Daniel Alves foi transferido de cadeia nessa segunda-feira (23/1), após passar duas noites em um presídio com outros detentos acusados de agressão sexual em Barcelona. Advogados devem entrar com habeas corpus para que Dani possa responder o processo em liberdade provisória.
Veja como o jogador da Seleção Brasileira foi parar na cadeia, acusado de estupro, um mês depois do fim da Copa do Mundo Qatar 2022.
Prósperi News reproduz matéria publicada no jornal El Mundo, de Madri. Confira:
A NOITE EM QUE DANIEL ALVES ACABOU NA CADEIA
Enquanto a declaração da vítima perante o Tribunal de Instrução 15 de Barcelona foi “contundente” e “persistente”, a de Dani Alves foi repleta de contradições. Até três vezes ele mudou de versão e passou de explicar que não conhecia a mulher que o acusou de estupro em um banheiro da área VIP de uma boate de Barcelona a que as relações foram consentidas, mas que ele não havia dito qualquer coisa antes para protegê-la. Por esta razão, Alves decidiu pedir ao tribunal para depor novamente e contar uma única versão.
Sua intenção é qualificar o que disse em sua primeira audiência no tribunal e contar sua versão, que é totalmente ilibatória, pois considera que nunca cometeu crime. Além disso, é possível que o brasileiro mude de advogado em breve, já que vários escritórios importantes de Barcelona se interessaram por sua situação. A comitiva do jogador explicou que Alves está descontente com as orientações recebidas até agora desde que apareceu há alguns dias em um programa da Antena 3 no qual garantiu que não conhecia a vítima e que apenas a encontrou no banheiro do Boate Sutton sem nenhum contato.
Essa versão foi totalmente questionada pelas imagens das câmeras de segurança locais na madrugada do dia 30 de dezembro. Neles é possível ver o jogador assediando a vítima, que em juízo declarou que a agarrou pelas costas enquanto dançavam e disse coisas em seu ouvido que ela não entendeu por serem em português. “Por trás ele pegou minha mão e colocou no pênis dele e eu tirei. Ele fez duas vezes, a segunda vez com muita força e eu tirei de novo. Foi nojento para mim”, explicou a vítima ao Mossos d’Esquadra .
Além disso, a mulher explicou que também viu “como toquei meus amigos” e percebeu “como era apegada a eles”. Que depois tirou uma garrafa de cava para convidá-los. Acrescentou ainda que Alves “estava a insistir e era muito pesado” e disse-lhe “vamos embora, vamos embora”, embora ela o tenha atrasado: “Foi nojento”. Pouco depois ele foi até a porta do banheiro, de lá ele chamou ela e ela foi pois não sabia que era uma pia.
A vítima indicou que ele fechou a porta e que ela lhe disse que queria sair, mas ele não deixou. Ele então se sentou no vaso sanitário e “me puxou com força, me puxando para mais perto dele. Eu dizia a ele o tempo todo para parar e eu tinha que ir”. “Ele só me disse que eu não podia ir e que tinha de dizer que era a puta dele”, disse a mulher à polícia e mais tarde em tribunal, acrescentando: “Insisti para que ele parasse e que eu tinha de ir, mas ele puxou meu vestido e me fez sentar nele.”
Foi então que, diante da resistência da vítima, Alves a agrediu, agarrando-a pela cabeça e pelos cabelos, jogando-a no chão e, em seguida, agredindo-a com força. “Eu resisti, mas ele era mais forte do que eu”, acrescentou a vítima, que insistiu que ele a obrigou a fazer felação, mas ela se opôs e por isso “naquele momento ele começou a me dar um tapa, passou um tempo batendo me na cara da cabeça”.
“Senti que estava me afogando, não porque estava apertando, mas pela angústia que estava sentindo”, explica a mulher no depoimento, acrescentando que foi então que ele a colocou contra a pia e a estuprou ali. Os pouco menos de 20 minutos que os dois ficaram no banheiro são verificados pelo fato de ser o mesmo horário em que nem Alves nem o denunciante aparecem nas câmeras de segurança da área VIP.
No momento, seus advogados de defesa iniciaram os trâmites para solicitar sua soltura, mesmo que seja com fiança alta, argumentando que não há risco de fuga já que ele está domiciliado em Barcelona. Prevê-se que esta semana os advogados apresentem recurso perante o tribunal para sair da cadeia, embora a sua resolução, caso aceite, não seja imediata e o jogador possa passar algumas semanas em prisão provisória. Alves ainda está no módulo de admissão da prisão e, no momento, tem um comportamento calmo, mas abatido, segundo fontes da prisão.
Um dos principais argumentos pelos quais o 15.º Juizado de Instrução de Barcelona ordenou a prisão preventiva e sem fiança do jogador de futebol Dani Alves foram as contradições em que ele caiu durante seu interrogatório. Há dias, num programa da Antena 3, o jogador brasileiro garantiu que não conhecia a vítima e que apenas a conheceu no banheiro VIP da discoteca Sutton sem qualquer contacto.
É a primeira versão que ele manteve em seu depoimento. No entanto, as inúmeras provas encurralaram o brasileiro que, durante os três quartos de hora que durou o interrogatório, passou a explicar que a menina pulou em cima dele quando ele estava sentado no banheiro para admitir que eles fizeram sexo consensual e que ele não tinha dito anteriormente para protegê-la.
Os relatórios policiais fornecidos ao caso indicam que o jogador esteve o tempo todo próximo à vítima e que a levou pela mão ao banheiro, como mostram as imagens das câmeras de segurança da boate, segundo o jornal El Periódico.

Assim, as duas primeiras versões de Alves foram questionadas. Além disso, tanto as imagens quanto o depoimento de inúmeras testemunhas, incluindo os companheiros da vítima como funcionários locais, corroboram o fato de que o jogador estava assediando a mulher durante o tempo que passaram juntos.
A vítima relatou que na madrugada do dia 30 de dezembro ela estava com alguns amigos na discoteca e que os funcionários da mesma contaram que alguns clientes que estavam em uma sala reservada os convidaram. Apesar da relutância inicial, eles aceitaram e foi então que conheceram Alves e um amigo dele. Durante o tempo em que estiveram juntos, o brasileiro teria a assediado dançando atrás deles e acariciando-a, e ainda agarrou a mão dela para colocar em seu membro. “Estava me enojando”, disse a mulher.
Pouco depois, a vítima narrou como o jogador a fez entrar em outro cômodo e eles apareceram no banheiro da sala VIP. Lá ele abaixou as calças, sentou-se no vaso sanitário e tentou fazer com que ela lhe desse uma felação, mas ela resistiu e eles lutaram. Foi então que o jogador supostamente se levantou, bateu nela e a estuprou. Então ele saiu do banheiro. As imagens da sala VIP mostram como o jogador apareceu primeiro e ela depois. Despediram-se e foi então que a mulher denunciou a agressão sexual, a sala acionou o protocolo para esses casos e uma ambulância e a polícia foram avisados.
A vítima foi transferida para o hospital Clínic e lá foi tratada por estupro. O laudo médico constatou que ele tinha vestígios de DNA, que devem ser verificados a quem pertencem, além de outras lesões compatíveis com luta. Posteriormente, acompanharam-na à esquadra de Mossos, onde apresentou uma primeira denúncia contra a defesa e que ratificou dois dias depois, apresentando como prova o vestido que usava na noite do ataque.
Esses laudos médicos são mais um indício de que a Justiça teve que ordenar a prisão do jogador. A partir deles, parte das lesões sofridas pela vítima poderiam ser objetivadas e serviriam para pedido de indenização. Apesar disso, a mulher verbalizou em seu depoimento que renunciou a esse dinheiro por danos físicos e morais, conforme explicado por fontes judiciais.
Nesse sentido, o juiz também perguntou a Alves sobre sua renda econômica e a defesa errou ao dizer que ele ganhava cerca de 300 mil dólares por ano. “Será daqui a um mês”, respondeu o magistrado, consultando a documentação, que questionou a defesa sobre o dinheiro que outros negócios além do futebol lhe dão. Isso foi antes da equipe do Pumas de México anunciar a rescisão de seu contrato após ir para a prisão.
“Peço aos meios de comunicação que estão fora de casa que respeitem a minha privacidade neste momento. A minha mãe faleceu uma semana atrás. Eu apenas comecei a aceitar que ela foi atormentada com a situação do meu marido. Perdi os dois únicos pilares da minha vida. Tenha um pouco de empatia ao invés de procurar tantas notícias na dor de outros, obrigado” – Joana Sanz, mulher de Dani.

Cada vez há mais provas contra o jogador Dani Alves no processo aberto no Juizado de Instrução 15 de Barcelona contra ele por agressão sexual.
Conforme explicaram fontes judiciais a El Mundo, no seu depoimento perante o juiz, a vítima explicou que o brasileiro tem uma tatuagem em forma de meia-lua no abdómen, e que ficou bem visível ao longo da relação não consensual. Ela disse que viu quando o jogador tentou forçá-la a fazer sexo oral e ela resistiu, durante todos os minutos em que ele a trancou no banheiro de uma sala VIP de uma boate de Barcelona.
Quando foi a vez de Alves depor, após a versão “contundente” da vítima, o juiz questionou o jogador sobre a tatuagem. Na época, a versão dela era que ele estava no banheiro, sentado no vaso sanitário, e ela entrou e se lançou sobre ele. Por isso, o magistrado quis saber para onde ele a levava e como era possível a vítima detalhar sua tatuagem de meia-lua se não havia se levantado e, portanto, estava coberta pela camisa.
O jogador rectificou e depois admitiu que se levantou quando ela entrou e por isso pôde ver a tatuagem que normalmente fica coberta pela roupa, já que desce desde o abdómen até à zona genital. Mais tarde, nessa mesma declaração, o jogador acabaria por dizer que as relações eram consensuais. Essas três mudanças de versão durante seu depoimento foram justamente um dos argumentos pelos quais foi decretada a prisão preventiva.
Câmeras de segurança encurralam Daniel Alves
Por isso, a família de Alves quer que ele troque de advogado e volte a depor, pedido ao qual o jogador resiste, que confia no atual advogado. Sua defesa trabalha para apresentar o recurso contra a ordem de prisão (o prazo termina nesta quarta-feira, 25/1). Solicitam que a gravosa medida de prisão seja alterada por outra como proibição de sair do território nacional, levantamento de passaporte ou caução, que poderá ser elevada devido ao poder de compra do jogador, apesar de no seu depoimento ter confundido o dinheiro que ganhou com o Pumas no México antes do término de seu contrato.
TRANSFERÊNCIA PARA OUTRA CADEIA
O juiz perguntou quanto ele ganhava e ele disse 30 mil euros por mês. O magistrado corrigiu-o, visto que tinha contrato, e respondeu que eram 300 mil euros por mês. Seus advogados poderiam apresentar o recurso a uma instância superior, como o Tribunal de Barcelona, levando em conta que o tribunal de instrução provavelmente não mudará de opinião a partir de sexta-feira e manterá a prisão preventiva.
Alves foi transferido esta segunda-feira (23/1) para outro estabelecimento prisional e vai-lhe ser atribuído um módulo de baixa periculosidade, bem como companheiro de cela para melhor adaptação à prisão. Ele ainda está abatido, mas seu ânimo melhorou segundo fontes do presídio, e agora ele vai se adaptar a um módulo menor do Brians 2, com outros presos acusados de agressões sexuais, garantindo assim segurança e convivência diante da alteração que tem um celebridade em um estabelecimento penal.
UMA ALEGAÇÃO SÓLIDA
A Justiça determinou prisão preventiva não só pelo risco de fuga, já que Alves tem grande poder aquisitivo, o que facilitaria sua fuga para o Brasil, país com o qual não há tratado de extradição, mas também pelas inúmeras denúncias contra o jogador. A versão da vítima contrasta com as mudanças no depoimento do brasileiro enquanto os Mossos d’Esquadra analisam os restos biológicos que permaneceram na mulher e no vestido que ela usava, que são apresentados como prova no processo. As câmeras de segurança também mostram como Alves “começou a brincar com todos nós”, explicou a vítima à polícia, referindo-se a ela e seus amigos.
(publicação do jornal El Mundo, de Madrid).
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