Luiz Antônio Prósperi – 17 maio – (12h25) –
Ednaldo Rodrigues não faz nada de diferente da maioria dos cartolas do futebol brasileiro. Segue à risca todos os fundamentos dos empoderados. Presidente de uma federação estadual, a da Bahia, estende seu mandato por 17 anos entre 2001 a 2018. Antes de tudo isso, se imagina jogador profissional e não vai além de um reles boleiro amador na mocidade até se embrenhar nos afazeres das Ciências Contábeis. Entra na Federação Baiana em um obscuro departamento lá pelos idos de 1992, vira presidente, fica por lá à espreita da CBF. E aí, a partir de 2022, comete o pecado capital: chegar à presidência da CBF.
Negro, descendência indígena, nascido em Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, Ednaldo continua seguindo os mandamentos da cartolagem. Não muda uma vírgula do script. Ao deixar o reinado de 17 anos no comando da Federação Baiana, ingressa na CBF eleito vice-presidente em 2018.
Aos poucos, sereno, sem alarde, se imiscui nas salas palacianas da entidade maior do futebol brasileiro. Conhece as mumunhas de perto da grã-cartolagem. Decora como se pratica o modus-operandi em busca do poder. Nada por baixo do pano. Tudo às claras como seus pares praticam por décadas e décadas.
Caminha no pântano como se estivesse de sandálias de couro no chão duro nordestino. Prova ao contrário, Ednaldo não comete nenhuma ilegalidade até chegar ao grande dia. Em junho de 2021, o presidente Rogério Caboclo, um paulista aprendiz de cartola, é afastado da presidência da CBF, após denúncias de assédio moral e sexual por uma funcionária da própria CBF.
Por ordem do estatuto da entidade, o vice-presidente mais velho entre os oito vices seria nomeado presidente. Ednaldo levanta o dedo. Sou eu. Aos 67 anos, Ednaldo assume a presidência da CBF, o cargo máximo do poder no futebol brasileiro.
La vai o bom baiano, preto, descendência indígena, fala mansa, assumir o trono. Consciência tranquila. Não havia feito nada de diferente de outros cartolas para escalar a montanha.
O que Ednaldo não esperava era a reação dos subterrâneos do futebol.
Enquanto se exaltava na Fifa o orgulho de ser o primeiro preto da história a comandar a CBF, velhas oligarquias de juristas cariocas, com ligações quase umbilicais com o futebol, começam a revolver a lama.
Ligeiro, Ednaldo Rodrigues busca apoio nas esferas mais altas do judiciário nacional. Gente graúda do Supremo Tribunal Federal. Se cerca de políticos com bom trânsito em Brasília. Se sustenta no poder sem fugir da legalidade.
Enquanto isso trata de alimentar os pombos, diria, os corvos. Aumenta mesada a presidentes de federações estaduais, prática comum entre os outros mandatários da CBF. Abre as portas do palácio e faz se sentar à mesa das decisões os clubes das Séries A e B.
Em março de 2025, se elege presidente de fato para um mandato de 2026 a 2030 – eleito por unanimidade dos votos das 27 federações e 40 clubes (Séries A e B).
Seguro de que ninguém, ninguém mesmo, puxaria o tapete aos pés de seu trono, Ednaldo se imagina um Rei Sol.
Um a um vai eliminando de sua frente possíveis desafetos. Deveriam ser despachados dali os dirigentes, assessores e funcionários com alguma ligação a ex-presidentes Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, os três banidos do futebol pela Fifa, e Rogerio Caboclo.
Por ordem de Ednaldo, CBF deveria limpar tudo, qualquer vestígio das pegadas dessa gente.
As salas da entidade instalada na Barra da Tijuca se escurecem como verdadeiros mausoléus. Silêncio em vez da algazarra típica da cartolagem.
De repente, Ednaldo estava sozinho vivendo a solidão de um oligarca. E o pântano revolvendo no embate de juristas e oportunistas de plantão.
Isolado, Ednaldo toma decisões impróprias no que o futebol nacional tem de mais precioso: a Seleção Brasileira, o coração sagrado.
Por incompetência concede a Seleção a treinadores interinos e sem lastro para assumir os destinos do time maior campeão do mundo. Debacle total.
No seu último ato, enfim, convence o italiano Carlo Ancelotti a tomar conta do escrete. Teria oferecido salários de R$ 5 milhões a Carleto.
Tudo certo? Nada feito. Ancelotti vem. Mas não se encontrará com Ednaldo na Barra da Tijuca.
O presidente é apeado da CBF num arremedo de golpe jurídico.
O que teria Ednaldo feito de errado se ele cumpriu com rigor as “leis” dos donos do poder do futebol?
Não fez nada de diferente de seus antecessores para se sustentar na presidência.
Nomeou apaniguados, aumentou a mesada dos súditos, se aliou a juristas do alto escalão e tudo mais.
Um cochilo, as mãos que embalam o berço sacodem forte e o bom baiano cai da rede.





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