CBF projeta reinventar Seleção tendo como ponto de partida o jeito, a escola, do mais puro futebol brasileiro. Vai ficar a ver navios. A Seleção nunca mais será Brasileira.
Como resgatar a essência do futebol brasileiro se a preferência da CBF é por um técnico estrangeiro, no caso o italiano Carlo Ancelotti?
Mesmo com um técnico brasileiro não será fácil quando se tem a maioria de jogadores selecionáveis formados na Europa. Maioria deles com a cabeça programada a se comportar como um europeu. Com ou sem a bola.
Nem mesmo a camisa amarela, consagrada no mundo todo com as cinco estrelas, pertence à Seleção. Apoderada pela extrema direita, “amarelinha” serve mais a interesses fascistas à união e orgulho do chamado povo brasileiro.
Empatia quase zero com a torcida nacional. Verdade que os “amarelos” não torcem pela Seleção. Que inveja dos argentinos!
No campo de jogo, aquele modelo ofensivo, dos dribles e da arte, patente registrada nos escretes da Copa do Mundo de 1970 (Pelé e Cia), 1982 (Zico, Sócrates, Falcão) e até 2002 (Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho) não cabem nas planilhas de um técnico europeu e também de muitos treinadores brasileiros.
Engana-se quem aposta na proposta do bem-intencionado Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF eleito em 2022, de resgatar nossas origens na Seleção.

Ednaldo tem esse sonho, como repete em suas recentes manifestações e entrevistas desde a queda de Tite, após fiasco definitivo na Copa Qatar 2022.
Vai ficar sonhando. Não há como pensar no resgate do autêntico futebol brasileiro se o novo comandante da Seleção for um estrangeiro, por mais talentoso que seja.
Carlo Ancelotti, italiano multicampeão por grandes clubes na Europa, é o preferido da CBF.
O que pode acrescentar Ancelotti à Seleção? Nada, a não ser os dogmas que regem um bem organizado time europeu.
Real Madrid de Ancelotti é um bom exemplo. Organizado, estruturado a não desistir nunca do jogo, de explorar bem talento de Vini Jr e Benzema, sistema defensivo sólido e vitórias a muito suor e fogo. Nada artístico.
Ancelotti não vai garimpar jogadores de clubes brasileiros na hora de compor a nova Seleção. Vai apostar, como a maioria dos últimos técnicos da Seleção, nos que atuam na elite do futebol europeu.
Vanderlei Luxemburgo, técnico da Seleção entre 1998 e 2000 e um dos mais vitoriosos dirigindo clubes nacionais, sentencia:
“Nada contra técnicos estrangeiros. Eu já fui estrangeiro (em 2005, comandando Real Madrid). São bem-vindos. Nem na Seleção sou contra estrangeiros. Mas que fique claro, seja qual for, Ancelotti, Guardiola, Mourinho, nenhum deles conhece nossa cultura, a essência do futebol brasileiro. Sem conhecer nossa cultura, não vão fazer a Seleção jogar o nosso futebol. Se querem um técnico europeu, e nossos jogadores formados na Europa, então tudo bem. Que a Seleção jogue como um time europeu.”
Tem razão Luxemburgo.
A Seleção Brasileira acabou. Já não tinha mais poder sobre a camisa amarela e agora terá um maestro da Europa a reger uma orquestra afinada com os acordes de sinfonias do Velho Continente.
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