai em desprezo.
Abel Braga, ungido a fazer a máquina encantar, vira alvo de um tiroteio sem fim. Nada a ver com megalomania sádica do governador Wilson Witzel a alvejar favelados a bordo de helicópteros da polícia.
Tiros disparados contra Abel vinham e ainda partem dos críticos de plantão, de torcedores adeptos das redes na internet e de outros desafetos. #ForaAbel viraliza nas mídias sociais.
Resultados normais dentro de campo pisados como imprestáveis ao colosso Flamengo.
E aí aparecem dirigentes desconectados da realidade a publicar notas oficiais em defesa do panteão, de Abel, dos jogadores, da instituição a quem eles chamam de Nação.
Na desmedida carreira para valorizar os feitos do time e comissão técnica enaltecem a conquista da Florida Cup nos Estados Unidos, quando o esquadrão rubro-negro bateu um misto de profissionais e juniores do Ajax, da Holanda, no torneio de verão americano. Ajax este que encantaria o mundo com seus garotos da fuzarca em jornadas da Champions League.
Ao dar peso que não tem à Florida Cup, dirigentes atiçam as ironias. Ironias engraçadas quando rebatizaram a Florida Cup de Copa Mickey e picharam muros da sede na Gávea e Ninho do Urubu em protesto ao baixo futebol do time no Brasileirão e Libertadores.
Um desavisado diretor de relações externas chega a dizer que a pichação não era coisa de torcedor comum porque o tal torcedor comum não saberia escrever a grafia correta de “Mickey”. Então tá. Era coisa de política interna do clube, disse o desavisado.
Assim chegamos quase ao fim do mês maio. Flamengo levado a pegar no tranco, irregular no Brasileirão, sem convencer na Libertadores e com sopro de vida na Copa do Brasil ao bater o Corinthians na Arena em Itaquera no jogo de ida.
Flamengo está num labirinto encantado, cheio de corredores floridos, mas sem um jeito de encontrar o portão de saída. Quem sabe Mickey não possa tirar o Flamengo do mundo da fantasia em que se meteu? A conferir.