Inglaterra sofre castigo na estreia e hooligans tingem ruas de Marselha de sangue

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Gol da Rússia, aos 49 do segundo tempo, no empate com a Inglaterra

euro_2016_logo_detailIngleses não saem do Reino Unido apenas para torcer por sua seleção. Por onde passam, deixam um rastro de sangue. Tem sido assim desde anos 1980. A preferência é por se entupir  de oceanos de cerveja, desafiar os locais ou torcedores do adversário, sair no muque e quebrar bares e praças, destruir o que aparecer pela frente.

Não há o menor receio, pudor, de gritar “England” e partir para cima de peito aberto. Sem medo. Seguindo esse roteiro bélico, os ingleses levaram Porto Velho de Marselha ao inferno. Nos últimos três dias transformaram esse ponto turístico da França em uma praça de guerra. Um duro recado à organização e anfitriões da Eurocopa-2016.

Neste sábado, os ingleses desafiaram os russos, que também estavam encharcados de cerveja. Foram pouco menos de 90 minutos de batalha e destruição até a polícia enquadrar os vândalos. Na hora de recolher dezenas (cerca de 31) de feridos, um inglês foi levado em estado grave ao hospital. Agências de notícia, até as 18h (de Brasília), informavam que o cidadão estava entre a vida  e a morte.

Policiais franceses disseram ao final do confronto que as batalhas de vândalos não eram prioridade das forças de segurança. O foco deles é o terrorismo.

 

Sobre hooliganismo, na minha memória vem nítida a cobertura que fiz da Eurocopa de 1992 na Suécia pelo Jornal da Tarde. Eu e meu editor José Eduardo Carvalho estávamos em Malmo e presenciamos como os ingleses conseguiram transformar um cenário bucólico em uma praça iguais as que sofrem um bombardeio em tempo de guerra. Quebraram tudo, feriram inocentes e também apanharam à beça.

Prometo resgatar em breve um texto que fiz sobre um hooligan abandonado à própria sorte por seus iguais em uma estação de trem em Malmo.

A violência dos hooligans não tinha sido uma novidade para mim. Escalado pelo JT para cobrir o grupo da Inglaterra, Holanda, Egito e Irlanda na Copa de 1990 na Itália, relatei a batalha que vi nas ruas de Cagliari entre ingleses e holandeses. Sangue e destruição como das outras vezes.

Mais tarde tive o prazer de desfrutar da leitura do livro “Entre os Vândalos”, de Bill Buford (editado no Brasil), uma aula sobre o fenômeno hooligan. No capítulo final dessa obra, Buford, infiltrado entre os vândalos, relata a batalha de Cagliari. Recomento da leitura desse livro aos que se interessam pelo tema.

Tudo isso para voltarmos ao motivo, se é que os ingleses precisam de uma razão, dos confrontos em Marselha. Sabe o que provocou a pancadaria e violência? Simples, a estreia da Inglaterra na Euro-16 contra a Rússia.

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O jogo no estádio Vélodrome de Marselha foi um duro golpe aos ingleses. Eles dominaram a partida quase na sua totalidade e com muito custo marcaram um gol, em bela cobrança de falta  de Eric Dier, aos 28 minutos do segundo tempo.

Foram castigados com um gol nos acréscimos, aos 49, de Berezoutski. Um empate dolorido ao jovem time da Inglaterra e um consolo à fraca da seleção da Rússia.

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Com esse empate, o Grupo B tem como líder País de Gales, que mais cedo havia derrotado a Eslováquia por 2 a 1, em uma partida emblemática.

GALESES PEDEM PASSAGEM

País de Gales está disposto a fazer história a cada passo na Eurocopa. Desde 1958, quando foram eliminados pelo Brasil na quartas de final da Copa do Mundo da Suécia, os galeses não participavam de um torneio de envergadura internacional. Garantiram uma vaga na Euro-2016 e estrearam com uma vitória de muito simbolismo por 2 a 1 contra a Eslováquia, em Bordeaux.

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Antes de o jogo começar se teve nítido o tamanho da emoção dos galeses. Na execução do hino de Gales, os torcedores cantaram até o último sopro dos pulmões. Muitos derramaram lágrimas. Perfilado entre seus companheiros, Gareth Bale, o astro maior da companhia, também chorou.

Na partida, Bale fez o primeiro gol, um tento épico aos galeses. A celebração desse gol deve ficar na memória como uma ode ao futebol.

Depois, levaram o empate da Eslováquia, marcado por Duda, e, a dez minutos do final, Robson-Kanu garantiu a vitória histórica.

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“Não importa quem faz os gols. Para mim, o que importa é honrar meu país”, Gareth Bale.

Não é preciso dizer mais nada desse triunfo de País de Gales. E a Eurocopa-2016 está apenas começando.