Brasil anuncia ao mundo sua candidatura a campeão de mais uma Copa. Se impõe diante da Sérvia na estreia no Qatar com vitória por 2 a 0 construída no segundo tempo. E mostra futebol de alegoria, em especial quando Richarlison escreveu seu nome com os dois gols – um deles digno de galeria dos mais reluzentes da história das Copas. A preocupar apenas Neymar, que sai chorando de campo por sofrer uma lesão no tornozelo.
Nem tudo é bonito nesse capítulo inicial do Oriente Médio. Seleção Brasileira não empina pipas no primeiro tempo. Tem terreno e pouca inspiração a se divertir puxando a linha do jogo. Chama faltas, arrisca arrancadas ao ataque e morre na força dos sérvios. Não completa a tarefa de iludir o adversário e não entrega o que havia prometido como um dos cantados protagonistas da Copa Qatar 2022.
Na primeira metade do jogo se impõe apenas a partir dos 15 minutos quando passa cerol no cordão da Sérvia. Empurra o inimigo a se defender no seu campo. Era o que se esperava do time de Tite. E padece na hora de chegar ao gol.
O caminho mais indicado: a rota dos dribles e rompantes de Vini Jr, na função de ponta-esquerda. Vini entorta o marcador, chega perto do gol e não consegue completar a obra. Mesma imagem de Raphinha na direita. Vai e não chega.
Dois pontas nada iluminados. Richarlison na solidão entre dois zagueiros.
E Neymar e Paquetá?
Neymar repete mais ou menos o enredo na Rússia. Se afasta da área, recua até os volantes Casemiro e Paquetá, chama uma falta atrás da outra e não flui. Não leva junto seus companheiros. Decepção a quem imaginava um Neymar decisivo, verdadeiro.
Paquetá, sim. Mesmo fora de seu habitat natural, atuando como segundo volante, exerce seu trabalho com dignidade. Entre acertos e poucos erros, deixa Raphinha na cara do gol, mas o chute sai como de uma criança. Fácil para o goleiro sérvio segurar a bola, aos 34 minutos.
Brasil fecha primeiro tempo sem encantar, sem nada de muito diferente, até então sem apelo de candidato a campeão do mundo mais uma vez.
No segundo tempo, a história muda logo no início. Raphinha perde mais um gol, em outro chute de criança, após roubar bola de um zagueiro desavisado. Isso, com menos de 5 minutos.
Em seguida é a vez de Neymar deixar a firula de lado e arrancar rumo ao gol até sofrer dura falta, a centímetros da grande área. Na cobrança, barreira sérvia impede o gol.
Brasil, presente. Situação da Sérvia se agravava.
Neymar perde gol, em passe de Vini. Alex Sandro carimba pé da trave em torpedo de fora da área. Faltava Richarlison aparecer. E ele surge do nada.
Em jogada de Neymar, arriscando dribles e mais dribles na grande área, a bola sobra para Vini Jr. Chute sai colocado, a tirar o goleiro do lance. Richarlison aparece grandão e manda o balão às redes sérvias. Ufa! Brasil 1 a 0, aos 17 minutos.
Pobres sérvios. Ao levar o gol do “Pombo”, saem em busca do empate e abrem uma franquia de seu território para a Seleção Brasileira explorar. Diria, um suicídio. O ataque das “perninhas rápidas”, acalentado por Tite, mostra sua cara.
Vini Jr, mais uma vez, aparece na ponta-esquerda e, em vez de driblar, manda a bola na medida a Richarlison. E aí, meu amigo, nasce um gol de Copa do Mundo de verdade. Um senhor gol. Daqueles de se guardar à eternidade das obras-primas do futebol.
Richarlison recebe a bola de Vini, não a deixa cair, dá um giro e, de voleio, fulmina o goleiro. O “Pombo” anuncia: eu estou aqui. E a pressão continua. Casemiro acerta travessão. Fred obriga goleiro trabalhar duas vezes. Rodrygo, mais uma. Alex Sandro acerta a trave.Temporal verde e amarelo inunda o Qatar.
Brasil 2 a 0. Agora sim, com futebol digno de quem fala em levar para casa a taça de ouro pela sexta vez. Os meninos empinaram a pipa. Adversários terão de carregar no cerol a cortar a linha da Seleção Brasileira. E vamos ver se Neymar ainda chora de dor até a próxima parada contra Suíça.
Doha, 24 de novembro, 2022. Por Luiz Antônio Prósperi