Mundial de Clubes não precisa de chancela da Fifa

Quando Raí destruiu o Barcelona em 1992, Zico esfarelou o Liverpool em  1981 e Renato Gaúcho pulverizou o Hamburgo em 1983, e tantos outros chamados de heróis levaram seus times ao título, nenhum torcedor em nenhum canto do planeta estava preocupado se a Fifa reconheceria aquela façanha de campeão do Mundial de Clubes. Vencedores celebravam a conquista, perdedores choravam a derrota. Sul-americanos e europeus, não importa aqui a ordem. Eram sim senhores os campeões do mundo, mesmo que a taça não tivesse o timbre da Fifa, muito menos se o papel frio dos documentos não atestasse a idoneidade do jogo entre clubes da América e da Europa. Ninguém dava a mínima para a Fifa.

Se vasculhar a história você vai ver que o Mundial de Clubes era mesmo histórico. Um desafio forjado por patrocinadores e chancelado pelas confederações dos dois continentes. Num tempo mais romântico havia jogo de ida e jogo de volta. Uma partida em estádio sul-americano e outra em solo europeu.

7e44341235b7c40f64de7bef1f333eb8Tempos em que o Ajax do gênio Cruyff se recusou a enfrentar os argentinos na casa deles em repulsa ao que os holandeses atribuíam o jogo violento dos portenhos. Tempos em que o gigante Bayern de Munique, com Franz Beckenbauer a tira-colo, recebeu o Cruzeiro na gelada Alemanha e atravessou o Atlântico para medir forças com o time mineiro na tórrida Belo Horizonte de outrora. Bayern e Cruzeiro com todos seus craques em campo, sem distinção.

Passado período da inocência ou do amor ao futebol, o Mundial de Clubes ganhou sede fixa quando as empresas japonesas, de olho no mercado sul-americano e em busca de fatias na Europa, resolveram torrar dinheiro na organização do evento. Acabavam os jogos de ida e volta. O campeão do mundo seria aferido em partida única. Torcedores inebriados com seus times campeões da Copa Libertadores se derramavam em júbilo com o jargão “rumo a Tóquio”. As pelejas se transformaram em verdadeiras epopéias.

gremio-time-poster-mundialRepórter do Jornal da Tarde, tive o privilégio de cobrir a primeira conquista do São Paulo em 1992 diante do Barcelona, quando o Mundial era conhecido por Copa Toyota – evidente aí as imposições dos patrocinadores. Capitaneado por Raí e dirigido por Telê Santana, o São Paulo derrotou o poderosíssimo Barcelona de Johan Cruyff, com Guardiola e tudo.

Vi, ninguém me contou, o quanto Cruyff amargou aquela derrota. Quebrava o paradigma de que europeus não davam a mínima importância ao Mundial de Clubes, outra balela generalizada quando são eles os derrotados.

Se a memória não falha, o conglomerado de dirigentes da Fifa participou do cerimonial de entrega da taça a Raí.

A história se repetiu ano após ano, sempre com as decisões do título no mês de dezembro, até que um dia a Fifa resolveu ela tomar as rédeas do evento, claro, de olho na grana que poderia faturar. Em 2000, em caráter experimental, organizou o torneio no Brasil com a participação de campeões de outros continentes – Corinthians se consagrou campeão. A partir dali, a Fifa deu as cartas e só reconhece os campeões de 2005 para frente.

Acabou com a graça de que só sul-americanos e europeus poderiam disputar o Mundial. Até aí, nada de errado, e até muito democrático.

0027O problema, diria a bobagem, é essa entidade moralmente falida querer agora dar novas cores e chancela ao Mundial de Clubes determinando que os campeões do mundo contam apenas a partir de 2000 quando ela assumiu o evento.

Jogou fora, na lata do lixo, memoráveis embates do Santos de Pelé contra Benfica e Milan nos anos 60, entre tantos outros jogos inesquecíveis e históricos. Zico, Renato Gaúcho… sem falar em ícones do futebol europeu que ficariam no meio do caminho. Voltou atrás também ao dar o Palmeiras o título de campeão mundial de 1951 quando o Palestra fez história em torneio disputado no Brasil com grandes forças da Europa.

Tamanha insanidade da Fifa não merece ser levada a sério. É de uma inutilidade ímpar. Campeões de antes de 2000 podem ficar sossegados. Seus feitos são imortais aos olhos dos torcedores. E isso basta. Não vai ser uma turma de terno e gravata e analistas de ocasião a apagar essa história com a tinta de suas canetas manchadas de corrupção.

O futebol vive por si só, não precisa de decretos para conquistar o coração e alma de sua gente.

(este texto acima é uma publicação do CHUTEIRA FC

Veja a lista dos campeões e vice do Mundial de Clubes:

Ano Campeão Placar Vice-Campeão País Campeão Vice
2016 Real Madrid 4×2 (pro) Kashima Anthlers Espanha Japão
2015 Barcelona 3×0 River Plate Espanha Argentina
2014 Real Madrid 2×0 San Lorenzo Espanha Argentina
2013 Bayern 2×0 Raja Casablanca Alemanha Marrocos
2012 Corinthians 1×0 Chelsea Brasil Inglaterra
2011 Barcelona 4×0 Santos Espanha Brasil
2010 Internazionale 3×0 Mazembe Itália Congo
2009 Barcelona 2×1 (pro) Estudiantes Espanha Argentina
2008 Manchester United 1×0 LDU Quito Inglaterra Equador
2007 Milan 4×2 Boca Juniors Itália Argentina
2006 Internacional 1×0 Barcelona Brasil Espanha
2005 São Paulo 1×0 Liverpool Brasil Inglaterra
2004 FC Porto 0x0 (8×7 pen) Once Caldas Portugal Colômbia
2003 Boca Juniors 1×1 (3×1 pen) Milan Argentina Itália
2002 Real Madrid 2×0 Olimpia Espanha Paraguai
2001 Bayern de Munique 1×0 Boca Juniors Alemanha Argentina
2000 Corinthians 0x0 (4×3 pen) Vasco da Gama Brasil Brasil
2000 Boca Juniors 2×1 Real Madrid Argentina Espanha
1999 Manchester United 1×0 Palmeiras Inglaterra Brasil
1998 Real Madrid 2×1 Vasco da Gama Espanha Brasil
1997 Borussia Dortmund 2×0 Cruzeiro Alemanha Brasil
1996 Juventus 1×0 River Plate Itália Argentina
1995 Ajax 0x0 (4 x3 pen) Grêmio Holanda Brasil
1994 Vélez Sársfield 2×0 Milan Argentina Itália
1993 São Paulo 3×2 Milan Brasil Itália
1992 São Paulo 2×1 Barcelona Brasil Espanha
1991 Estrela Vermelha 3×0 Colo-Colo Iugoslávia (Sérvia) Chile
1990 Milan 3×0 Olimpia Itália Paraguai
1989 Milan 1×0 Atlético Nacional Itália Colômbia
1988 Nacional 2×2 (7×6 pen) PSV Uruguai Holanda
1987 Porto 2×1 (pro) Peñarol Portugal Uruguai
1986 River Plate 1×0 Steaua Bucareste Argentina Romênia
1985 Juventus 2×2 (4×2 pen) Argentinos Juniors Itália Argentina
1984 Independiente 1×0 Liverpool Argentina Inglaterra
1983 Grêmio 2×1 (pro) Hamburgo Brasil Alemanha
1982 Peñarol 2×0 Aston Villa Uruguai Inglaterra
1981 Flamengo 3×0 Liverpool Brasil Inglaterra
1980 Nacional 1×0 Nottingham Forest Uruguai Inglaterra
1979 Olímpia 1×0 e 2×1 Malmö Paraguai Suécia
1978 Não houve disputa
1977 Boca Juniors 2×2 e 3×0 Borussia M’gladbach Argentina Alemanha
1976 Bayern de Munique 2×0 e 0x0 Cruzeiro Alemanha Brasil
1975 Não houve disputa
1974 Atlético de Madrid 0x1 e 2×0 Independiente Espanha Argentina
1973 Independiente 1×0 Juventus Argentina Itália
1972 Ajax 1×1 e 3×0 Independiente Holanda Argentina
1971 Nacional 1×1 e 2×1 Panathinaikos Uruguai Grécia
1970 Feyenoord 2×2 e 1×0 Estudiantes Holanda Argentina
1969 Milan 3×0 e 1×2 Estudiantes Itália Argentina
1968 Estudiantes 1×0 e 1×1 Manchester United Argentina Inglaterra
1967 Racing 0x1, 2×1 e 1×0 Celtic Argentina Escócia
1966 Peñarol 2×0 e 2×0 Real Madrid Uruguai Espanha
1965 Internazionale 3×0 e 0x0 Independiente Itália Argentina
1964 Internazionale 0x1, 2×0 e 1×0 Independiente Itália Argentina
1963 Santos 2×4, 4×2 e 1×0 Milan Brasil Itália
1962 Santos 3×2 e 5×2 Benfica Brasil Portugal
1961 Peñarol 0x1, 5×0 e 2×1 Benfica Uruguai Portugal
1960 Real Madrid 0x0 e 5×1 Peñarol Espanha Uruguai

Fontes: FutDados e Fifa
reconhecidos pela Fifa

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