Vinicius Junior está sozinho na luta contra racismo no futebol.
Não fosse sua atitude diante de racistas espalhados em todos cantos e estádios, em especial da Espanha, o manto do preconceito continuaria impávido cobrindo a grama verde sem contestação.
Vini, cansado de engolir seco, resolveu agir provocando um tsunami a varrer o mundo do futebol.
Desde domingo, quando levou um mata-leão de um desprezível jogador do Valencia, o brasileiro bom de bola engrossa a voz produzindo uma série de manifestos, em imagens, áudios e textos, nas redes sociais. Avassalador. Sacudiu até o colossal Real Madrid, seu clube que o condena a permanecer ali preso a uma multa contratual de 1 bilhão de euros (algo perto de R$ 5,3 bilhões).
Tão devastador a ponto de mover a seu favor paquidermes na mídia em geral. Do sempre imponente New York Times aos tabloides futebolísticos populares espanhóis. Do The Guardian, de Londres, ao El País, de Madri. E fez a Espanha passar vergonha ou, pelo menos, se sentir incomodada com a roupa de racista que lhe veste bem.
Ateou fogo no paiol. Parte do Brasil se levantou solidário a Vini – do presidente Lula aos ativistas, do castelo da CBF a ex-jogadores, clubes e federações, do torcedor comum ao mais desavisado cidadão. Todos a cobrar a Espanha, infestada de racistas não é de hoje. Vem de longe.
O atacante de 22 anos, preto, nascido em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, criado até adolescência na pequena Macuco, Região Serrana, a 175 quilômetros da capital fluminense, diz que não desistirá da luta.
Vini sabe o risco que está correndo. Nem mesmo entre seus pares, a desunida classe de jogadores, tem apoio irrestrito. Perseguido nas arquibancadas e na relva verdejante, vai ter de se desdobrar ainda mais para continuar jogando futebol em alto nível. A bola será sua única companheira fiel.
Vini Jr já não é mais apenas um craque a desfilar na corte do Real Madrid. Assume agora a sina de símbolo contra o preconceito.
Pretos, lendas ou pernas de pau do futebol, sofrem o peso da cruz na travessia de suas carreiras em todos cantos do mundo. A maioria deles chora escondendo a dor da discriminação.
Vini Jr é um entre milhares desses pretos. Ao não derramar lágimas escondido, surge como um cavaleiro solitário aclamado pela multidão na luta contra castelos até aqui indestrutíveis guardiões do racismo.
Vini, o cavaleiro solitário. Não sejamos hipócritas.