Discussões inúteis a respeito da queda de Rogerio Ceni incendeiam o futebol nesta segunda-feira. Há os que defendem o ex-goleiro – ele não seria o culpado pelo estado de calamidade técnica que vive o time. Há ainda os que o condenam – seria arrogante por investir na carreia de treinador e assumir logo de cara um clube do tamanho do São Paulo apenas porque lá é um mito.
A sangue frio, não é muito difícil entender que Ceni não cabia mesmo no Morumbi.
Se ao se transformar de ex-jogador em treinador, em pouco mais de um ano após o encerramento da carreira, Ceni tivesse procurado outra freguesia em vez do Tricolor talvez nada disso teria acontecido. Mas, envaidecido, se impôs desde início como o técnico do clube que, ele diz, ama acima de todas as coisas.
Ao se oferecer foi correspondido por uma casta de dirigentes tão igual à de centenas espalhadas por esse Brasil afora. Fosse uma diretoria coerente, de pulso, jamais teria procurado Ceni em busca de uma nova comunhão.
Oportunistas, deram ao mito o comando do time – o bem mais precioso do clube – para tomar conta. Nem se importaram com as invenciones do aprendiz que, jurava aos mais íntimos, iria promover uma revolução no São Paulo e semear novos conceitos no futebol brasileiro.
Não perceberam, ou fingiram não perceber, que as ideias de Ceni só prosperariam com um trabalho a longo prazo e não com o imediatismo dos resultados em campo.
Sabiam esses dirigentes também que se a “revolução” não acontecesse, não teriam o menor pudor em despedir o ex-goleiro, agora treinador. Muito menos se importar se o mito iria ou não para a lata de lixo.
Na posição mais confortável do mundo, não pensaram duas vezes para executar a demissão. Olharam a tabela de classificação do Brasileirão e as recentes quedas no Paulistão, Copas do Brasil e Sul-Americana e deram um basta.
Agiram como seus iguais de outros clubes. Se desfizeram do mito por meio de um comunicado oficial de pouco mais de 10 linhas.
Rogerio Ceni, do seu lado, apesar da vasta quilometragem de jogador de futebol, se deixou levar pela inocência. Imaginou que, por pensar acima da média no seu mundo, poderia implantar a tal transformação no jeito de um time jogar no Brasil.
Seu projeto ambicioso desmoronou. Ceni deveria ser o primeiro a reconhecer que não cabia mesmo no São Paulo. A revolução deveria ter começado por baixo.
No futebol, ganância e sede demais ao pote quase nunca terminam bem.
A nota oficial do São Paulo:
“O São Paulo FC comunica que Rogério Ceni deixa o comando técnico de sua equipe principal. Em sua passagem como treinador, Ceni demonstrou a dedicação e o empenho que o caracterizaram como atleta. Desejamos boa sorte a este que sempre será um dos maiores ídolos de nossa história.”
“O respeito e o reconhecimento pela grandeza de Rogerio Ceni, como figura histórica desta instituição, serão eternamente celebrados”, assina o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.