Flamengo amplia seu império no futebol nativo. Conquista o bi do Brasileirão empilhando a taça de 2020 em cima da 2019, na temporada dominada pela Covid. Mais que um campeão, clube carioca é um sobrevivente nessa travessia de um campeonato com pandemia devastadora.
De março de 2020 (começo da pandemia no Brasil) a 25 fevereiro de 2021 (última rodada do Brasileirão), 365 jogadores dos 20 clubes da Série A foram infectados pelo coronavirus – sem contar treinadores e profissionais das comissões técnicas e dirigentes –, segundo levantamento do site Goal, com dados até a 37.ª rodada (penúltima do campeonato).
Ao longo do Brasileirão 2020 a maioria das críticas de analistas e da mídia esportiva em geral se debruçou no baixo nível técnico dos jogos.
Em escassos momentos de lucidez se atentou ao fato de que jogadores são seres humanos.
Disparado, foram os jogadores os mais atingidos pela pandemia quando se leva em conta apenas o universo do futebol.
Quando a peste começou a tomar conta do Brasil, os atletas saíram de cena encarando mais de 100 dias de inatividade. Perderam massa muscular, condicionamento físico e técnico. Salários reduzidos.
Não raro entraram em pânico com medo do contágio e, por consequência, levar o vírus até suas famílias e agregados. Um duro golpe emocional.
“Eu particularmente fiquei muito preocupado, não comigo, mas com a minha esposa, com a minha filha. Para mim, o que afetou mesmo foi a minha cabeça, foi o lado psicológico, questão que sou muito preocupado com minha família. Saber que eu contraí esse vírus e que não é uma brincadeira. Levar esse vírus e ela ter sido infectada, me deixou com muito medo, mas Papai do Céu tem sido bom na nossa vida e cuidou dela mais uma vez” – Tadeu, goleiro do Goiás, ao site ge.globo.
No campo de jogo, teriam de se vestir de super-heróis com plenos poderes. Inatingíveis. Verdadeiros homens de ferro.
A cada chute errado, lance bizarro, jogo travado sem grandes emoções, diminutos momentos de bom futebol, torrenciais críticas se derramavam nos jogadores e com alta dosagem de culpa em cima dos treinadores. E tome uma demissão atrás de outra, sem poupar técnicos estrangeiros recém-chegados ao futebol brasileiro.
Como se o horror fora dos estádios não fosse o mesmo horror dentro de campo.
No dia 10 de agosto de 2020, abertura do Brasileirão, o país alcançava a triste marca de 100 mil mortes por Covid. No dia 25 de fevereiro, no encerramento do campeonato, os mortos eram pouco mais de 250 mil.
Em sete meses de Brasileirão, morreram 150 mil brasileiros.
Em meio a tudo isso, estádios vazios. Solidão das arquibancada ao vento. Como se a multidão estivesse em silêncio profundo.
É por tudo isso que o Flamengo aparece mais como um sobrevivente a uma conquista memorável. Dono de um grupo de jogadores mais bem qualificados que a maioria dos concorrentes, o clube carioca engatou vitórias imprescindíveis no momento crucial do campeonato. E levantou a taça do Brasileirão 2020.
As questões do famigerado VAR, calendário desumano e outras interferências não entram no mérito desse debate. A realidade é clara: Flamengo é campeão da sobrevivência no país do futebol dominado pela Covid.
Jogadores infectados pela Covid nos 20 clubes da Série A Brasileirão 2020:
