Conheça Vitinho, novo lançamento da base do Palmeiras

vitinho-chapecoense-palmeiras-amistoso-21012017_hzv2jt2bgr4s1j4zfk52hid63-1

Alexandre Mattos estava empolgado na noite de 21 de junho de 2016 no Allianz Parque. Ao lado de Raúl Sanllehí, diretor do Barcelona, em um dos camarotes da arena, o executivo do Palmeiras deitava falação e elogios aos jogadores do clube paulista. Lá embaixo, no campo, Gabriel Jesus, com extrema colaboração de Roger Guedes, destruía o América-MG com dois gols ainda no primeiro tempo. Sanllehí estava de olho em Jesus, objeto do desejo do Barça. Mattos pensava mais longe. Já dava como certa a venda do prodígio. Queria chamar atenção do espanhol para outro diamante. “Raúl, Raúl, você precisa ver nossos meninos, nossa La Masia (referência às categorias de base do Barcelona), você precisa ver o Vitinho, vai ser a nossa próxima joia”. Sanllehí se deliciava com Jesus e se mostrava impressionado com Roger Guedes. “Quem é esse louro? Ele está pronto para jogar na Europa”.

O diretor do Barça não deve ter prestado muita atenção nas palavras de Alexandre Mattos. Nem deve ter anotado na sua caderneta o nome de Vitinho. O garoto havia sido promovido da base ao time de cima pelas mãos de Cuca. O treinador tinha conhecimento do bom desempenho daquele meia-esquerda franzino na Copa São Paulo de Juniores e em um torneio sub-17 conquistado pelo Palmeiras na Suíça. E mais ainda: em torneios e amistosos da Seleção Brasileira de garotos.

Para puxar Vitinho da base, Cuca havia feito alguns ajustes no grupo de profissionais, como mandar o meia Robinho para o Cruzeiro, em março de 2016. Uma tacada muito criticada na época. A resposta do treinador foi dura.

“O Vitinho é um meia! Se a gente fica com todos os meias com a mesma característica, você não usa o Vitinho. ‘Como o Cuca libera o Robinho?’ Tem um menino que está brotando, a gente está vendo, vai ceder espaço a ele. Ninguém aqui está fazendo nada à la louca, as coisas são planejadas”, disse Cuca.

vitinhiCom tamanho respaldo do chefe, cabia ao menino encarar o desafio e encaminhar seu futuro. Era hora de escrever o primeiro capítulo da sua história que começa no bairro Cohab de Taipas, distrito de Jaguará, Zona Norte da capital paulista. Nessa beirada da metrópole, onde a renda média dos moradores alcança R$ 877,50 por mês, Vitinho aprendeu a jogar futebol. Batia sua bolinha em uma acanhada quadra ao lado de sua casa.

“Era uma brincadeira. Nunca levei muito a sério, só jogava porque gostava, nem sabia que tinha futebol profissional. Foi uma coisa que aconteceu conforme o tempo. De vez em quando ainda vou na quadrinha, dou uma brincada para relembrar os velhos momentos. Eu era o mais novo, meus amigos são mais velhos que eu e estou sempre aprendendo muito com eles, foram eles que me ensinaram a jogar”, contou Vitinho, em entrevista ao Lance!.

Meteram na cabeça do menino que ele tinha jeito para coisa. Deveria tentar a sorte no futebol. Convencido de que poderia mesmo seguir carreira, Victor Hugo Santana Carvalho partiu em busca de seu lugar no futebol. Aos 11 anos havia trocado a quadrinha perto de casa para jogar no campo grande  do TC Liderança, escolinha de futebol em Pirituba não muito distante de Taipas.

Informado a respeito de que o Palmeiras realizaria seletivas com garotos em Guarulhos, onde se localiza o CT das categorias de base do clube, o moleque se inscreveu para um teste.

SÃO PAULO, SP - 30.05.2016: TREINO DO PALMEIRAS - O jogador Vitinho, da SE Palmeiras, durante treinamento, na Academia de Futebol, no bairro da Barra Funda. (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)Com dificuldade para vencer a distância entre Cohab de Taipas e Guarulhos, Vitinho tomou alguns ônibus até desembarcar no campo de avaliações do Palmeiras.

“Cheguei atrasado no treino porque não tinha ninguém para me levar e fui de ônibus, sozinho. Cheguei lá atrasado, coloquei uma chuteira e fui para o campo, os moleques já estavam jogando. Nem aqueci, nem alonguei, nem nada. Joguei bem, graças a Deus. Foi na famosa peneira. Assinei um papel e fui selecionado. Fui direto para Guarulhos, no CT da base, cheguei, treinei um dia e já me aprovaram.”

Ao lado de outros meninos, Vitinho não esmoreceu. Sabia que para vencer teria de lutar muito e não desistir nunca.

“A maioria das vezes eu ia de ônibus. Saía de casa, pegava um ou dois ônibus… Acho que foi uma vida muito sofrida, mas tenho muito prazer de estar vivendo isso. Só quem sabe o que passou pode ter história para contar. O pai do meu amigo Augusto, que hoje está aqui junto comigo (entre os profissionais), às vezes me levava para o treino”.

Taipas ficou para trás. Chegou ao Palmeiras em 2011. E,  promovido ao time de cima em 2016, foi alojado em um apartamento perto da Academia de Futebol do Palmeiras na Barra Funda. E mais do que depressa, o clube renovou seu contrato até 2021, com multa rescisória estimada em R$ 100 milhões. A estrada estava pavimentada.

Quando Cuca resolveu ir embora, após a conquista do Brasileirão, Vitinho imaginou que viveria entre a base e o time de cima. Em uma emergência, voltaria às divisões de baixo para dar força e talento ao time dos meninos, como havia feito na temporada passada.

O garoto se enganou. Eduardo Baptista, o novo chefe, queria Vitinho por perto e pediu aos dirigentes que não o inscrevesse na Copa São Paulo de Juniores de 2017. Veja o Baptista disse do jogador:

“O Vitinho é um jogador que já vi jogar ano passado, quando estava na Ponte Preta. Ele foi fazer uma Copa do Brasil (Sub-17), em Campinas. Ele já tinha arrebentado o jogo. Foi 3 a 0. Ali ele já me chamou atenção e quando eu vim para cá  (no Palmeiras) eu já quis saber a onde estava aquele menino. Queria ele aqui.”

Baptista anda entusiasmado com o garoto. Desde sábado, quando Vitinho fez aquele golaço no amistoso contra a Chapecoense, tem repetido elogios ao futebol do meia-esquerda de 18 anos. Dirigentes do Palmeiras também falam de boca cheia do menino. Diferente do que aconteceu com Gabriel Jesus, quando clube ficou apenas com 30% dos direitos econômicos do jogador, o Palmeiras tem 100% dos direitos de Vitinho.

De estilo atrevido,o meia ainda franzino, embora tenha engordado 8 quilos por causa de um tratamento dos nutricionistas do Palmeiras, gosta de dar passes rápidos, de primeira, não tem medo de partir para cima quando sai em direção ao ataque. Tem bom drible e tem prazer de arrematar de longa distância. Bate faltas colocadas e também mete o pé quando necessário. É uma promessa.

Não será surpresa se em breve os grandes conglomerados do futebol europeu desembarcarem no Brail atrás do moleque. Raúl Sanllehí, aquele diretor do Barcelona que havia sido alertado por Alexandre Mattos, não deve ter atentado a um detalhe. Naquela noite de 21 de junho em que esteve no Allianz para ver Gabriel Jesus, Vitinho, aos 17 anos, fez sua estreia no profissional do Palmeiras. Entrou aos 32 minutos do segundo tempo no lugar de Cleiton Xavier. Seu nome foi gritado pela torcida. E deve ser repetido nesta temporada. Palmeirenses ainda não acordaram do sonho com Gabriel Jesus e já têm outro motivo para sonhar.

(publicado no CHUTEIRA FC – veja o site no: http://www.chuteirafc.com.br)