Dunga vai ser demitido do comando da Seleção Brasileira nesta terça-feira na sede da CBF. A decisão está na mesa do presidente Marco Polo Del Nero e alcança também a saída do coordenador Gilmar Rinaldi.
Pesou contra a permanência do treinador a sequência de resultados ruins, desde julho de 2014 quando a CBF trocou a comissão técnica da Seleção.
Com Dunga, o Brasil ainda não venceu uma grande seleção em jogos oficiais. Nas Eliminatórias da Copa de 2018, o escrete derrotou apenas Venezuela e Peru – ocupa a sexta colocação, com 9 pontos – 4 a menos que o líder Uruguai.
Na Copa América de 2015, um ano após o fiasco do Mundial de 2014, a Seleção com Dunga caiu nas quartas de final eliminada pelo Paraguai. E ainda perdeu Neymar, expulso contra a Colômbia e punido por quatro jogos de gancho.
A pilha de partidas ruins e medíocres em competições oficiais e a omissão de Dunga para reverter resultados adversos durante os jogos também pesaram contra o treinador.
Sem falar na hipocrisia de conceder a Neymar a tarja de capitão da Seleção. Neymar tem escapado dos últimos desastres da Seleção por omissão, expulsões e lesões. Mas, tem se manifestado nas redes sociais como se fosse dono do escrete nacional.
Veja o que ele disse após vergonhosa queda do Brasil na Copa América Centenário neste domingo diante do Peru:
“Agora vai aparecer um monte de babaca para falar merda, foda-se..”
Assim como está pressionado a demitir Dunga nesta terça-feira, Del Nero também é assediado para nomear Tite na Seleção. O técnico do Corinthians havia dito que, com o atual comando da CBF, não aceitaria um eventual convite.
Como no futebol ninguém sustenta uma palavra por mais de uma hora, não será surpresa se Tite mudar de ideia e trocar o Corinthians pelo escrete.
Seria outro erro da CBF. Tite tem experiência zero de Seleção e a comissão técnica, que pretende levar, idem. Vai errar mais ainda se inventar com Jorginho e Zinho, de sucesso com o Vasco na Série B, e também símbolos da Copa de 94.
A saída seria Del Nero entregar a Seleção Brasileira a um comando de notáveis com currículo de Copas do Mundo e credibilidade dentro e fora do País. Ou ele mesmo pedir demissão e convocar novas eleições na CBF.
Uma solução passaria pelo fim da herança da Copa de 94, uma troca radical. Quem sabe empossando a geração da Copa de 82, com Zico, Falcão, Júnior, para dar uma nova cara ao escrete em busca de um futebol vistoso, alegre, sem rancores e cara azeda como a de Dunga.
Já disse aqui o quanto a Seleção é escrava dos métodos e conceitos de 94.
AUTÓPSIA DA CRISE
Desde a conquista da Copa de 2002 na Coreia do Sul e Japão, o Brasil não retoma sua trajetória de vencedora e com patente do nosso futebol.
Naquele Mundial houve uma ruptura da CBF com a geração de 94 ao entregar a Seleção a Felipão. O então presidente Ricardo Teixeira havia feito uma tentativa com Vanderlei Luxemburgo, após o vice na Copa de 98 na França com Zagallo, herdeiro de Parreira, campeão em 94.
Luxemburgo não resistiu à crise do futebol brasileiro com uma CPI nos calcanhares de Ricardo Teixeira. Emerson Leão, seu sucessor, caiu após o desastre do escrete na Copa das Confederações de 2001. A saída foi recorrer a Felipão, uma unanimidade nacional em 2001 como havia sido Luxemburgo em 1998.
Felipão apostou no talento de Rivaldo e Ronaldo, mesmo baleados com problemas de lesão antes da Copa, e mais no jovem Ronaldinho Gaúcho. Deu certo.
A partir de 2003, Teixeira gostaria de dar uma mais uma chance a Luxemburgo, alegando uma dívida com o treinador demitido em 2001. Zagallo, encastelado na CBF, convenceu Parreira a voltar ao comando da Seleção. Era o retorno da turma de 94.
Parreira havia dito que não voltaria mais, após a conquista do tetra. Voltou em 2003 como os mesmos conceitos de 94 e se sustentou no cargo até o desastre de 2006 com o descalabro da preparação do Mundial da Alemanha em Weggis na Suíça. Um escárnio.
Caiu Parreira, e Teixeira resolveu que a Seleção precisava de um sargento, um cara de personalidade forte, para não repetir Weggis, como se ele não tivesse parcela de culpa por Weggis. Recorreu a Dunga e Jorginho, dois discípulos de Parreira e importantes na epopéia do tetra nos Estados Unidos.
Dunga conseguiu alguns resultados expressivos antes da Copa de 2010 na África do Sul. Montou um grupo messiânico, se fechou como um casulo e passou a maltratar ainda mais o futebol da Seleção com a filosofia da retranca e dos contra-ataques.
Consumado o desastre de 2010, Teixeira disse ainda em território sul-africano que havia se arrependido por ter optado por Dunga, mas não podia interromper o voo sobre o oceano.
Demitiu Dunga após a Copa e correu atrás de Muricy Ramalho, então quase unanimidade nacional naquela época. Muricy disse não. Teixeira inventou Mano Menezes, técnico do Corinthians, bem recomendado por seu amigo Andrés Sanchez, presidente do clube.
Mano não vingou. A Seleção acumulou derrotas feias na Copa América de 2011 e ainda deixou escapar a medalha de ouro nos Jogos de Londres em 2012.
Ricardo Teixeira já não estava mais na CBF, acusado de envolvimento com corrupção do futebol. Os mandarins eram José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.
Os dois deram um pontapé nos fundilhos de Mano e, a um ano da Copa de 2014 no Brasil, apostaram nos dois campeões mundiais Felipão e Parreira. O 7 a 1 da Alemanha diz tudo.
Diante do acachapante vexame na Copa de 2014, se esperava por uma profunda reforma no futebol brasileiro. O que fizeram Marin e Del Nero? Foram resgatar Dunga das profundezas.
Dunga havia feito um trabalho medíocre no comando do Internacional, após a Copa de 2010. Não se reciclou e se deu por satisfeito de aprender alguma coisa em alguns cafés da manhã com treinadores do porte do italiano Arrigo Sacchi durante da Copa de 2014.
Dunga voltou com a benção de Marin, antes de ser enjaulado na Suíça pelo FBI, e por Del Nero. Sem proposta para uma mudança no jeito de a Seleção jogar e na formação de um grupo vencedor, Dunga se espatifou mais uma vez.
Passou da hora de a CBF entregar a Seleção Brasileira a quem tem estofo.