Inventário da derrota (3): A Copa desastrada da CBF

Chuteira FC na Copa do Mundo 2018Luiz Antônio Prósperi, de Moscou / Rússia

Por questão regimental, o coronel Carlos Nunes assumiu o posto de Del Nero por ser o vice-presidente mais velho da CBF. E seria o presidente da confederação brasileira na Copa da Rússia.

Del Nero logo manobrou para fazer seu sucessor tendo em vista que não se livraria de ser banido para sempre do futebol. Entre janeiro e março, mesmo sem poder pisar na sede da CBF, encaminhou com seus aliados a eleição de Rogério Caboclo, obscuro e burocrata dirigente que estava nos quadros da entidade desde 2013. A eleição se deu em abril, mas Caboclo só poderia assumir a CBF de fato em abril de 2019. Até lá o coronel Nunes seria o presidente.

Os 27 presidentes da federações estaduais – maioria do colégio eleitoral da CBF – foram agraciados com uma viagem à Rússia, tudo pago pela CBF, para acompanhar a primeira fase da Copa.

Toda a trama política transcorreu no mesmo momento em que Tite dava as últimas pinceladas na estrutura da Seleção Brasileira que seria levada ao Mundial da Rússia. E, por questões óbvias, o chefe da delegação seria Rogerio Caboclo, sem a menor experiência na condição de cartola em uma Copa do Mundo.

Evidente que o Brasil seria representado pelo coronel Nunes nas tratativas oficiais, reuniões e decisões colegiadas da Fifa nas duas semanas pré-Copa. Uma delas, de muita importância, a escolha da sede da Copa de 2026 no pleito entre Estados Unidos, México e Canadá contra Marrocos.

Por acordo fechado, as dez confederações sul-americanas sob o guarda-chuva da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) votariam na candidatura conjunta EUA-México-Canadá. Nunes, representando a CBF, descumpriu o trato sem consultar ninguém e votou no Marrocos. “Pensei que o voto era secreto”, alegou o coronel, mesmo avisado que os votos seriam revelados.

Sua trapalhada causou mal-estar na Fifa e na Conmebol, que ficaram de tomar uma providência contra o coronel após a Copa do Mundo.

Para complicar, um segurança do coronel Nunes atingiu um manifestante quebrando um copo na cabeça do cidadão que havia desacatado o presidente da CBF em um restaurante em Moscou.

Nos bastidores políticos da Fifa tão efervescentes nesses dias de Copa se tinha como certo o enfraquecimento da CBF.

E não parou por aí. Se dizendo vítima de erros da arbitragem, a CBF protocolou na Fifa um pedido de revisão e acesso ao áudio do VAR (arbitragem de vídeo) logo no jogo da estreia do Brasil na Copa contra Suíça. Alegava que a arbitragem não agiu corretamente no gol dos suíços por um suposto empurrão no zagueiro Miranda.

A Fifa só se manifestou após o término da primeira fase quando Pierluigi Collina, chefe de arbitragem na Copa, revelou o áudio e imagens do VAR naquela partida. Em entrevista coletiva em Moscou, Collina repudiou o ato da CBF.

Nãos se tem notícia de que outras confederações tenham cobrado a Fifa, de forma oficial, pedindo revisão do VAR em lances prejudiciais as suas seleções.

CBF nem mediu as consequências que a ação poderia provocar um mal-estar entre os árbitros. E essa indisposição cresceu quando Neymar virou alvo de críticas, acusado de simular faltas e jogar a arbitragem contra os adversários da Seleção.

Diante de tudo isso, a comissão técnica de Tite não se manifestou. O chefe da delegação brasileira na Rússia, Rogerio Caboclo – presidente eleito da CBF para mandato de 2019 a 2022 –, também não deu um pio. E o coronel Nunes ninguém mais viu.

Na despedida da Seleção em Kazan, poucas horas antes do embarque para o Rio neste sábado (07/7), apenas Edu Gaspar, gerente de seleções, deu uma entrevista coletiva. Não falou nada de relevante da CBF na Copa e saiu em defesa de Neymar. “Não é fácil Neymar ser Neymar”.

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