Neymar não é o culpado

Brasil estreia contra a África do Sul no Mané Garrincha
Neymar no jogo contra África do Sul – Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

Futebol brasileiro corre risco enorme de cair na primeira fase da Olimpíada nesta quarta-feira no jogo contra a Dinamarca. Seria um desastre do tamanho do 7 a 1. Devastador. Um tiro no coração da instituição Seleção Brasileira, sem credibilidade e em crise permanente desde o fracasso na Copa do Mundo de 2006. Buscar culpados neste momento é de um oportunismo sem propósito. De nada adianta cortar a cabeça de Neymar e servi-la na bandeja.

Diagnóstico do abismo em que se meteu o futebol brasileiro remonta décadas, passa pela gestão de João Havelange na CBF, Ricardo Teixeira, José Maria Marin, o breve, até desembocar em Marco Polo Del Nero, em situação delicada com a Justiça dos Estados Unidos e Fifa.

Dirigentes, todos eles, de clubes e da CBF, contribuíram e muito por esse temporal que assola o futebol brasileiro sem sinais de bonança.

Jogadores também têm boa parcela de responsabilidade por essa hecatombe. Uma geração em especial deve ser examinada com uma lupa. Falamos da turma de 2006, jovens na época, com Robinho, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, quando Ronaldo Fenômeno já vivia ocaso de sua carreira.

E não podemos nos esquecer de treinadores obtusos, Dunga o mais representativo dessa vertente de técnicos a jogar apenas em função do resultado sem pensar na gema do futebol brasileiro.

Acompanhe alguns dados e conceitos e faça a sua reflexão, caro leitor:

João Havelange – presidente da CBF, entre 1957 a 1974.
No seu reinado, a Seleção Brasileira conquistou três Copas do Mundo embalada na geração de Pelé e Garrincha, e no último ato com Tostão, Rivellino, Gerson e outros craques. Não levou ouro em nenhuma Olimpíada neste período. Havelange comandou a Fifa por 24 anos e depois se descobriu o quanto estava metido em escândalos de corrupção.

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Ricardo Teixeira – presidente da CBF, de 1989 a 2012.
Na sua gestão, o Brasil conquistou duas Copas do Mundo (1994 e 2002), também com jogadores extraordinários do porte de Romário, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno. No seu comando, colecionou fracassos em todas as Olimpíadas. Ao deixar a CBF, Teixeira acabou denunciado por corrupção e está sob investigação.

José Maria Marin – presidente da CBF, de 2012 a 2015.
Carrega um dos maiores vexames da história do futebol brasileiro traduzido no 7 a 1. Está preso, em cárcere domiciliar, nos Estados Unidos há quase um ano. Na sua gestão,  Brasil fracassou com Mano Menezes e Neymar, medalha de prata na Olimpíada de Londres em 2012.

Marco Polo Del Nero – presidente da CBF desde abril de 2015.
Acumula dois desastres com quedas na Copa América no Chile e Centenário nos Estados Unidos e a sexta colocação nas Eliminatórias da Copa de 2018 – portanto fora do Mundial da Rússia neste momento. Afogado, se socorre na corda esticada a Tite, herdeiro dos últimos dois anos melancólicos da gestão de Dunga na Seleção. Del Nero é o responsável por dar a Seleção Olímpica a Rogerio Micale.

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Geração da Copa de 2006
Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano tinham tudo para dar sequência às conquistas de turma de Romário e Rivaldo e Ronaldo Fenômeno. Desistiram no meio do caminho. Ronaldinho minguou com uma vela após a Copa de 2006. Adriano desistiu do futebol. Kaká, apesar do título de melhor do mundo em 2007, nunca foi protagonista na Seleção. E Robinho nunca confirmou o que dele se esperava.

Fracasso dessa geração deixou sem lastro a próxima, tendo em Neymar o seu maior expoente. Os ditos craques de 2006 não tiveram capacidade para fazer a transição até 2010, e nunca assumiram essa responsabilidade natural.

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Dirigentes de clubes brasileiros
Nenhum deles pensa em um trabalho profundo nas categorias de base. Investem pesado na infra-estrutura e entregam a gestão dos garotos à gente incompetente e despreparada. A política dominante é encontrar uma pepita de ouro e vender o mais rápido possível aos milionários clubes europeus. E depois contar montanhas de cédulas verdinhas.

Olimpíada do Rio
E chegamos ao caos de agora. O mais palpável é a encrenca em que está a Seleção Olímpica nos Jogos do Rio. Em dois jogos, dois empates e nenhum gol contra bons adversários, apesar da pouca tradição no futebol. O Brasil tem de vencer a Dinamarca para não ser eliminado na primeira fase do torneio dos Jogos do Rio.

Neste momento o Cristo da vez é Neymar. Acusado por inquisidores sobre seu comportamento dentro e fora de campo. Alvo da ira da TV Globo, boa parte da mídia e de torcedores abonados que pagam por ingressos caríssimos nos jogos da Seleção.

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Micale desabafa na coletiva em Salvador 

 

Diante da saraivada de flechas contra o craque do Barcelona, Rogerio Micale deu um diagnóstico perfeito na coletiva de imprensa nesta terça-feira (09/8) em Salvador.

“Enquanto ficarmos preocupados com tarjas de capitão, comportamentos pessoais, situações internas de relacionamento, e não abrirmos discussão para realmente entender o que está acontecendo no futebol brasileiro, no setor tático, comportamental, vamos continuar na mesmice. Queremos achar culpados, isso é um grande mal. Para avançarmos em algo melhor para o nosso futebol, a discussão deveria ser mais aprofundada, e não tão superficial em pontos que não agregam nada em situações de jogo.”

“Temos que parar de achar vilões. Fizemos isso com Bernard na Copa do Mundo, o Rafael (lateral-direito que deu um gol ao México na final) na última Olimpíada. Sempre buscamos vilões e muitas vezes estancamos um potencial de avanço num futuro próximo. A Alemanha levou 12 anos para chegar onde chegou, mas nós queremos chegar lá com seis meses, não queremos passar por 11 anos e meio de preparação. Estamos lidando com jovens, se continuarmos matando, vamos colher a mesma coisa que estamos colhendo há anos”.

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“Neymar é um jovem de 24 anos que não atingiu ainda maturidade total, vai atingir. De uma forma geral, aos 28 anos o jogador chega ao ápice como atleta, homem, física e mentalmente. Ele já tem de lidar com a pressão de ser um líder, um expoente, desde 17, 18 anos de idade. A geração que lhe daria suporte (de 2006) não se firmou.”

201608081933_941cebd283“A Marta está com quantos anos? 31 anos… Podemos dizer que a Marta é uma jogadora sensacional, tem todo nosso reconhecimento, mas o Neymar tem o meu reconhecimento como futuro melhor do mundo, ele vai ser, e nós precisamos respeitar o Neymar. Ele é jovem. Sei que em alguns momentos age de uma forma que não queremos, mas na idade dele, não faríamos as mesmas coisas, tendo o que ele tem?

“Não está fácil a situação que envolve o imediatismo com nossos jovens jogadores, isso me preocupa como formador, como alguém que trabalha com jovens há alguns anos. Estamos sendo implacáveis, essa conta vai cobrar um preço. Se não respeitarmos nossos craques, eles não vão querer estar com a gente.”

Ainda sobre o diagnóstico de crise, faltou falar dos treinadores da Seleção Brasileira. Basta dizer um nome: Dunga.

Quanto a Neymar, ele não é o culpado por tudo de ruim que vivemos no futebol brasileiro. Tem de assumir a sua responsabilidade e jogar bola, nada mais.

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