Tite se esqueceu de Dudu quando fez a lista dos 23 convocados para os jogos contra Uruguai e Paraguai, há pouco mais de uma semana. Optou por dois Diegos, um do Flamengo e outro do Sport, e deixou de lado aquele que é o melhor jogador do futebol brasileiro na atualidade em clube nacional. Nem é bom se apegar aos números para uma justificativa. Em pouco menos de dois meses da temporada, esse baixinho atrevido, uma mistura de meia e atacante, já acumula boa estatística. Dos 18 gols do Palmeiras até aqui, fez 2 e deu 5 assistências em 9 jogos em 2017. A diferença é que Dudu tem feito misérias em campo, como o gol de cobertura em cima de Denis do São Paulo no último sábado. Uma obra-prima. Tite teria se arrependido depois de ver o gol? Seus dois Diegos já estão quase no limite de suas carreiras, enquanto o jogador do Palmeiras está ali perto do ápice e poderia, pode, ser útil na Copa do Mundo de 2018 na Rússia.
Baixinho, Dudu não passa de 1,67 m. Sua voz é um fiapo. Se expressa como um menino ainda cheio de sonhos, fala fina, bem mansinha. Não vingaria no futebol dos gladiadores, dos expoentes físicos de hoje. Amassa tudo isso e joga no lixo. Dudu bate no tórax, mesmo quando estica o pescoço frente a adversários e árbitros que encontra pelo meio do caminho. Não se intimida e confunde obsessão com chatice. Ranheta como poucos. Tudo isso jogaria contra esse atacante contemporâneo de Neymar e Phillipe Coutinho nas seleções de base da CBF. O problema é que ele é um destemido. De pavio sempre aceso. Faz valer seu espaço.
Quem diria que caberia a ele levantar a taça de campeão brasileiro, mesmo estorvado pelo presidente Paulo Nobre, no palco montado pela CBF no Allianz Parque, naquela tarde de 27 de novembro de 2016. Tudo bem, era o presidente a fazer graça. Até isso, Dudu aceitou. Um mal menor diante dos feitos extraordinários desse minúsculo jogador, quase uma imagem de um videogame, um boneco do Fifa-2016.
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Bom lembrar que ele tem apenas 25 anos. Arrepiou na temporada 2015, artilheiro do time com 16 gols – dois deles na final da Copa do Brasil contra o Santos – em 56 jogos. Números extraordinários. Em 2016, marcou 9 gols em 51 partidas. Conta, é verdade, a importância desses gols e as assistências que deu aos companheiros para levar o Palmeiras ao título brasileiro, após 22 anos de carestia. Dudu tem 27 gols em duas temporadas e três meses no clube da Rua Palestra Itália. Já está na casa dos 120 jogos com a camisa alviverde. É o maior artilheiro do Allianz Parque nos dois anos de existência da nova arena, com 14 gols, e o que mais marca em clássicos paulistas, com 7 gols.
Números, muitas vezes, não servem como carteira de identidade de um jogador. Dudu não quer ser lembrado pelas estatísticas. Veste a camisa 7, marca registrada por Edmundo no Palestra, e leva a braçadeira de capitão. Um reconhecimento de Cuca e, ao mesmo tempo, uma tacada certeira. Dudu virou capitão do time desde a 19.ª rodada do Brasileirão 2016, quando o Palmeiras precisava avisar à concorrência que, de fato, era sim candidato a campeão. Usa aquela goma elástica apertada no braço direito ainda sob as ordens de Eduardo Baptista, o novo chefe no seu time. E fez dessa obrigação uma responsabilidade. Fundamental para manter o equilíbrio em campo.
Cara feia, cara de chorão, tatuagens de cima abaixo, briguento e com algo mais nas veias além do sangue de vencedor. Sangue quente, sangue bom. Dudu não sabe falar grosso. Seu futebol se impõe aos fortes. Palmeiras agradece.
Tite deveria prestar mais atenção nesse jogador. Dudu conhece Philippe Coutinho e Neymar de perto, ases do ataque da Seleção sob comando de Tite. Foram campeões do Sul-Americano Sub-20 em 2011. E formariam o ataque da conquista do Mundial da mesma categoria naquele mesmo ano se Neymar não tivesse sido convocado por Mano Menezes para disputar a Copa América na Argentina. Neymar, Coutinho e Dudu, um trio que pode fazer história na Seleção. E tem mais um detalhe: Dudu conhece Gabriel Jesus como poucos. O que Tite quer mais?
Dudu responde: “Naquele amistoso contra a Colômbia (dia 25 de janeiro), ele (Tite) me disse que chamaria sempre os melhores.”