Qatar 2022 entra no livro das Copas do Mundo como uma das mais “democráticas” de todos os tempos. Semifinais com seleções da África, América do Sul, Europa Leste e Europa Central é algo inédito no futebol.
Quis a bola premiar tamanha disparidade numa Copa condenada por ser disputada em um país que não respeita direitos humanos, por ser homofóbico e discriminar as mulheres. Qatar tem sido atacado desde 2010, quando, por manobra da Fifa e acusação de propinas de milhões de dólares, ganhou direito de ser a sede e organizar o Mundial de 2022.
Marrocos, na África Árabe, é um exemplo do futebol democrático da Copa 2022. A surpreendente classificação inédita às semifinais, eliminando Portugal, uma das potências europeias, é um feito extraordinário de se registrar na eternidade do futebol.
Portugal tombou diante de Marrocos na quartas de final, assim como a Espanha havia sido eliminada nas oitavas por essa seleção africana de muita gana, estratégias táticas e jogadores acima da média como Ziyech, Hakimi e esse múltiplo Amrabat. Sem falar no treinador Walid Regragui, há apenas cinco meses no comando da seleção marroquina.
Neste sábado (10/12) de festa africana, Marrocos empurrou Portugal ao abismo e, por tabela, colocou um ponto final na ambição de Cristiano Ronaldo conquistar uma Copa no ocaso de sua carreira. CR7 deixou o Estádio Al Thumama derramando lágrimas, assim como Neymar no Estádio Education City na sexta-feira (09/12).

Outro prêmio a este Mundial do Qatar é classificação da Argentina, única representante da América do Sul a sobreviver. Graças à genialidade de Lionel Messi, os vizinhos do Brasil superaram a sempre forte Holanda na decisão por pênaltis na sexta-feira (09/12). Um triunfo colossal a ponto de o La Nación, um dos grandes jornais de Buenos Aires, manchetear: “Messi, o maior de todos, coloca o mundo aos seus pés”.
Um pouco mais cedo na sexta-feira, a Croácia havia despachado o sempre favorito Brasil de volta aos seus pecados. Capitaneados por esse magistral Modric, os croatas jogaram em honra a um país machucado da guerra da independência.
“Isso é para vocês. Estou muito feliz por nós. Com três milhões e meio de habitantes, estamos nas semifinais pela segunda vez consecutiva. Não somos normais”, disse o técnico Zlatko Dalic, dedicando a vitória contra o Brasil aos veteranos da guerra da Croácia.

Ainda neste sábado, Inglaterra e França, um épico confronto mais pela histórica rivalidade secular dos dois países aos embates do futebol, decidiram quem é o representante da Europa Central nas semifinais da Copa 2022. Os franceses levaram a melhor.
No jogo de bom controle da Inglaterra, a França vence por 2 a 1. E parte em busca do bi podendo repetir feito do Brasil, campeão duas vezes em Copas seguidas. – 1958 na Suécia e 1962 no Chile. Franceses levantaram a taça em 2018.
Do lado dos ingleses, decepção. Jogam bem e perdem como sempre. Harry Kane, astro da companhia, teve dois pênaltis pra bater. Fez um e errou outro. Inglaterra volta para casa e sua torcida pequena no Qatar em silêncio.
O que está presente neste momento é alegria geral nas ruas de Doha com a festa absurda de Marrocos ao avançar às semifinais. Comunidade árabe do Qatar abraçou a seleção marroquina como se fosse uma irmã que há muito tempo não a recebia em sua casa.
Festa também de argentinos em comunhão com torcedores indianos e mais “estrangeiros” vizinhos do Qatar. É impressionante quantidade de cidadãos andando por Doha vestindo a camisa listrada azul-branca argentina.
Qatar 2022 ganha mais vida com Marrocos e Argentina. A história está aí.

Doha, 10, dezembro 2022. Por Luiz Antônio Prósperi
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