Quando se assume inferior ao adversário, é preciso levar essa condição do início ao fim do jogo. O São Paulo entendeu que deveria ser pequeno diante do Corinthians no clássico neste domingo. Assumiu essa postura e, no momento que poderia surpreender, pagou caro com erros ridículos de sua trinca de zagueiros Lucão, Maicon e Douglas. Do outro lado, em nenhum momento deixou de ser grande, mesmo com alguma soberba nos últimos dez minutos da partida.
Rogerio Ceni desde o anúncio das escalações dos times deixou claro qual seria sua proposta. Defender com uma armada de três zagueiros e cinco no meio e atacar com dois panzers. Era o reconhecimento de que deveria inibir a rápida troca de passes, as tais triangulações, do Corinthians e minar a defesa com a força física de Gilberto e Pratto.
Na primeira investida do dono da casa, o esquema de Ceni ruiu com os brutamontes Maicon, Douglas e Lucão batendo cabeça. Romero escapou como um camundongo entre os gigantes e chegou livre para espetar o primeiro gol antes dos dez minutos de jogo.
Outros dois lances bem parecidos com esse se repetiram na área do São Paulo. Os gols não saíram por capricho.
Por uma bênção, o time de Ceni ganhou uma falta de presente para levantar a bola na área. Jucilei executou bem e Gilberto, de cabeça, empatou o clássico.
O gol sofrido fez o Corinthians baixara guardar, diminuir o ritmo e se deixar envolver com a descida dos meias adversários. Havia receio de sofrer mais gols no bombardeio na área – a bola parada –, uma evidente deficiência da zaga.
Quem era inferior cresceu um pouco e até reequilibrou o clássico. Seria uma toada interessante e uma isca para atrair o time grande a seu campo. Uma questão estratégica.
De repente, Maicon imaginou que era um zagueiro de fina estampa, acima da média. Cometeu um erro de principiante e não teve pernas para alcançar Jô. Douglas e Lucão, parceiros de Maicon, não entenderam nada. Jô esticou, bateu leve, Renan deu o rebote, Lucão furou e Gabriel fez o segundo gol corintiano.
No segundo tempo, Ceni desmanchou a trinca de zagueiros, com a saída de Lucão e a entrada do lateral Bruno. Deixou de pensar pequeno. Nem deu tempo para ver se funcionaria ou não. Em quatro toques, entre Jadson, Romero e Jô, o artilheiro envolveu Douglas com extrema facilidade e foi derrubado: pênalti. Jadson converteu.
Dali para frente, Corinthians poderia ampliar a contagem sem a menor resistência. Não fosse a soberba em lances de execução comum, poderia ter feito pelo menos mais dois gols. Quando parecia confortável no controle do jogo, levou o gol de Wellington Nem e sofreu, sem necessidade, até o fim com a possibilidade de ceder o empate.
Ao final garantiu a vitória por 3 a 2, aumentou a pontuação na liderança do Brasileirão e cumpriu bem seu papel de time grande em busca de algo maior no campeonato. Quanto ao São Paulo, ao se reconhecer inferior ao adversário no início do clássico, apresentou suas credenciais.