Quando Marcos pediu arrego no Palmeiras, cheio de dores espalhadas por seu corpo, tirou as luvas e guardou tudo num armário. Era unânime o fim de sua carreira. Futebol seria um instantâneo na sua vida, entre pôsteres na parede, fotos nas redes sociais, idolatria nas ruas, estádios e a glória eterna de campeão do mundo em 2002 com a Seleção Brasileira e santo no Palestra. Com Rogerio Ceni é diferente. O ex-goleiro entende que pode ir mais longe. Já fez tudo o que Marcos fez, falta algo mais. Por isso faz do São Paulo, sua pátria e sua língua, refém de seus desejos.
Ceni não quer ser Marcos. Quando o santo do Palmeiras se despediu do futebol, passou a vagar entre ações obrigatórias de marketing ligadas ao clube e sua história. Quando não tinha de dar satisfação a ninguém, não raro era visto sentado num banco de uma praça perto do Palestra Itália a curtir a aposentadoria. Meu canto, minha vida. Ninguém enche meu saco.
Com Rogerio Ceni isso não funciona. O ex-goleiro, mito eterno no clube, enfiou na sua cabeça que vai ser técnico do São Paulo, logo ali em janeiro 2017 ou em meados do ano que vem. Não há um Cristo que o demova dessa ideia.
É como se o Tricolor tivesse a obrigação de atender aos seus desejos.
Não fosse assim, que diabos fazia Rogerio Ceni no Morumbi nesta noite chuvosa de quarta-feira (09/11) no jogo do Sub-20 do São Paulo contra o Sport Recife pela Copa do Brasil da categoria?
Estava lá ao lado de assessores e gente da diretoria do São Paulo. Não foi ao estádio apenas para dar força aos meninos. Até que ele mesmo esclareça, foi até lá para mostrar aos dirigentes e presidente do clube que, pode sim, iniciar sua carreira de treinador nas categorias de base do Tricolor, apesar de querer, já, o time profissional.
Por mais que possa alegar que estava ali por amor ao clube, soa como uma pressão aos cartolas.
Rogerio Ceni tem todo o direito, como todos ligados umbilicalmente ao São Paulo, de frequentar o Morumbi, os jogos dos profissionais e dos meninos da base. O problema é que, ao declarar em público com certa insistência que vai ser treinador do Tricolor, sua presença nas tribunas do estádio é traduzida como pressão.
Como diz Cristiano Ronaldo ao comemorar seus gols, Ceni também grita: “Eu Estou Aqui”.
Enquanto isso, Marcos cochila num banco de uma praça nas Perdizes.