Pep Guardiola não perdoa os que um dia o humilharam. Desde os 4 a 0 do seu ex-Barcelona em cima do agora seu Manchester City no Camp Nou, não havia meio de tirar o espinho da garganta. Digerir aquela goleada era uma obrigação. Alguns tropeços em casa em competições domésticas não demoviam a certeza de que o troco na Liga dos Campeões seria dado. Então o Barça chegou altivo contra o City em Manchester. Abriu a contagem com belo gol de Messi em contra-ataque à perfeição. E nada mais fez. Quando o juiz encerrou o jogo, Guardiola sorriu. Estava lá no placar: City 3 a 1, com autoridade.
Enquadrar o Barcelona era questão de honra. Nascido e criado no Camp Nou, Pep sabia que no templo espanhol é quase impossível mudar o curso do rio. Não há como minar aquele time, desintegrar Messi e pulverizar Neymar e Suárez. No território deles, costumam ser implacáveis. Guardiola, com outras palavras, deu essa letra ao ser goleado por 4 a 0.
Sem prometer uma vingança no jogo da volta em Manchester, ele repetiu muitas vezes que preferia perder mais jogos a mudar seu estilo de dourar um time, no caso o City. E aguardou o dia de encarar de novo o Barcelona. A hora chegou nesta terça-feira (01/11).
Começa o jogo, o City vem para cima na tentativa de ferir o controle emocional do time espanhol. Não aconteceu. De uma bola roubada na sua área no ataque da esquadra inglesa, Messi esticou a Neymar. Correu até a grande área do campo inimigo e recebeu de volta a bola açucarada de Neymar. Era tocar com maestria e pronto. Barcelona 1 a 0, aos 21.
Este gol quebrou a espinha do time de Guardiola. O Barça tomou conta e gols perdidos se multiplicaram. Teimoso e coerente com suas ideias, o técnico insistiu para que se pressionasse a saída de bola do adversário. Deu certo. De uma pixotada de Sergi Roberto se permitiu a trama entre Aguero e Sterling até o gol de empate de Gundogan, aos 39.
Na volta do intervalo do segundo tempo, City entrou para não deixar o Barça respirar. Em cobrança perfeita de falta, De Bruyne decretou a virada, logo aos seis minutos. O caminho era em cima de Sergi Roberto, que cometia erros absurdos e provocava saudades de Daniel Alves na torcida do time espanhol.
Aos 29, de tanto amassar a defesa inimiga nasceu o terceiro e definitivo gol do City. Outra vez com Gundogan. Messi, encaixotado, Neymar amarrado no setor esquerdo e Suárez, preso entre os zagueiros, não encontraram solução para o Barça buscar pelo menos o empate. Se rendiam à estratégia do ex-treinador.
Guardiola enquadrava assim o Barcelona. Não abriu mão de seus princípios. Correu riscos como nunca ao levar o gol de Messi e não deixou nunca de ir para cima apertar a confusa defesa do time espanhol. Reverteu a goleada. Sorriu ao apito final. E mandou um recado aos céticos: eu estou aqui, no City.