Rafaela Silva é a tradução perfeita da superação que o esporte ensina. De vilã e discriminada com insultos racistas na Olimpíada de Londres em 2012, a judoca coloca o País aos seus pés ao conquistar a primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos do Rio. Este é o momento de reflexão, de entender como uma menina nascida e criada na Cidade de Deus, no subúrbio miserável carioca, consegue subir tantos degraus da vida até alcançar o lugar mais alto do pódio olímpico. É para poucos. Respeito.
Para quem não se lembra, na sua estreia em uma Olimpíada, Rafaela sofreu horrores vítima de insultos racistas ao ser desclassificada por um golpe ilegal – uma catada de perna sobre a húngara Hedvig Karakas – nos Jogos de Londres em 2012.
Por meio do Twitter, Rafaela foi chamada de “macaca”. Sua reação foi na base de palavrões e xingamentos. “Vai se f… filho da p… Perdi, sim, sou humana como todos. Errei e sei que tenho capacidade de chegar e conquistar uma vaga para 2016”, disse Rafaela na época. “Você já não tem o que fazer e fica falando merda por aí. Tenha capacidade, conquiste uma vaga nas Olimpíadas e depois a gente conversa.”
Mais tarde, a judoca se desculpou pelos xingamentos ao Comitê Olímpico Brasileiro. E foi à luta em busca do tempo perdido, de correção de rota, e de um novo rumo na sua carreira, na sua vida.
“Treinei muito depois de Londres porque não queria repetir o sofrimento. Depois da minha derrota, muita gente me criticou, disse que eu era uma vergonha para minha família, para meu país. E agora sou campeã olímpica”, disse Rafaela depois da luta ao conquistar o ouro na Olimpíada do Rio.
“Em 2014 eu estava desacreditada, mas agora eu vim e treinei o máximo que eu podia e meu resultado veio através dos meus treinamentos. O ginásio chegava a tremer e eu consegui contribuir. O macaco que deveria estar na jaula em 2012, hoje é campeã olímpica.”
Palavras de Rafaela Silva, que não se perca pelo nome, pela origem.
(Rafaela chora no pódio no Rio; vista panorâmica da Cidade de Deus; e cena do filme que narra a saga da comunidade abandonada a sua própria sorte).
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