Tite não pode ser carrasco, nem julgador dos atos de Neymar. Sua missão é conduzir a Seleção Brasileira, para isso é pago, e bem, pela CBF.
Neste momento quem deve responder por Neymar é o próprio jogador, seus pares, a polícia, a Justiça.
Não cabe ao treinador da Seleção punir ou não o craque com um corte do time na Copa América que se avizinha. Se espetar a espada vai passar a imagem que, sim, Neymar é um estuprador sem antes de a Justiça assim determinar.
“Não me permito pré-julgar”, disse o técnico nesta segunda-feira (03/6).
No ambiente interno do grupo de jogadores, Tite já fez sua parte ao tirar de Neymar a braçadeira de capitão. Uma advertência de que seu melhor jogador não está acima de todos, para usar um jargão infeliz nesses dias infelizes de agora.
De resto, tem de tratar o astro como trata todos os outros 22 jogadores convocados, sem moralismo barato, sem pecado de ter que dar satisfação à essa entidade de nome torcida brasileira.
Tite tem de tocar sua vida. Fazer a Seleção jogar bola, convencer. Desde o fiasco na Copa do Mundo da Rússia há um ano, o escrete não joga mais nada, não convence a ninguém. Pior, é geradora de uma antipatia há tempos não vista no país pentacampeão mundial.

Cabe a Neymar dizer a si mesmo e ao seu chefe se está em condições de jogar a Copa América com a camisa 10 da Seleção Brasileira.
Não é nada salutar Neymar observar da janela de seu quarto no alto da concentração na Granja Comary a viatura da Polícia Civil entrando no condomínio com intimação ao jogador. Ou muito menos ser retirado de um treinamento para receber um ofício da Justiça.
Neymar está no paredão. É chegado o momento de escolher o caminho que se apresenta na encruzilhada: ou reinventa sua carreira no futebol e sua vida pessoal ou pode entrar para história como aquele derrotado, de ungido pelos deuses a um reles mortal, apesar da fortuna amealhada com seu talento em pouco mais de dez anos de carreira.
A Copa América é mais um oportunidade que cai no colo de Neymar para dar uma guinada, um cavalo de pau, no seu destino no futebol. São raros os profissionais que têm uma chance atrás da outra de mudar o rumo dos ventos. Neymar tem esse pote de ouro nas mãos.
Que se defenda na Justiça da acusação de estupro. E, se for inocentado, que trate de jogar bola no mais alto nível.
Seleção Brasileira nunca vai ser refém de Neymar. Nunca foi de nenhum jogador, nem mesmo de Pelé, o supremo.
Por isso Tite não deve nem pode cortar Neymar da Seleção neste momento de graves implicações pessoais do craque. No campo, onde Tite dá as ordens, Neymar é mais um jogador de futebol. Fora da relva verde, Neymar da Silva Junior é um cidadão comum. Que ele responda por seus atos.