Palmeiras nove vezes campeão do Brasil. A consagração começou em maio, quando venceu o Atlético-PR por 4 a 0 na estreia, e acabou neste domingo (27/11) ao derrotar a Chapecoense por 1 a 0 no Allianz Parque. Uma conquista irreparável, repleta de heróis improváveis como Jailson, uma comunhão inesquecível com sua torcida, dramas como de Prass, um craque precoce do quilate de Gabriel Jesus, a mão de Cuca e o palmeirense comum contagiado de alegria com um título distante há 22 anos.
Todos esses ingredientes estavam presente na arena e ao seu redor no jogo que marcou a conquista definitiva e a celebração da nona taça, que tomou conta da cidade noite afora.
Ansiedade do Palmeiras acabou aos 26 minutos do primeiro tempo, quando Fabiano, daqueles personagens inesperados, fez um belo gol na sequência de uma cobrança ensaiada de falta. Até ali, o jogo era de muita luta, amarrado por parte da Chapecoense e um certo nervosismo por parte dos jogadores de Cuca.
Depois do gol, a partida mudou de rumo. Palmeiras encurralou a Chapecoense. Uma chance atrás de outra, Gabriel Jesus em busca da consagração definitiva e atmosfera de campeão tomando conta do Allianz Parque e arredores. Cânticos e lágrimas, terços apertados nas mãos, focinhos de porco cobrindo rostos. A multidão na arena em êxtase. Ao redor do Allianz, a fumaça das bombas da PM, uma imbecilidade, sufocava a festa nas ruas e bares.
Primeiro tempo acabou com Jesus perdendo gol feito ao receber passe com efeito de Moisés. O garoto fenômeno do Palestra se despedia de sua gente e, no íntimo, queria deixar uma bela recordação. Ao não fazer o gol – Danilo impediu -, o menino de 19 anos olhou ao céu e perguntou: por quê?
O segundo tempo começou com o Palmeiras em cima, esforço dobrado em busca do segundo e redentor gol do título. Pressionou de forma intensa por 15 minutos. Como não conseguiu passou a se impor por hierarquia.
Era o momento de jogadores de autoridade e respeito. Zé Roberto a tradução perfeita. Um menino de 42 anos. Moisés, outro de alto quilate. Fincou seu império no meio-campo e não permitiu ação dos vassalos. Sabia do apoio massivo das arquibancadas, inebriada e na contagem regressiva para soltar o grito de campeão. Cantos em louvor ao time e ao clube ganhavam intensidade na arena.
A partir dos 36 minutos, não teve jeito. “É campeão, é campeão” se espalhou no Allianz. Em seguida, o hino do Palmeiras ecoou no estádio em rito, lágrimas e júbilo. No campo, jogadores mantinham a guarda como guardiões da conquista que há 22 anos não vinha.
Ainda deu tempo para homenagem a Fernando Prass, que havia deixado o time machucado na seleção olímpica. Ele entrou no lugar de Jailson, um dos maiores dessa história do nono título. De terceiro goleiro a um dos heróis. Um dia, ainda menino, disse a sua avó: “Eu vou ser jogador do Palmeiras”. Realizou o sonho aos 35 anos. Sua avó o viu campeão.
Prass entrou. Fez uma defesa. A festa estava completa. Faltava o apito final. Quando Daronco encerrou o jogo, cada um correu para um lado. Um banho de lágrimas inundou o Allianz Parque, o novo Palestra Itália.
Gabriel Jesus, o diamante, mergulhou no choro profundo. Se despedia de sua gente, e campeão. Em dois anos no time profissional, conquistou a Copa do Brasil (2015), o Brasileiro (2016), a medalha de ouro inédita na Olimpíada do Rio e virou titular da Seleção, aos 19 anos, com cinco gols em seis jogos. Um fenômeno.
Ao se despedir da torcida, disse assim:
“Nunca se esqueçam de mim, eu nunca vou esquecer de vocês
Cuca também queria festejar. Correu ao vestiário, vestiu a camisa 8, número que usava quando jogou no Palmeiras em 1992. E fez o gesto de vestir a faixa de campeão, como fazia naquele época mesmo sem ter levantado uma taça.
Então a cerimônia da entrega da taça contagiou a arena. Palmeiras, 77 pontos, 23 vitórias em 37 jogos – sete pontos a mais que o vice Flamengo, aquele do cheirinho do hepta. “Bate no peito do amigo e diz assim: o Palmeiras é grande“, palavras de Zé Roberto.
O gigante está de pé. O maior campeão do Brasil voltou.
FICHA DO JOGO
Palmeiras 1 x 0 Chapecoense
Gol: Fabiano, aos 26 minutos do primeiro tempo
Palmeiras: Jailson (Fernando Prass), Fabiano (Gabriel), Edu Dracena, Vitor Hugo e Zé Roberto; Jean, Tchê Tchê (Thiago Santos) e Moisés; Roger Guedes, Gabriel Jesus e Dudu. Técnico: Cuca
Chapecoense: Danilo, Gimenez, Marcelo, Filipe Machado e Rsuchel; Matheus Biteco, Sergio Manoel e Cleber Santana (Gil) ; Thiaguinho (Airton Canela), Bruno Rangel (Kempes) e Lucas Gomes. Técnico: Caio Júnior
Juiz: Anderson Daronco
Cartões amarelos: Bruno Rangel, Marcelo, Fabiano
Renda: R$ 4.171.317,26
Público: 40.986 pagantes
Local: Allianz Parque
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