O mundo não parou para ver o que aconteceu no Camp Nou nesta quarta-feira, 8 de março de 2017. Mas deveria ter parado. Vai ser muito difícil viver outra noite como essa quando o futebol se fez presente na sua plenitude. Carregando uma cruz com quatro gols no jogo de ida em Paris, o Barcelona teria de vencer o PSG por pelo menos 5 a 0 para avançar às quartas de final da Champions League. Mesmo com o Camp Nou impregnado de certeza e esperança, a tarefa seria árdua. E até os 43 minutos do segundo tempo, quando já estava quase tudo consumado, ninguém poderia acreditar na ressurreição do Barça. Como esse time tem Neymar é preciso acreditar em milagres. Aconteceu. Vitória épica por 6 a 1, com digitais do craque brasileiro, e vaga carimbada. Acompanhe essa epopéia.
Barcelona dos gols vistosos, futebol de excelência, arrancou uma vantagem no primeiro tempo a fórceps diante de um acanhado PSG. Fez 2 a 0 em lances estranhos, de trombadas e tropeços. Suárez conferiu o gol de abertura, com míseros três minutos, e Kurzawa, contra, fechou a primeira parte do jogo. Barça teria de marcar mais dois para levar a decisão à prorrogação ou mais três para não se falar mais nisso.
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Do jeito que atuou nos 45 minutos iniciais não seria difícil prever um ato histórico do clube catalão. Luiz Enrique, condenado e crucificado após a derrota cruel em Paris no jogo de ida, teve a ousadia de bancar seu time com três zagueiros (Mascherano, Piquet e Umtiti), três meias (Raktic, Búsquets e Iniesta) e quatro atacantes (Rafinha, Messi, Suárez e Neymar). Uma formação incomum e corajosa.
Com essa estratégia, asfixiou o PSG. Acabou com o oxigênio de Verratti, Rabiot Matuidi, trio que havia devorado os meias do Barcelona no Parque dos Príncipes. Sufocados, os três não conseguiram levar a bola ou acionar Cavani, Draxler e Lucas Moura. Aliás, esses três foram obrigados a recuar para dar suporte ao sistema defensivo, tamanha avalanche azul-grená no campo do time francês.
Faltava ao Barça, em comunhão total com a multidão no Camp Nou, Lionel Messi pedir passagem, se é que um craque desse porte tenha de pedir passagem. Então, começa o segundo tempo e Neymar sofre pênalti. Messi pega a bola, ajeita na marca branca, olha para o goleiro, depois de novo para a bola e bate duro: 3 a 0. Faltavam dois gols para demolir as estruturas da Champions League, afinal de contas nenhum time havia revertido uma desvantagem tão maiúscula de quatro gols de diferença.
Tudo encaminhado não fosse um tal de Cavani aparecer e marcar o gol do PSG, aos 16. Gol de apagar o fogo do caldeirão, gelar corações e esfriar a alma. Toda esperança de uma noite épica estava quase enterrada. Quase. Quando se tem Neymar no seu time tudo é viável, a escuridão se iluminar, o mar se abrir.
O jogo se arrastou a favor do covarde PSG até os 43 minutos. Fiel ao esquema de se defender até o último minuto e desprezar o ataque, o time de Paris não acreditava em Neymar nem mais no poder do Barcelona. Ele, que havia sofrido o pênalti convertido por Messi, tinha agora a missão de bater uma falta, ali no setor esquerdo. Com precisão impressionante, fez o quarto gol. Restavam migalhas de tempo para o milagre.
Então aqueles deuses do futebol estenderam seu manto no Camp Nou. Di Maria, herói em Paris no jogo de ida, virou o vilão do PSG. Perdeu o gol mais feito do jogo, cara a cara com o goleiro alemão.
Na sequência, com chama a meia boca acesa no estádio, Suárez sofreu pênalti de Marquinhos – alguns árbitros não dariam, mas o juiz alemão apitou. Neymar pediu licença a Messi, ajeitou a bola e bateu com a frieza dos imortais do futebol: 5 a 1. Restavam três minutos dos acréscimos. No lugar das lágrimas barcelonistas, corações em fogo. Nervos esgarçados.
Neymar, mais uma vez, teve a frieza do lance capital. Bate a última falta do jogo, a zaga rebate e na volta o craque brasileiro levanta na medida para Sergi Roberto, que havia entrado quando faltavam nove minutos para o encerramento do jogo. Criticado à beça na temporada, Sergi Roberto estica o pé até o limite e manda a bola para o gol: 6 a 1, a 20 segundos do final da partida.
Pronto, os tais deuses desse negócio chamado futebol já poderiam se levantar e ir embora. Camp Nou em êxtase puro. O Barcelona estava classificado às quartas de final da Champions League. Ao PSG, lágrimas de dor e um castigo cruel de um time que se acovardou e mostrou não estar preparado ainda para voar mais longe na Europa. E ao Barça, o simples. Gigantes não tombam com um sopro.