Luiz Antônio Prósperi, de Moscou / Rússia
Del Nero logo manobrou para fazer seu sucessor tendo em vista que não se livraria de ser banido para sempre do futebol. Entre janeiro e março, mesmo sem poder pisar na sede da CBF, encaminhou com seus aliados a eleição de Rogério Caboclo, obscuro e burocrata dirigente que estava nos quadros da entidade desde 2013. A eleição se deu em abril, mas Caboclo só poderia assumir a CBF de fato em abril de 2019. Até lá o coronel Nunes seria o presidente.
Os 27 presidentes da federações estaduais – maioria do colégio eleitoral da CBF – foram agraciados com uma viagem à Rússia, tudo pago pela CBF, para acompanhar a primeira fase da Copa.
Toda a trama política transcorreu no mesmo momento em que Tite dava as últimas pinceladas na estrutura da Seleção Brasileira que seria levada ao Mundial da Rússia. E, por questões óbvias, o chefe da delegação seria Rogerio Caboclo, sem a menor experiência na condição de cartola em uma Copa do Mundo.
Evidente que o Brasil seria representado pelo coronel Nunes nas tratativas oficiais, reuniões e decisões colegiadas da Fifa nas duas semanas pré-Copa. Uma delas, de muita importância, a escolha da sede da Copa de 2026 no pleito entre Estados Unidos, México e Canadá contra Marrocos.
Por acordo fechado, as dez confederações sul-americanas sob o guarda-chuva da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) votariam na candidatura conjunta EUA-México-Canadá. Nunes, representando a CBF, descumpriu o trato sem consultar ninguém e votou no Marrocos. “Pensei que o voto era secreto”, alegou o coronel, mesmo avisado que os votos seriam revelados.
Sua trapalhada causou mal-estar na Fifa e na Conmebol, que ficaram de tomar uma providência contra o coronel após a Copa do Mundo.
Para complicar, um segurança do coronel Nunes atingiu um manifestante quebrando um copo na cabeça do cidadão que havia desacatado o presidente da CBF em um restaurante em Moscou.
Nos bastidores políticos da Fifa tão efervescentes nesses dias de Copa se tinha como certo o enfraquecimento da CBF.
E não parou por aí. Se dizendo vítima de erros da arbitragem, a CBF protocolou na Fifa um pedido de revisão e acesso ao áudio do VAR (arbitragem de vídeo) logo no jogo da estreia do Brasil na Copa contra Suíça. Alegava que a arbitragem não agiu corretamente no gol dos suíços por um suposto empurrão no zagueiro Miranda.
A Fifa só se manifestou após o término da primeira fase quando Pierluigi Collina, chefe de arbitragem na Copa, revelou o áudio e imagens do VAR naquela partida. Em entrevista coletiva em Moscou, Collina repudiou o ato da CBF.
Nãos se tem notícia de que outras confederações tenham cobrado a Fifa, de forma oficial, pedindo revisão do VAR em lances prejudiciais as suas seleções.
CBF nem mediu as consequências que a ação poderia provocar um mal-estar entre os árbitros. E essa indisposição cresceu quando Neymar virou alvo de críticas, acusado de simular faltas e jogar a arbitragem contra os adversários da Seleção.
Diante de tudo isso, a comissão técnica de Tite não se manifestou. O chefe da delegação brasileira na Rússia, Rogerio Caboclo – presidente eleito da CBF para mandato de 2019 a 2022 –, também não deu um pio. E o coronel Nunes ninguém mais viu.
Na despedida da Seleção em Kazan, poucas horas antes do embarque para o Rio neste sábado (07/7), apenas Edu Gaspar, gerente de seleções, deu uma entrevista coletiva. Não falou nada de relevante da CBF na Copa e saiu em defesa de Neymar. “Não é fácil Neymar ser Neymar”.
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